Existem algumas outras doenças, bastante comuns, que são de indicação chamada de controversa, ou que, pelo menos, existem centros que defendem um tipo de posição em relação à indicação e, outros, posições diferentes. Isto diz respeito, principalmente, às doenças hepáticas crônicas de natureza viral (vírus da hepatite B, vírus da hepatite C e outros vírus hepatotróficos) e à cirrose por álcool. Deve-se enfatizar que, dessas indicações, a mais controvertida é a do paciente portador de cirrose pelo vírus da hepatite B. Esse vírus, frequentemente, reinfecta o fígado transplantado e, muitas vezes, produz evolução mais grave do que aquela que produziu no fígado original. Outra indicação controvertida é citada na cirrose pelo alcoolismo crônico. Primeiramente, é importante confirmar que o paciente que vai se submeter a esse tipo de procedimento esteja abstinente e que a equipe tenha razoável segurança de que não vai retornar ao álcool após o transplante. Para isso, é fundamental que se dê um suporte psicológico e psiquiátrico de forma a reassegurá-lo no seu objetivo de interromper o hábito. De qualquer forma, não compete ao médico excluir o paciente dessa possibilidade terapêutica pelo fato de ter desenvolvido a doença hepática pelo álcool. Se por acaso algo nesse sentido deve ser feito, cabe às autoridades de saúde pública do País e não pelo médico. Este tem o dever de tratar o paciente, independentemente da natureza da doença que o levou à insuficiência hepática terminal. Outra situação, infelizmente bastante comum, é a do paciente que tem carcinoma hepatocelular desenvolvido como complicação da doença hepática crônica. Como se sabe, diversas doenças acabam levando, na sua fase terminal, ao desenvolvimento de um tumor primário do fígado — o hepatocarcinoma. O paciente, cujo transplante é realizado nessas condições, apresenta evolução pós-operatória não muito diferente daquela dos que são operados sem tumor. Para aqueles com tumores maiores, cada vez mais está se vendo que a recidiva acaba ocorrendo, e levando a índices de sobrevida, a longo prazo, que vão progressivamente decrescendo à medida que o tamanho do tumor é maior. Por isso, é importante acompanhar os portadores de doença hepática crônica de perto, por meio de marcadores tumorais, como a alfafetoproteína, e com métodos de imagem, como o ultra-som, visando à detecção precoce dos tumores quando são menores que 3cm. O transplante, nesta situação, tem indicação de prioridade, uma vez que, se demorarmos muito para realizá-lo, o tumor vai se desenvolver e atingir tamanho que torna o transplante proibitivo.