DESCONTINUIDADES E CONTINUIDADES DO MOVIMENTO HIGIENISTA NO BRASIL DO SÉCULO XX
AS DESCONTINUIDADES DO
MOVIMENTO HIGIENISTA :
O texto discute a diferenciação entre o Movimento Higienista da primeira metade do século XX e o Movimento de Saúde mais contemporâneo, chamado Health Movement nos Estados Unidos.
Há debate sobre se a transição do Movimento Higienista para o Movimento de Saúde representou involução ou evolução, com alguns vendo uma crescente orientação individualista no segundo.
O Movimento Higienista inicialmente tinha uma abordagem mais coletiva, buscando democratizar a educação e promover a formação moral da população.
O Movimento de Saúde é caracterizado por uma orientação individualista, com foco no cuidado com o próprio corpo e serviços personalizados, como o personal training.
No entanto, o Movimento de Saúde não é homogêneo, e o Movimento Sanitário, que se concentra nas condições sociais e coletivas da saúde, representa uma tendência alternativa.
A tensão entre o individual e o coletivo é inerente a ambos os movimentos, com seus porta-vozes tentando equilibrar ou escolher entre essas abordagens.
Atualmente, a oposição no campo do movimento parece estar entre os que desejam continuar focando nas condições sociais de saúde e os que defendem uma orientação mais individualista e científica.
O texto sugere que as condições brasileiras podem não refletir a mesma evolução que ocorreu nos Estados Unidos, e intelectuais brasileiros ainda se preocupam com questões coletivas.
Também se questiona a suposta novidade dos conhecimentos que fundamentam a intervenção, observando que as abordagens atuais muitas vezes ecoam princípios antigos, como a moderação.
CONTINUIDADES E CRUZAMENTOS NO MOVIMENTO HIGIENISTA
O texto discute a possibilidade de que as atuais fórmulas frenéticas de cuidar do corpo, promovidas pela mídia, sejam uma nova forma de higienismo e eugenismo pós-moderno.
Argumenta-se que há paralelismos entre as abordagens contemporâneas de cuidado com o corpo e as metodologias dos higienistas da saúde física do século XIX.
Os higienistas da saúde física usavam parâmetros antropométricos e dados epidemiológicos para identificar os níveis antropométricos médios dos homens.
Quêtelet, um influente matemático do século XIX, acreditava que as leis biológicas divinas poderiam ser quantificadas em médias, e os desvios dessas médias indicavam anormalidades.
No final do século XX, os higienistas da saúde física usavam o método estatístico de Quêtelet, especificamente o índice de massa corporal (IMC), para identificar o homem médio e os desvios em relação a essa média.
Supervalorização das atividades físicas na promoção da saúde
No século XX, a importância da atividade física como área de intervenção profissional, buscando reforçar argumentos tradicionais que legitimassem a intervenção dos profissionais de educação física.
A metáfora do corpo humano como uma máquina, originada no auge do higienismo no século XIX, ainda persistia nos discursos dos higienistas da saúde física, descrevendo o corpo como uma máquina que requer cuidados e limpeza regular.
Essa continuidade no discurso destaca a importância da atividade física como um campo que permite aos especialistas lutar pelo prestígio na mídia e na moda, além de fazer bons negócios.
Semelhança entre os hábitos higiênicos do início do século e os fatores de risco
Houve um aspecto normativo contínuo em ambos os momentos do movimento, buscando identificar as melhores práticas para evitar doenças.
No início do século XX, promovia-se o banho diário como hábito higiênico, enquanto no final do século, eram divulgados os benefícios do uso de preservativos e da atividade física sistemática como medidas de segurança.
Em ambos os casos, a prescrição de hábitos individuais era uma característica constante do movimento.
Da fadiga ao estresse
O higienismo da atividade física permanece constante ao longo do tempo, com a mesma receita para evitar a fadiga, o esgotamento e o estresse, incluindo alimentação, sono, atividade física, lazer e autocontrole.
A legitimidade na ciência
Tanto os higienistas quanto os defensores da saúde física utilizaram o prestígio científico e o argumento de autoridade da ciência para conquistar a legitimidade da opinião pública.
Ambos compartilhavam uma profunda confiança na ciência como a chave para a melhoria das condições de vida e saúde da população.
Intervencionistas sociais e higienistas sociais
O Movimento Higienista apresentou contradições e a participação de pessoas com diversas orientações políticas e ideológicas.
demonstraram preocupação com questões de saúde pública e sociedade em suas abordagens.
Suas ideias e ideais influenciaram o Movimento Sanitário da década de 1980, que buscava criticar o modelo médico-sanitário do final do século XX no Brasil e enfatizar os determinantes sociais da saúde, promovendo uma sociedade mais justa.