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Construindo o acordo Sykes-Picot: uma ánalise de cartas trocadas entre…

- - - - Conforme Pinto ((2015, 2016, p. 84): No início da I Guerra Mundial, a França e a Grã-Bretanha, na procura de aliados contra o eixo turco-germânico, encorajaram a causa do nacionalismo árabe sob a liderança do xerife hashemita de Meca, Hussein ibn Ali. Como guardião das cidades santas de Meca e Medina e descendente de Maomé, desfrutava de grande influência no mundo árabe [...] Tal (união) aconteceu depois de os britânicos lhe terem oferecido uma garantia condicional de independência dos territórios árabes após a guerra.
        
        Referencial teórico: Fromkin (2011), Saraiva (2006), Demant (2006), Murphy (2008), Feldberg (2006), Portugal (2018), Linhares (1982), Vicenzi (2006), Vizentini (1996), Souza (2022), Sochaczewski (2014), Clark (2012), Calvocoressi (2014).
        
        A pesquisa possibilita um alargamento da compreensão dos processos históricos apoiado em uma fonte primária: as correspondências. Essa forma de observação e investigação se faz necessária também na tentativa de responder embaraços históricos que se mantem vivos até a história do tempo presente.
- - - - o que antes incomodava a Grã-Bretanha era uma ameaça russa, agora seria o Império Alemão e sua ascensão econômica após a criação do estado em 18 de janeiro de 1871, carregando consigo uma parceria com os otomanos.
        
        Formação da Itália (1870) e Alemanha (1871): fim do “concerto europeu” e da Pax Britannica.
        
        Com isso, um sistema de alianças permanentes nasce junto com o crescimento da corrida armamentista, criando os dois blocos conhecidos como Tríplice Aliança (Alemanha, Austria-Hungria e Itália) e Tríplice Entente (Grã-Bretanha, França e Rússia).
        
        Convenção Anglo-Russa de 1907 firmou acordos entre as duas potências, dando fim ao Grande Jogo.
        
        1915-1916: troca de correspondências Hussein-McMahon para tratar sobre a possível Revolta Árabe (que nasceu em 1916) com o apoio britânico para garantir um estado nacional árabe.
        
        No mesmo período em que a Revolta Árabe era discutida, um outro acordo era preparado às cegas. O acordo Sykes-Picot foi uma série de termos entre a Grã-Bretanha, Itália e Rússia para dividir territorialmente o Oriente Médio entre as três potências. Esse acordo garantia o oposto ao que foi proposto pelos ingleses aos árabes.
  - - - A recém unificada Alemanha com um crescimento econômico constante, estava ao lado dos otomanos, que não conseguiam mais manter um Império que se equivalesse nas relações de poder europeu.
        
        Plano do kaiser Guilerme II: a linha ferroviária que originaria o expresso Berlim-Bagdá, uma ferrovia que liga os dois territórios de influência, passando pelos Bálcãs, Anatólia, Iraque, e terminando, de fato, em Basra. Com essa ligação férrea, a Alemanha teria uma ligação no Golfo Pérsico e no Mar do Norte, enquanto os turcos teriam uma nova alternativa de passagem para peregrinação entre Medina e Meca, cidades sagradas no Islã.
        
        O plano da Alemanha em ser, ao invés de destrutivo, patrocinador de projetos no território do Oriente Médio, excluiu qualquer chance de uma possível aliança entre turcos e britânicos, como apresenta Quataert (2008, p. 62-63), e pela lógica dos otomanos, não seria mais possível manter neutralidade uma vez que entrasse no quadro de oposição da Grã-Bretanha.
  - - - Segundo Vicenzi (2006, p. 59), que o relacionamento entre os árabes súditos e o Império Otomano já vinha se desgastando desde o século XVI, quando já no século anterior o avanço dos europeus para os territórios orientais mostrava traços de fragilidade no império. Até o século XVII, período quando o Império Otomano entra em sua fase de declínio, a relação entre dominador e dominado possuí caráter pacífico (Vicenzi, 2006, p. 60).
        
        O desequilíbrio de poderes entre os países europeus e o Império Otomano, de forma direta, também trazia falta de controle entre o poder central e as tribos árabes. A ausência de uma dominação homogênea entre as províncias fez com que o lado mais enfraquecido, nos primeiros anos do século XX, fossem os otomanos (Vicenzi, 2006, p. 74), sendo a expressão de descontentamento maior com a Revolta Árabe (1916-1918), movimento que não representava de fato uma unidade árabe, mas que por meio dessa ação pode inocular ideias de sociedades árabes secretas.
- - - - As contradições entre acordos já começam a tomar rumos tortuosos quando já em 1915, ao mesmo tempo que era dito algo a Hussein, outras ações entre britânicos e franceses encaminhavam-se em segredo.
- - - - Foi apenas após a Revolução Russa de 1917 que o acordo fica conhecido de fato, quando os revolucionários russos fazem a abertura dos arquivos e encontram o tratado, que desde o início não tinha o objetivo de ser exposto para o mundo.
        
        As definições territoriais e de influência do acordo Sykes-Picot. A- influência francesa; B- influência inglesa.
        
        Conclusões: Conforme os objetivos da pesquisa, pode-se observar que as correspondências Hussein-McMahon foram, entre outras manobras, um dos principais recursos que possibilitou a construção do acordo Sykes-Picot. A Grã-Bretanha viu nos árabes uma forma para que o Império Otomano fosse enfraquecido, sem precisar envolver diretamente um número colossal de soldados ingleses. O acordo assinado em 1916 tomou como base o que era esperado através do que havia sido combinado entre as cartas, e estipulou que essa seria a melhor maneira de causar uma movimentação árabe ao favor do Império Britânico.
        
        A perspectiva de Hussein é de que haveriam 100 mil soldados árabes a disposição da revolta, e de que ainda outros 250 mil soldados turcos entrariam na causa árabe. Nada do que foi previsto pelo xerife em questão do número de soldados de fato aconteceu. O xerife, representado como o líder da revolta, na verdade lutava por causas individuais, que colocariam em risco o seu futuro como emir de Meca. Quando foi convencido a continuar as negociações com a Grã-Bretanha e apresentar os termos do Protocolo de Damasco, também via ali a possibilidade de sua ascensão política, que poderia colocá-lo como rei de um estado árabe independente.
        
        As mudanças territoriais de causadas pelo acordo Sykes-Picot continuam vívidas no território do Oriente Médio. A ação imperialista nas extensões orientais colocou a pauta nacionalista árabe em novo patamar. Com protetorados e áreas de influência dos governos inglês e francês, os diversos e heterogêneos grupos populacionais árabes reivindicam o processo de extração e exportação do petróleo pelos europeus, apesar da cultura de exploração ter sido normalizada.
        
        O Império Otomano, segundo Sochaczewski (2014, p. 235) ainda antes do fim da Primeira Guerra Mundial, assina o Armistício de Mondros em 31 de outubro de 1918 e deixa a cena da guerra, abrindo espaço para as equipes aliadas tomarem seu lugar. Em 1922, o cargo de sudão é derrubado, e com a vitória da Tríplice Entente na Primeira Guerra Mundial, o já enfraquecido Império Otomano se desintegra com o acordo de Sykes-Picot, dividindo as áreas remanescentes do que por muitos séculos abrigou os otomanos (Portugal, 2018, p. 17).