Danilo: Eu concordo na questãoda linguagem. O que nos leva a uma ruptura de representação estético-narrativa (do mundo e do homem) por parte do cinema moderno com relação ao cinema clássico. O cinema moderno passa a representar o mundo e o sujeito em suas crises variadas e complexas, em suas incapacidades, em suas falhas frente ao próprio sujeito, ao outro e aos vários contextos. O cinema clássico tendia a elogiar as certezas do homem por meio de seus protagonistas, mesmo no drama da vida/história. Com Kane, que transita bravamente entre clássico e moderno, surgem as incertezas modernas dos protagonistas, os anseios, dúvidas, falhas. O cinema moderno expõe assim a "crise do eu" ou a "crise do homem", mas também a "crise da verdade cinematográfica" ao destacar as imperfeições disso tudo. Interessa menos a verdade diegética estanque do filme clássico (e toda perfeição imersiva e naturalista dele) e mais o processo da busca de verdade no filme moderno. O cinema moderno questiona o que é verdade e o que é falso, como ambos se misturam e como o cinema mesmo pode se referir a isso em termos de estética, trama/narrativa e sujeito/personagem. Hitchcock, que transita entre clássico e moderno em alguns filmes, também trilha esse caminho em Janela Indiscreta e Vertigo - cujo protagonista é um coitado alheio a quase tudo à sua volta e que jura que está no comando da situação. Acho que é uma crise do "homem-verdade", das certezas e da representação tradicional aquilo que o cinema moderno sublinha.