DEVOLUÇÃO DAS INFORMAÇÕES DO
PSICODIAGNÓSTICO

O momento da devolução das informações é fundamental para o processo psicodiagnóstico, pois deve englobar, de forma sintetizada, todos os momentos vivenciados durante as etapas anteriores e deve produzir a integração
desses momentos, conduzir a um fechamento e abrir portas para novos direcionamentos

Há algumas décadas, o psicodiagnóstico caracterizava-se como o processo de busca de um diagnóstico psicológico para nomear o que afetava o avaliando e propor alternativas terapêuticas voltadas à resolução de sua problemática

Esse processo tinha enfoque essencialmente individualista, buscando, no próprio indivíduo e em seu comportamento, uma resposta para as queixas apresentadas.

Atualmente, um novo paradigma abarca a concepção acerca do psicodiagnóstico: sua meta preferencial não é apenas encontrar o quadro nosológico apresentado pelo avaliando, mas vislumbrar o entendimento cuidadoso do seu estado geral, conhecer suas forças, os fatos e as experiências, entrelaçando passado e presente, e prever, na medida do possível, prováveis competências e vulnerabilidades no futuro

A partir dessa visão atual, leva-se em conta a história e o comportamento do avaliando, contextualizando-os a partir da dinâmica familiar, econômica, cultural, institucional e social em que ele está inserido

o processo deixa de ser estanque, segmentado, excludente, descritivo e com foco na classificação nosológica, cuja relação com a doença é direta, e passa a envolver uma avaliação compreensiva, integradora da realidade do avaliando, ao entender que ela lhe confere sentido.

esse momento torna-se decisivo por propiciar um espaço para a construção conjunta – entre o profissional, o paciente e os seus familiares – de uma rede de significados que dão sentido à existência do avaliando, tomando, para isso, todas as informações referentes aos contextos intrapsíquico e psicodinâmico, relacional e social, por ele vivenciados.

Atualmente, o psicodiagnóstico tem influência de um modelo compreensivo, que, em vez de buscar sintomas para enquadrar o avaliando em uma síndrome, busca a compreensão e a descrição dinâmica da personalidade, considerando a sua etiologia.

É necessário compreender a história pessoal do avaliando por meio de sua reconstituição, inserindo-a na realidade imediata. Também é preciso apreender a sua organização psíquica, o seu grau de maturidade e os seus modos de reação

A escuta deve considerar o avaliando como um ser único, mas sem desconsiderar que é detentor de uma história singular e está inserido em uma dimensão histórica da qual sofre influência.

Na devolução das informações do psicodiagnóstico, é necessário que o
profissional possa nomear e esclarecer ao avaliando o sentido dos sintomas, localizando-os dentro do contexto apreendido, bem como sua importância e utilidade. Recomendo que nesse momento seja realizada uma retomada do percurso da avaliação, relembrando passagens anteriores, como a entrevista inicial, o pedido de ajuda, a produção de material e as comunicações, para, enfim, conduzir ao fechamento do processo

Muitas vezes, na queixa inicial, o sintoma é exposto como algo isolado ou estritamente relacionado a algum acontecimento, e o que é solicitado é um plano para a supressão desse sintoma, com a ideia de que, assim, tudo se resolverá na vida do avaliando

O compartilhamento dessas informações retira o profissional do papel de sujeito suposto saber e o coloca no papel de alguém que divide um saber que diz respeito a todos os envolvidos

A TÉCNICA DA DEVOLUÇÃO DAS INFORMAÇÕES NO PSICODIAGNÓSTICO

A devolução das informações caracteriza-se como uma comunicação verbal, discriminada e dosificada, entre o psicólogo e o avaliando, seus pais e outros demandantes, sobre os resultados obtidos no psicodiagnóstico (Ocampo & Arzeno, 1981).

Esse momento deve estar previsto desde o início do psicodiagnóstico, e a sua
previsão deve ser inicialmente comunicada ao avaliando e aos seus familiares.

Isso não se confirma nos casos em que o avaliando tem receio de que os seus segredos sejam desvelados para outros demandantes

Geralmente, a devolução das informações do psicodiagnóstico é realizada no final do processo, como um meio para a elaboração dos aspectos mobilizados durante a abordagem e como seu fechamento.

