Diagnóstico e tratamento da NPD
Introdução: ND é a complicação crônica + prevalente, subdiagnosticada e subtratada do DM. / NPD é precoce, polimórfica e furtiva em que, pelo menos 1/2 permanece assintomática por muitos anos, enquanto a outra 1/2 se manifesta com dor neuropética aguda ou crônica (menos ou + de 3 meses de evolução), constituindo a NPDD. / Prevalência de NPD na população geral é de 49% (varia de 12% nos pré-diabéticos até 90% nos com DM e candidatos a transplante renal), até 25% sofrem NPDD.
Conceito e classificação: ND (sintomas ou sinais de disfunção dos nervos, de forma focal ou difusa, em DM, após exclusão de outras causas). / NPD (lesão difusa, simétrica, distal e progressiva das fibras sensitivo-motoras e autonômicas, causadas pela hiperglicemia crônica e FR CVs). / NPDD (dor neuropática na área corpórea afetada, que piora com repouso e durante o sono e melhora com AF. / Insônia, ansiedade, depressão e perda de funcionalidade. / NPD é sinônimo de neuropatia sensitivo motora e/ou de polineuropetia periférica.
ND.
Difusas: polineuropatia sensitivo motora (fibras finas, fibras grossas e fibras mistas - + comum -); polineuropatia autonômica (CV; genitourinária; metabólica; sudomotora e gastrointestinal); polineuropatia atípica (caquexia diabética e induzida pelo tratamento)
Focais: mononeuropatia (multiplex; túnel do carpo; túnel do tarso; fibular -"pé caído"-; meralgia parestésica e ocular); radiculoneuropatia (torácica; lombar e amiotrofia).
Rastreamento e diagnóstico: rastreioao diagnóstico de DM2 e 5 anos após diagnóstico de DM1, com reavaliação anual caso -. / Teste para fibras finas (+ precocemente acomentidas; sensibilidade térmica, dolorosa e função sudomotora) e fibras grossas (reflexos tendíneos, sensibilidade vibratória, tátil e de posição); os melhores são a sensibilidade térmica e o biotesiômetro. / Situações especiais: pré-DM com sintomas neuropáticos devem verificar NPD de fibras finas; neuropatia essencial (criptogenética) devem ser submetidos a TOTG para diagnóstico de pré-DM. / Monofilamento 10 g: baixa sensibilidade para rastreio de neuropatia precoce, mas pode ser considerado para triagem do pé diabético. / Novos testes para NPD: DPN-Check; Neuropad e MCC. / Diagnóstico de exclusão (deficiência de B12, etilismo, hipotireoidismo, síndrome do túnel do carpo, excesso de B6, drogas, substâncias neurotóxicas, metais pesados).
ECN/NDS (sensibilidade vibratória - 128 Hz -; sensibilidade térmica; dor superficial e reflexo aquileu): ausente (0-2); leve (3-5); moderada (6-8); severa (9-10).
Tratamento
De base (que interfere na história natural): controle glicêmico; FR CVs (Controle da HA; da albuminúria; dos lípides; do peso; do etilismo; do tabagismo)
Restaurador (fisiopatológico): fisioterapia; AAL e reposição racional de vitamina D e B12.
Sintomático: 1° linha (ADT: imipramina, nortriptilina e amitriptilina; ADD: duloxetina e venlafaxina e AC: gabapentina); 2° linha (AD + AC ou pregabalina); 3° linha (EME; acupuntura ou terapia tópica).
Obs.: EVA (0: ausência de dor ; 1-3: dor leve; 4-7: dor moderada; 8-9: dor intensa; 10: nível de dor máximo suportável). / Em 1° linha, iniciar com doses baixas e titulando lentamente, a cada 4-8 semanas até dose máxima tolerada; distinguir dor neuropática de parestsia, pois controle glicêmico resolve; contraindicações absolutas aos ADT: infarto, isquemia do miocárdio, bloqueios AVs (2° ou 3° grau), demência, glaucoma, disautonomia e distúrbio bipolar; solicitar ECG em > 50 anos antes de prescrever ADT. / Casos selecionados: opioide fraco (tramadol) como terapia de resgate da dor severa). / Terapia tópica: "patch" de lidocaína ou capsaicina a 8% e toxina butolínica subcutãnea quando dor restrita a área < 20x30 cm.
Melhora parcial: queda de EVA > 30% e EVA > ou = 4/10; sem melhora: queda de EVA < 30%. / Meta: queda de EVA de 30-50% ou EVA < ou = 3/10.
Recomendações
R1: Todos com DM devem ser examinados para NPD ao diagnóstico quando DM2 e 5 anos após diagnóstico de DM1 (Classe I / Nível C).
R2: Para rastreamento, deve ser considerado 1 teste para fibras finas e outro para grossas (Classe IIa / Nível B).
R3: Neuropad pode ser considerado para rastreamento de NPD visando excluir diagnóstico de fibras finas (Classe IIb / Nível B).
R4: Para diagnóstico definitivo, recomenda-se o ECN/NDS (Classe I / Nível C).
R5: MCC pode ser considerado para diagnóstico de RPD (Classe IIb / Nível B).
R9: Embora associada à redução da incidência da NPD em DM2, a cirurgia bariátrica não é recomendada para prevenção da NPD (Classe III / Nível C).
R11: O AAL deve ser considerado no tratamento de NPD leve à moderada para uso no longo prazo, visando melhora da força muscular e estabilização do déficit neuropático, considerando sua segurança e custo-benefício (Classe IIa / Nível B).
R12: Como 1° linha para NPDD, recomenda-se ADT, duloxetina, venlafaxina ou gabapentina (Classe I / Nível A).
R13: Como 2° linha da NPDD, recomenda-se terapia combinada com 2 drogas de 1° linha ou pregabalina (Classe I / Nível A).
Recomendações
R14: Em situações específicas, vitamina B1; vitamina B12; benfotiamina; clonidina tópica; carbamazepina; lamotrigina; oxcarbazepina; acetil-L-carnitina; clonazepam; midazolam; paracetamol e creme de capsaicina (0,075%) podem ser considerados, porém dados dados sobre eficácia do tratamento sintomático da NPDD ainda são escassos ou controversos (Classe IIb / Nível C).
R15: Acupuntura ou eletroacupuntura podem ser consideradas terapias de 3° linha, em especial, em idosos frágeis e/ou naqueles com componente importante de dor miofascial (Classe IIb / Nível B).
R16: EME pode ser considerada terapia de 3° linha (Classe IIb / Nível B).
R17: Na NPD não estão recomendados: topiramato, valproato, lacosamida, clonidina, pentoxifilina, mexiletina, vitamina E, canabinoides, AINEs, campo magnético, laser de baixa intensidade e terapia com Reiki (Classe III / Nível B).
R18: Não se recomenda o uso rotineiro de opioides em NPDD em razão da falta de evidências sobre a eficácia a longo prazo e do potencial de tolerãncia, dependência, overdose e eventos adversos sérios (Classe III / Nível C).