o cotidiano escolar (deve) expressar o universo de múltiplas
práticas formativas que tensionam a relação entre produção
e apropriação das objetivações genéricas do ser social parasi: ciência, arte, filosofia, moral e política. E é desta perspectiva que consideramos a possibilidade de uma abordagem
– crítica e alternativa àquela exposta anteriormente – do
cotidiano com base nas relações entre trabalho, prática social e reprodução social (González, 2003, p. 70).
Somente desta perspectiva é que faz sentido afirmar que o ensino da escrita está no cerne da atividade
escolar, perpassando todas as áreas de conhecimento: o
estudo da História, da Geografia, da Política, da Economia, da Astronomia, por exemplo, se organiza em função
de referenciais específicos e de modos de compreender a
realidade, elaborados muito além dos contextos imediatos
da vida prática e veiculados por uma escrita que não é a
que se encontra no dia-a-dia das pessoas. O mundo da
escrita não é o mundo das letras nem dos estudiosos da
linguagem, é o mundo do conhecimento.
Agora retomo e refaço a tese que defendi em A
sombra do caos (Britto, 1997). Aprender a ler e escrever na
escola deve, portanto, ser muito mais que saber uma norma ou desenvolver o domínio de uma tecnologia para usá-
Luiz Percival Leme Britto
Programa de Pós-Graduação em
Educação
Universidade de Sorocaba, SP, Brasil
la nas situações em que ela se manifesta: aprender a ler e
escrever significa dispor do conhecimento elaborado e
poder usá-lo para participar e intervir na sociedade.