Trauma ocular
Epidemiologia
Definição
Refere-se a lesões no olho, sendo elas causadas por:
Trauma mecânico (contuso ou penetrante) - hifema traumático, fratura de orbita.
Queimaduras químicas ou por radiação ultravioleta.
Em todo o mundo há aproximadamente 1,6 milhão de cegos devido a lesões oculares.
Quase metade (48%) de todas as lesões oculares que ocorrem em pessoas de 18 a 45 anos;
Entre todas as faixas etárias, os homens estão em risco 4 vezes maior de lesão ocular que as mulheres.
Fatores de risco
Idade de 18-45 anos;
Sexo masculino;
Ausência do uso de EPIs - protetores oculares;
Ocupação - ambiente de trabalho/ bem como o uso de EPIs nesse ambiente;
Exposição a luz ultravioleta;
Fogos de artificio;
Etiologias
Lesões contusas: causas por batida direta no olho; pode causar hifema na câmara anterior do olho.
Traumatismo contuso pode resultar em lesões no osso ao redor dos olhos e contusão na pálpebra.
Queimaduras: por radiação ultravioleta e substancias químicas.
Abrasões corneanas;
Ruptura do globo ocular e lesão ocular;
Birmingham Eye Trauma Terminology System
Lesões oculares fechadas
A córnea e a esclera não são violadas por completo.
Lesões oculares abertas
As contusões resultam de traumatismo contuso sem uma ferida aberta na parede do olho.
As lacerações lamelares são feridas com espessura parcial da córnea ou esclera.
Definidas pela ferida com espessura completa da parede do olho.
As rupturas dos globos oculares são causadas por traumatismo contuso.
As lacerações são produzidas por objetos pontiagudos.
As lesões penetrantes são caracterizadas pela presença de uma ferida de entrada.
As lesões perfurantes são caracterizadas pela presença de uma ferida de entrada e uma de saída.
As CEIOs são, tecnicamente, lesões penetrantes, mas elas são agrupadas separadamente porque tem implicações clínicas diferentes.
Queimaduras químicas
Queimaduras oculares químicas constituem uma emergência oftalmológica.
Representam de 11% a 22% dos traumas oculares e podem produzir dano importante à superfície ocular, à córnea e ao segmento anterior do olho, resultando, muitas vezes, em redução permanente da visão uni ou bilateral.
Sinais e sintomas
Dependem do grau da queimadura.
Queimaduras leves a moderadas manifestam-se com:
- Dor e vermelhidão ocular variável;
- Fotofobia;
- Redução da acuidade visual.
Ao exame, podem estar presentes:
- Conjuntiva bulbar hiperemiada;
- Quemose;
- Lesões epiteliais corneanas, focais ou difusas;
- Reação da câmara anterior.
Nas queimaduras graves não há vermelhidão
ocular e a conjuntiva bulbar pode estar branco-acinzentada devido à isquemia perilímbica. Quemose, erosões epiteliais e opacificação da córnea podem estar presentes.
Tratamento
Emergencial:
- Lavagem copiosa e remoção de detritos;
Inicial:
- Promoção da reepitelização e controle da inflamação;
Tardia:
- Reabilitação visual.
Deve-se lavar o olho com solução salina ou ringer lactato por pelo menos 30 minutos.
Nunca se deve utilizar soluções ácidas para neutralizar álcalis ou viceversa, pois, as próprias reações ácido-base podem gerar substratos nocivos.
Após a conduta inicial, pode ser usado antibiótico tópico em pomada e o paciente deve ser encaminhado para o oftalmologista, para avaliação clínica na lâmpada de fenda e continuidade do tratamento.
Analgésicos orais podem ser prescritos, conforme necessidade do paciente.
Queimadurasporsubstânciasalcalinas (ex.: soda cáustica, cimentos, gessos, alvejantes, amônia) tendem a ser mais graves que as queimaduras por substâncias ácidas (ex.: ácido de bateria, limpador de piscinas, vinagre).
Os álcalis promovem uma saponificação das proteínas oculares com maior penetração do produto, que estende sua ação destrutiva a outros tecidos.
Nas queimaduras por ácidos, a coagulação das proteínas forma uma barreira de proteção, dificultando a penetração do agente químico.
Abrasões corneanas
São defeitos epiteliais superficiais autolimitados que coram com fluoresceína.
Hifema traumático
Ruptura de globo ocular e lesão ocular penetrante
Normalmente, o paciente refere histórico de arranhadura, trauma ocular ou uso de lente de contato.
Sinais e sintomas
- Dor aguda;
- Fotofobia;
- Sensação de corpo estranho;
- Lacrimejamento;
- Desconforto ao piscar.
Ao exame, pode ser observado defeito epitelial que cora com fluoresceína e ausência de opacificação corneana subjacente.
Também pode estar presente hiperemia conjuntival e edema palpebral.
Tratamento
Abrasões corneanas não complicadas tendem a resolver-se em 24 a 72h.
