Prisão de amor: Cativo sou de cativa, como disse d. joão no vilancete a uma escrava sua, e camões repetiu ao falar daquela cativa que o tinha cativo. E com tanto cativeiro, somam-se no poema versos como grades, e agarram-se a eles os poetas, sacudindo-os, como se os versos se pudessem assim arrancar das estrofes. Talvez se os cortassem, lentamente, com as facas de abrir livros, ou se entrassem pelo túnel das rimas até ao ar puro do verso livre, encontrassem a liberdade. Porém, sem cativas que os cativem, e sem as grades do amor a servirem de versos, de que servem o triste desejo de d. joão, ou a pena amarga do camões, senão para se queixarem da cativa que recebeu os seus versos e neles os fechou, ganhando a liberdade que lhes roubou?