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COOPERAÇÃO E DIPLOMACIA DA SAÚDE, Artigo: "Saúde, política externa e…
COOPERAÇÃO E DIPLOMACIA DA SAÚDE
A SAÚDE NA AGENDA INTERNACIONAL
Preâmbulo da Constituição da OMS: "a saúde é um
estado de completo bem-estar físico, mental e social e não consiste apenas na ausência da doença
ou de enfermidade"
consequência disso: o progresso na saúde é afetado por variados determinantes econômicos, sociais, culturais e ambientais
HISTÓRICO DA ESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA INTERNACIONAL DE SAÚDE
Século XIX: I Conferência Sanitária Internacional (Paris, 1851)
1902 - Escritório Sanitário Internacional (predecessor da OPAS)
1907 - Escritório Internacional de Higiene Pública, em Paris
Pós 1GM: Organização de Saúde da Liga das Nações
algumas funções: elaboração de relatórios técnicos e de inteligência epidemiológica e estabelecimento de comissões internacionais sobre doenças
1945 - criação da ONU
3 principais órgãos da ONU (AGNU, ECOSOC e CSNU) abordam a saúde, sob distintos aspectos
UNICEF (1946)
OMS (1948)
entidade de abrangência universal voltada, prioritariamente, à temática sanitária - mandato e capacidade de ação globais
objetivo primoridal (Art. 1): aquisição, por todos os povos, do nível de saúde mais elevado possível.
UNFPA (1969)
Programa Conjunto das NU sobre HIV/Aids - UNAIDS (1996)
após a assinatura da Carta de São Francisco, BR e China propuseram a convocação de uma conferência internacional para a constituição de um organismo que se ocupasse, exclusivamente, dos temas de saúde
MOMENTOS
Lógica durante toda a guerra fria:
principais debates globais centraram-se em temas de segurança e desarmamento
reduzida abertura para que atores diretamente envolvidos com a temática social participassem dos foros internacionais correspondentes
disputas ideológicas do mundo bipolar influenciaram, em grande medida, as discussões internacionais sobre temas sociais
1949 -
URSS e outros países da sua órbita de influência retiram-se da OMS
(Albânia, Bulgária, Hungria, Polônia, Bielorrússia, Ucrânia, Romênia e Tchecoslováquia)
motivo: crítica à proeminência dos EUA na Organização e nas agências da ONU de maneira geral
Só retornariam em 1956, após a mudança de discurso da URSS em direção à coexistência pacífica (morte de Stalin e ascensão de Khruschev)
Anos iniciais: foco restrito à erradicação de enfermidades e à padronização internacional
capacitação p/ profissionais de saúde
promoção de esforços p/ padronização em setores como a classificação internacional de doenças, a farmacopeia e o regulamento sanitário internacional
Décadas de 1950 e 1960: interesse mais amplo no desenvolvimento de serviços de saúde e promoção de saúde (graças aos avanços na biologia, na economia e na política global)
plano regional interamericano
1961 - Reunião Extraordinária do Conselho Interamericano Econômico e Social em Nível Ministerial (Cies-OEA)
Carta de Punta del Este
- reconhece as "relações recíprocas entre saúde e desenvolvimento e a necessidade de promoção coordenada do desenvolvimento econômico e social"
1970 -
criação do conceito de "atenção primária à saúde" pela OMS
1978 -
I Conferência internacional sobre Cuidados Primários de Saúde
(Alma-Ata, Cazaquistão)
Brasil não participou, mas as discussões da conferência tiveram impacto no discurso sanitário brasileiro e na conformação do sistema público de saúde do BR.
Declaração de Alma-Ata
: governos têm uma responsabilidade pela saúde de seus povos, que só pode ser realizada mediante adequadas medidas sanitárias e sociais
estabeleceu que os cuidados primários de saúde constituíam a chave p/ atingir a meta de que todos os povos do mundo alcançassem um nível de saúde elevado até o ano 2000.
O BRASIL NO SISTEMA INTERNACIONAL DE SAÚDE
Marcelino Gomes Candau - diretor-geral da OMS entre 1953 e 1973 (o mais longevo da história da organização)
primeiro brasileiro a comandar uma organização especializada da ONU. Reeleito 3 vezes.
sob sua adm, OMS ampliou sua visibilidade, sua estabilidade financeira e sua coerência administrativa, fortalecendo seus escritórios regionais em todo o mundo
atualmente: 6 escritórios regionais da OMS - AFRO, AMRO, EURO, EMRO, WPRO, SEARO (África, Américas, Europa, Mediterrâneo Oriental, Pacífico Ocidental, Sudeste Asiático)
Saúde na CF/88
Art. 196. A saúde é um direito de todos e um dever do Estado
Da mesma maneira que a Constituição da OMS, a CF/88 adota um conceito de saúde amplo e intersetorial, que não se resume ao mero combate de doenças.