Uso de pomada ou colírio antibiótico profilático até que o defeito epitelial cicatrize.
Usuários de lente de contato necessitam do uso de antibióticos (cobertura para pseudomonas).
A dor ocular e a fotofobia podem ser aliviadas pelo uso de colírios cicloplégicos, que bloqueiam o espasmo do músculo ciliar e esfíncter da íris.
Acúmulo de sangue na câmara anterior
Etiologia: trauma ocular, que acomete com maior incidência jovens do sexo masculino.
Mecanismo: Compressão antero-posterior do globo, que causa uma expansão equatorial, que por sua vez leva a um estiramento e rotura dos vasos da íris, corpo ciliar ou coróide, findando com a hemorragia.
Clínica
- Dor e visão borrada
- Sangue ou coágulos na câmara anterior
Complicações
- Ressangramento (2° e 5° após trauma, consequente à lise e retração coágulo)
- Aumento da pressão intra-ocular
- Atrofia óptica (por contusão do nervo óptico ou aumento persistente da PIO)
- Impregnação hemática da córnea
Tratamento
- Repouso na cama, com cabeceira elevada a 30° graus, estimulando o assentamento do sangue no olho.
- Proteção com tampão
- Aumentar ingesta hídrica
- Cicloplégicos: previne a formação de sinéquias e alivia a dor
- Esteroides tópicos - reduz inflamação e dor
- Hipotensores oculares
- Evitar AINES e AAS
Corpo Estranho Corneano ou Conjuntival
- Início súbito, sensação de corpo estranho, lacrimejamento, fotofobia e blefaroespasmo.
- Abrasão linear corneana orientada verticalmente: sugestiva de corpo estranho sob a pálpebra superior (Conjuntiva tarsal superior é um local comum de localização do corpo estranho).
- Infiltrado pequeno pode circundar o corpo estranho corneano, sendo geralmente reacional e estéril.
- Anel ferruginoso em volta do corpo estranho corneano pode estar presente.
Tratamento
Conjuntival
- Irrigar com SF
- Retirar CE com cotonete embebido de anestésico
- Everter pálpebras e inspecionar os fórnices à procura de CE adicionais
- Pode ser retirado na emergência
Corneano
- Avaliar na lâmpada de fenda, retirar com bisel da agulha de insulina
- Se houver anel ferruginoso ao redor do CE, deve-se removê-lo por completo.
- Colírio de ATB profilático por 3-5d
- Feito por Oftalmologista
Fratura Orbitária
Mais comum nas paredes ''medial'' e ''inferior''.
Medial: osso etmoide, lacrimal, maxilar e pequena parte do corpo do esfenoide. É a mais delgada. A região do etmoide é fina e possui vários forames por onde passam nervos e vasos.
Parede inferior: osso maxilar, zigomático e palatino.
Fratura do tipo Blow-Out/do assoalho da órbita
- Ocorre em traumas onde a força da pancada é recebido pelo globo ocular, e não é bloqueada pelos ossos fortes que rodeiam o olho.
- Traumas com objetos pequenos - bolas de tênis ou punho
Clínica
- Dor à movimentação ocular
- Limitação movimentação ocular
- Diplopia binocular
- Crepitação (ocorre enfisema subcutâneo)
- Edema Palpebral
- Hipoestesia na distribuição do nervo infraorbital e enoftalmo
- Sempre excluir lesão intra-ocular e do nervo óptico
Tratamento
Minimizar hemorragia e dor
Bolsa de gelo a cada 1/2h nas primeiras 48h, pois ajuda a reduzir dor e inchaço. Manter cabeceira elevada. Analgésico e ATB orais.
Reparo cirúrgico
- Imediato (até 72h). Para evidência clínica de encarceramento muscular e bradicardia, bloqueio cardíaco, náusea, vômito ou síncope não resolvida com tto clínico.
- Algumas semanas se fratura obstruir músculos ou tecidos moles da órbita e provocar lesão e ou diplopia.
Gravidade depende de:
- Massa do objeto
- Velocidade do objeto
- Forma
- Posição de impacto
- Composição
- Tamanho
Clínica
- Dor, visão reduzida e perda de líquido pelo olho.
- Laceração completa da espessura da esclera ou do córnea, hemorragia subconjuntival grave, câmara anterior profunda ou rasa em comparação com outro olho, pupila irregular, material do cristalino ou vítreo na câmara anterior, limitação da motilidade extraocular, pode haver exteriorização do conteúdo intraocular.
Tratamento
- Tampão - NUNCA FAZER CURATIVO OCLUSIVO
- TC de crânio e órbita para excluir CE
- Encaminhar ao oftalmo (Nunca retirar os CE, tecidos ou coágulos. TUDO SER FEITO PELO OFTALMO)
- ATB sistêmicos nas primeiras 6h
- Antieméticos e analgésicos
- Programar reparo cirúrgico o mais breve possível