No entanto, em alguns casos especiais, algumas informações do psicodiagnóstico talvez tenham de ser antecipadas no decorrer do processo casos em que forem detectados indicadores de risco para o paciente ou de ameaça à sociedade, como:

casos de crises psicóticas, tendências suicidas, ideias homicidas ou atos antissociais graves, podem ser necessários encaminhamentos emergenciais para consultas médicas ou psiquiátricas, ou mesmo para hospitais psiquiátricos com vistas à internação

casos em que forem detectados indicadores de risco ao paciente ou a terceiros, deve-se informar ao avaliando que será solicitada a presença de um familiar, a quem será comunicado o problema identificado e a respectiva indicação terapêutica.

Quando se trata de avaliando criança, adolescente ou adulto dependente, existem, necessariamente, duas entrevistas básicas de devolução de informações do psicodiagnóstico: uma com os pais ou responsáveis, e outra, com o avaliando

A devolução das informações do psicodiagnóstico, momento que encerra um processo em si, não precisa ficar circunscrita a uma única entrevista, podendo ser ampliada a partir da necessidade dos solicitantes e do profissional.

Em primeiro lugar, trata-se de um processamento que começa na mente do profissional no momento em que se depara com dados provenientes das diferentes etapas da avaliação, passando a integrá-los e a delinear alternativas possíveis para o atendimento das necessidades do avaliando e de sua família muito antes dos encontros finais.

Em segundo lugar, podem ser realizadas uma ou mais entrevistas, tanto com o avaliando como com os seus responsáveis, em momentos diferentes ou de forma conjunta.

Em terceiro lugar, o momento da devolução das informações do psicodiagnóstico caracteriza-se como um processo dentro de um processo maior, que não é objetivo e que tampouco deve ser estanque, mas que deve ter o ritmo ditado pelo curso dos eventos e pelo modo como cada um expõe e processa as informações.

Segundo Ocampo e Arzeno (1981), uma boa devolução começa com a aquisição de um bom conhecimento do caso, o que possibilitará a elaboração de hipóteses explicativas sobre a natureza dos vínculos que ligam o avaliando a seu grupo familiar e ao próprio avaliador, discriminando os aspectos saudáveis e patológicos de suas relações. Desses achados, será extraído o que deverá ser exposto ao avaliando e à sua família, de forma flexível e direcionada pelo que está sendo vivenciado no momento da devolução das informações do psicodiagnóstico.

No caso de criança ou adolescente, o profissional deve ter em mente que o problema trazido pelos pais com relação ao avaliando envolve também o problema desses pais como pais, que não conseguem ser ou fazer diferente, e que, apesar de desconhecerem, são cúmplices dos distúrbios da criança

No momento da devolução das informações, cabe ao profissional retomar o diálogo, esquematizando os pontos que devem ser abordados.

Em alguns casos, podem ser abordados primeiramente os aspectos adaptativos do avaliando, por serem menos ansiogênicos; e, por último, os menos adaptativos, sempre observando os indicadores de tolerância e de intolerância quanto ao que esta sendo tratado

A linguagem deve ser clara, e devem ser utilizados, preferencialmente, termos
compreensíveis ao avaliando e à sua família.

No caso de crianças pequenas, a
devolução pode se dar por meio de jogos

é importante preservar o sigilo e não mostrar as produções do avaliando, como desenhos, dobraduras, testes e escritos, aos pais ou a outros demandantes do psicodiagnóstico (M. C. Ortigues & Ortigues, 1988)

cabe salientar que essas informações, assim como aquelas resultantes dos instrumentos psicológicos, devem ser inseridas no momento oportuno, de forma dialógica, metabolizada, integrada, acessível e produtiva. Elas não devem ser transmitidas in natura, por meio de dados estanques, ao paciente e aos seus familiares, pois podem ocorrer incompreensões, confundindo ou rotulando o avaliando

São comuns os casos em que, após uma informação sobre as dificuldades emocionais de um filho, como, por exemplo, sua regressividade, insegurança, menos-valia ou dificuldades em determinadas áreas do desenvolvimento, o pai e a mãe passem a acusar um ao outro de ter tido atitudes geradoras dessas problemáticas no filho. O profissional precisa agir de forma mediadora nesses momentos