Cria o SUS
contexto: 8ª Conferência Nacional de Saúde, 1986 - proposta do arcabouço institucional do SUS, que serviria de base p/ as discussões da Assembleia Nacional Constituinte
contexto: gestado a partir da segunda metade da década de 1970, movimento social pela reforma sanitária no BR influenciou o estabelecimento de um sistema universal que garantisse a saúde como direito social
maior sistema de saúde de acesso universalizado e gratuito do mundo, assegurando a cobertura universal de saúde como direito social de todos no território nacional
antes da década de 90: atuação internacional do BR na área social era reduzida
reduzido espaço dedicado a essas temáticas nas pautas de trabalho do ministério das RE
novidade do tratamento internacional de questões que, até então, eram de órbita interna dos países
década de 90: temas sociais passam a receber nova abordagem internacional,
sendo concebidos como parte intrínseca das estratégias nacionais de desenvolvimento dos países
motivos:
descongelamento da conjuntura pós-bipolaridade
discussões sobre o papel do Estado na provisão do desenvolvimento
década de 90: "década das conferências"
difusão, por reuniões multilaterais relativas à agenda social, de debates, declarações e programas de ação que fizeram referências, direta ou indiretamente, à saúde
reformas institucionais e administrativas, no âmbito do gov BR, de modo a incorporar o tratamento de temas sociais na adm pública federal
Departamento de DH e Temas Sociais do MRE, em 1995
Recriação de uma unidade responsável por temas internacionais no Min. da Saúde - "Assessoria de Assuntos Internacionais de Saúde (AISA)" (1998)
diplomatas à frente da assessoria
AISA é a recriação da CAIS (Coordenadoria de Assuntos Internacionais de Saúde, 1987-1990. Extinta em 1990, no marco da reforma administrativa realizada em março de 1990)
últimas 3 décadas: atuação muito propositiva do BR na OMS
BR tem defendido, na AMS, temas caros à agenda nacional de saúde.
Mesmo com a sucessão de governos,
predomínio da coerência e da continuidade
AMS: Assembleia Mundial de Saúde (órgão decisório da OMS, no qual todos os membros da organização têm assento)
A POLÍTICA EXTERNA COMO POLÍTICA PÚBLICA
Construção de um discurso sólido na PE de um país está relacionada à existência de um
acumulado histórico de princípios de inserção internacional relativamente duradouros ao longo do tempo
o papel do PR
responsável privativo por "manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos" e "celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional"
todas as constituições do BR apresentaram textos semelhantes
Celso Lafer:
padrões de continuidade na inserção internacional do BR estão relacionados a fatores históricos, geopolíticos e socioculturais
Celso Lafer (2000): Elementos que contribuíram p/ a constituição da identidade internacional do BR:
dimensões continentais do país
lugar do país na América do Sul
idioma único
ausência de pontos significativos de tensão internacional desde a independência
desafio da busca do desenvolvimento como vetor tradicional da política externa
Amado Cervo: "acumulado histórico" da PEB
Celso Lafer: "em um mundo de polaridades indefinidas, os foros multilaterais constituem, para o BR, os melhores tabuleiros para que o país exerça sua competência na defesa dos interesses nacionais"
PEB anos 80 e 90:
anos 90: "autonomia pela participação"
Gelson Fonseca: "a autonomia, hoje, não significa mais "distância" dos temas polêmicos. Ao contrário,
a autonomia se traduz por participação
"
novo fôlego p/ atuação multilateral do Brasil - democratização + fim da guerra fria
ampliação de atores e agentes
"horizontalização da PE brasileira" - participação das demais pastas do executivo + aproximação com a sociedade nacional
apesar disso, os princípios que regem a PEB se veem preservados e reiterados
DIPLOMACIA PÚBLICA - promoção da imagem de um país no exterior, buscando influenciar o público estrangeiro.
