Para Ribeiro e Souza (2015, p. 11), na década de 90, "a globalização e a reestruturação em curso no cenário internacional" acarretaram alterações para os modelos vigentes de gestão das cidades. Os critérios de eficiência, produtividade e focalização da política pública urbana passavam a ser cada vez mais exigidos na agenda, práticas e discursos para a condução das cidades, sem implicar, necessariamente, a justiça social e bem estar urbano. Algumas perguntas ainda se fazem ecoar.
qual será, então o novo papel?” estado mínimo? estado regulador? estado provedor? estado descentralizado? estado habilitador? Quais as possibilidades e os limites do planejamento urbano nas cidades inseridas no movimento da globalização? que forças sociais serão capazes, em nível local ou nacional, de sustentar e implementar a proposta da reforma urbana? (RIBEIRO e SOUZA, 2015, p. 12).
Refletindo sobre os distintos cenários do debate urbano entre a década 80 e 90, verifica a ausência de uma política pública formulada a nível nacional, ao passo que apresenta na escala local uma adoção de postura reformista, pautadas “na gestão democrática da cidade e na redistribuição da riqueza produzida com o uso privado do solo urbano e as suas benfeitorias”, mas não sem perder de vista a necessidade de um “enfrentamento do poder paralelo e invisível existente no interior da administração pública local”, que realize plenamente os objetivos da gestão urbana democrática (RIBEIRO E SOUZA, 2015, p. 16-17).
Neste sentido para alcançar a materialização das propostas de intervenção redistributiva seria necessário compor com a gestão democrática uma intervenção em que os investimentos urbanos se orientassem pela melhoria na qualidade de vida em áreas ainda não dotadas de infraestrutura adequada às funções urbanas, bem como conduzir o mercado imobiliário na contramão da ações especulativas, espoliativas e meramente direcionada a acumulação do capital pelo proprietário e incorporador.
Neste ponto, nos chama a atenção que instigar contribuições nessa direção, com suas dificuldades intelectuais e políticas, que “decorrem dos efeitos da crise de transição histórica sobre o próprio campo intelectual, expressas pela instauração de disputas entre categorias de enunciação da realidade social” (RIBEIRO e SOUZA, 2015, p. 17-18) continuam a nos “atormentar” ainda sobre a condução de uma crise, com características distintas daquela, mas sob a mesma dominância financeira intensificada por uma grave crise democrática e por um modelo de sociedade digital inexistente naquelas condições.