NAO EDITADA Somália e a crise de 2022- "uma das crises humanitárias mais complexas e interligadas da História contemporânea"
Alterações Climáticas- UMA SECA SEM PRECEDENTES
A Somália registou em 2022 a maior seca das últimas quatro décadas, com 4 períodos de chuva totalmente secos.
Uma sociedade de pastores
Uma sociedade assente, essencialmente, no gado/ pastorícia, os somalis viram as suas pastagens e terrenos a serem completamente devastados pela seca.
Os agricultores viram as suas terras completamente inférteis, os pastores ou perderam os seus animais à morte ou foram obrigados a vendê-los por não terem mais pastagens para os alimentar.
O modo de vida de gerações de somalis fora destruído. Instala-se o desemprego coletivo.
"3 milhões de animais morreram na Somália, ou estão a ser vendidos" Um Tsunami de Fome, 2022
Em busca de uma vida melhor-PAÍS DE REFUGIADOS
Nota- algumas culturas agrícolas já haviam sido devastadas por uma praga de gafanhotos que veio do corno de África entre finais de 2019 e 2021
Fugindo à seca e procurando alimento ou pasto para o que resta dos seus animais, famílias inteiras caminham durante dias em busca de campos de Refugiados e de ajuda humanitária.
A CRISE DA FOME
Fora os milhares que morrem da desnutrição ou da doença e são enterrados pela família a meio da jornada.
"Mais de 1 milhão de pessoas foram deslocadas pela seca desde o início de janeiro de 2021" (dados de novembro de 2022, ACNUR, Um Tsunami da Fome. RTP)
À chegada dos campos, são deparados com milhares numa situação semelhante. Sem abrigo digno, sem alimento suficiente para dar resposta a tanta gente, , sem serviços de saúde suficientes, sem estruturas de saneamento básico eficientes (tanto para as pessoas como para os animais) as condições de higiene nestes campos são deploráveis.
PROPAGAÇÃO DE DOENÇAS
As fontes e poços secaram, na sua maioria, por uso excessivo, as poucas que restaram terão sido contaminadas pelas chuvas mais recentes por enxurradas de sedimentos.
Eram 4,5 milhões as pessoas que careciam de abastecimento de água de emergência de acordo com o documentário da RTP.
Sem colheitas, sem animais, sem emprego, os somalis viram-se completamente privados de alimento.
GUERRA NA UCRÂNIA
AJUDA INTERNACIONAL INSUFICIENTE
"Em algumas áreas em abril, a água e o preço de alguns alimentos subiram mais de 140% a 160% acima da média dos últimos 5 anos" Um Tsunami da Fome, RTP. De acordo com os relatos de uma local,
"90% do trigo da Somália era proveniente da Rússia e da Ucrânia." Um Tsunami da Fome, RTP.
Assim, estando já perante uma situação crítica de fome, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, iniciado em fevereiro do mesmo ano, veio a agravar ainda mais a vulnerabilidade deste país.
Com as suas terras devastadas, completamente secas e inférteis, o país via-se obrigado a importar os seus cereais quase na totalidade.
O pão, um alimento base da cozida somali, estava agora fora do acesso dos demais.
Foram aos milhares, se não milhões as mortes registadas nesta época. Ou à porta da tenda no campo de refugiados, ou a caminho dele, ou pelo caminho ao hospital em busca de tratamento, pessoas eram enterradas diariamente por subnutrição.
CRIANÇAS- geração em risco
Não há dúvidas de que a conjugação de todos estes fatores enumerados, fez da Somália altamente suscetível à propagação de doenças, em particular o sarampo, a diarreia e até a cólera, especialmente nas crianças, e, infelizmente, à morte.
Registavam-se a agosto de 2022, 44 mil crianças hospitalizadas em estado grave de malnutrição. Adicionalmente, a Estatística registava que a previsão para o número de crianças a sofrer do mesmo fossem 1,5 milhões (metade do total de crianças até 5 anos).
ESCASSEZ DE ESTRUTURAS DO ESTADO CAPAZES DE DAR RESPOSTA À POPULAÇÃO
De acordo com o documentário, o número de crianças mortas pode chegar a uma escala que não é vista há meio século.
Com principal destaque para a subnutrição, evidencia-se que crianças em estado grave de subnutrição são 11 vezes mais prováveis de morrerem de doenças como sarampo e diarreia. (dados do documentário)
Em 2022 registaram-se 13 mil casos graves de diarreia e 13 mil de sarampo (mais que 2020 e 2021 juntos)
"É internada a cada minuto 1 criança para ser tratada por malnutrição severa"
Sem materiais, os médicos veem-se incapazes de dar resposta a todos os doentes.
Infelizmente, esta crise humanitária registou muita pouca atenção por parte dos meios de comunicação social, tendo sido alvo de muito pouco apoio humanitário internacional.
"3oo mil pessoas enfrentam um cenário de insegurança alimentar extremo" Um Tsunami da Fome, RTP
"Mais de 7,1 milhões de pessoas- quase metade da população do país- estão a precisar de assistÊncia alimentar" ONU, UM Tsunami da Fome, RTP
GUERRA CIVIL PROLONGADA
Desde a queda do ditador Muhammad Siad Barre, há 3 décadas, o país ficou sem um governo efetivo.
Há 3 décadas que a Somália sofre da instabilidade política e desta guerra civil.
Já se registam áreas controladas por grupos radicais islâmicos como o AL-Shabaab, que afastam a ajuda humanitária.
Milhares de homens são, assim, afastados das suas famílias para combater em diversas das milícias deste conflito.
"São precisos 1500 milhões de dólares para dar resposta a esta crise"
A Somália não tem capacidades, financeiras e não só, para sustentar mais uma guerra! O povo precisa de estabilidade!