PARA O BRASIL: não apenas acepção tradicional, mas também a
maior abertura do MRE e da PEB à sociedade civil, em um esforço de democratização"
O BRASIL E A POLÍTICA EXTERNA EM MATÉRIA DE SAÚDE
cenário pré-88 (pré-SUS)
interno:
INAMPS (Instituto de Assistência Médica da Previdência Social) era responsável pela gestão da assistência médico-hospitalar no país
vinculado ao MPAS (Ministério da Previdência e Assistência Social)
MS era o responsável pela formulação da política de saúde, mas o MPAS detinha a maior parte dos recursos destinados ao tema.
MS se dedicava, primordialmente, ao controle de endemias
internacional:
ação internacional reduzida do MS, restringindo-se a atividades institucionais
ex: participação em conferências e assembleias, apoio à eleição de candidatos a cargos
cenário pós-88: (pós-SUS):
passagem de uma postura reativa a um estado propositivo
na atuação internacional do BR em saúde
internamente
discurso passa a ser universalista - a saúde deixa de ter o caráter assistencialista e previdenciário do modelo anterior
criação de instâncias decisórias abertas à participação social
contribuíram p/ a execução e o fortalecimento de políticas públicas de saúde voltadas a temas diversos: HIV/Aids, tabaco, aleitamento materno etc.
internacionalmente:
com base nos êxitos domésticos, Brasil passa a assumir uma postura de liderança no plano internacional
1994 - Reunião dos ministros da Saúde de Angola, BR, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Portugal e Sã Tomé e Príncipe -
esforço inicial de definição de áreas prioritárias p/ a cooperação em saúde
Esforço se aprofundaria com a criação da CPLP.
1996 - MERCOSUL - Criação do Subgrupo de Trabalho nº 11 - Saúde
anos 80 e 90 - MUDANÇA DE DISCURSO NA ASSEMBLEIA MUNDIAL DA SAÚDE
defesa de que há uma relação inerente entre a dívida externa e a dívida social interna
defesa da redução das desigualdades, inclusive no acesso à saúde
crítica aos altos preços de medicamentos e à prática médica como um "negócio"
O BRASIL NO ENFRENTAMENTO À AIDS E O ACESSO AOS MEDICAMENTOS
- década de 90
epidemia de aids identificada no BR em 1982
PROGRAMA BRASILEIRO DE COMBATE À AIDS É CONSIDERADO MODELO PELA OMS
desenvolvido nas décadas de 80 e 90. Principais pontos:
capacitação em diagnóstico e assistência
fortalecimento de laboratórios públicos
resultados muito positivos
redução da mortalidade associada à aids, promoção da qualidade de vida dos pacientes, redução de custos dos tratamentos, redução da velocidade de disseminação da doença etc
estabelecimento de critérios e recomendações p/ o tratamento
distribuição universal e gratuita de antirretrovirais na rede pública
Lei Brasileira de Propriedade Intelectual (1996): prevê a possibilidade de
licenciamento compulsório de patentes
possibilita a produção nacional de antirretrovirais genéricos
UNITAID (2006)
- Mecanismo de financiamento para promover a compra de medicamentos, diagnósticos e ferramentas de prevenção de HIV/Aids, malária e tuberculose em países em desenvolvimento
criada a partir de proposta do BR, Chile, França, Noruega e UK
Em 1995, BR já havia defendido na AMS a criação de um fundo este tipo, a partir da "taxação de operações financeiras internacionais". A ideia, naquele momento, não foi pra frente.
vinculado OMS
Sessão Especial da AGNU sobre HIV/Aids (2001) - Prevalece o entendimento de que o combate à pandemia requer ação global conjunta, nas áreas de
prevenção, assistência, tratamento e direitos humanos
Início da década de 2000 - BR passa a defender a flexibilização do TRIPS p/ proteção da saúde pública
em diversos foros: AGNU, Conselho de DH da ONU, CSNU, OMC, OMS
"balanço entre o respeito aos compromissos assumidos na OMC e a legítima preocupação de estimular e reforçar o acesso a medicamentos essenciais"
DECLARAÇÃO DE DOHA (2001)
- BR lidera o processo, a partir de proposta do grupo africano
a declaração
prevê a possibilidade de licenciamento compulsório de medicamentos
, flexibilizando o TRIPS para a proteção da saúde pública
Resolução "Intellectual Property Rights, Innovation and Public Health" / OMS, 2003 - proposta brasileira
leva ao estabelecimento da "Comissão sobre Direitos da Propriedade Intelectual, Inovação e Saúde Pública"
reconhece que, embora a propriedade intelectual seja importante para inovação em matéria de saúde pública e medicamentos, ela não é o único fator importante.
CONTROLE DO TABACO
Programa Nacional de Controle do Tabagismo (1989)
1995 - iniciam-se as discussões, na OMS, sobre a adoção de um tratado internacional sobre o controle do tabaco
BR tem um papel importante desde o início, conduzindo o processo negociador
posição brasileira formada a partir das recomendações da Comissão Nacional para o Controle do Uso do Tabaco (CNCT)
atuação do BR nas negociações:
BR presidiu o Órgão de Negociação Intergovernamental da CQCT
BR liderou o grupo de trabalho que preparou a primeira Conferência das Partes
Convenção Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT, 2003)
primeiro tratado internacional de saúde pública da história da OMS
, ampliando o campo de atuação da Organização à esfera normativa
Conferência das Partes: estrutura formada por todos os Estados Partes do tratado. Reuniões bianuais. A COP guia o trabalho do secretariado e negocia as bases de implementação do tratado.
2014 - nomeação de uma brasileira como chefe do Secretariado
incorporação da CQCT pelo BR: 2003
a partir da incorporação, a Comissão Nacional para o Controle do Uso do Tabaco (CNCT) se torna
Comissão Nacional para a Implementação da CQCT e de seus Protocolos (CONICQ)
representantes de diversos ministérios, órgãos e agências governamentais
uma de suas competências é estabelecer diálogo com instituições e entidades nacionais e internacionais cujos objetivos e atividades possam trazer contribuição relevante à matéria
dessa maneira, promove-se diálogo voltado ao cumprimento das obrigações da CQCT e à construção da posição brasileira nas conferências das partes
uma das metas referentes à saúde no âmbito dos ODS é a implementação da CQCT
BANCOS DE LEITE HUMANO
internamente
Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (1981)
objetivo: aumentar as taxas de aleitamento materno
a partir daí, expansão da rede
1988 - Portaria do MS estabelece normas p/ regular a instalação e o funcionamento dos bancos de leite humano
começo da implementação: década de 40 | no entanto, pouco representativos até 1980
BR tem a maior e mais complexa rede de bancos de leite humano do mundo
220 bancos de leite humano; 199 postos de coleta; 215 mil litros de leite coletados a.a; quase 200 mil recém-nascidos supridos
globalmente
reconhecimento
2002 - A partir de proposta brasileira, a 55ª AMS endossou a
Estratégia Global para a Alimentação de Lactentes e Crianças de Primeira Infância
2001 - 54ª Assembleia Mundial da Saúde -
Rede brasileira de bancos de leite humano foi agraciada pela OMS com o Prêmio Sasakawa de Saúde
estratégia brasileira de bancos de leite humano se tornou instrumento de cooperação internacional
1996 - Venezuela solicita cooperação internacional voltada à implementação de bancos de leite
década de 2000 - com apoio da OPAS,
esforço sistemático de ampliação da rede de bancos de leite p/ outros países do continente americano
2008 - trabalho brasileiro de cooperação internacional se expande para os países da CPLP
2017 - estabelecimento da Rede de Bancos de Leite Humano da Comunidade
Com a coordenação da ABC, em parceria com o MS e a Fiocruz,
o BR já forneceu apoio técnico p/ implantação de bancos de leite humano em 19 países das Américas, três países africanos e um país europeu
considerações finais:
A DIPLOMACIA PÚBLICA E A POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE COMPLEMENTAM-SE DE MANEIRA DIRETA, FORTALECENDO O DISCURSO BRASILEIRO
respaldo doméstico confere ao BR a credibilidade necessária p/ transformar potencialidades internas em ativos de PE
MS tem contribuído p/ fortalecer a construção de capacidades, a resposta conjunta a desafios de saúde pública e a promoção do desenvolvimento no mundo
a vinculação entre as capacidades domésticas e a ação externa é benéfica tanto para a projeção internacional do BR quanto para a consolidação de políticas nacionais
exemplos:
MS lançou, em 2017, Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose como Problema de Saúde Pública
no mesmo ano, foi estabelecida a Rede de Pesquisa em Tuberculose do BRICS
BR tem liderado o engajamento da região das Américas no âmbito da Década de Ação das NU p/ a Nutrição (2016-2025)
Artigo: "Saúde, política externa e diplomacia pública" (Bruno Rezende)
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