A barganha de Vargas com os EUA Em 1930, um movimento militar liderado por Getúlio Vargas pôs fim ao domínio oligárquico. Os novos ocupantes do poder, tal qual aqueles que proclamaram a República em 1889, careciam, no início, de projeto de política exterior. Eram, porém, suficientemente pragmáticos e sabiam da importância das relações com os Estados Unidos. Assim, em dezembro de 1933, em Montevidéu, por ocasião da VII Conferência Internacional Americana, por instância do secretário de Estado Cordel Hull, o chanceler Melo Franco anunciou a adesão do Brasil ao pacto Briand-Kellog (1927), de renúncia à guerra.14 Em 1937, ocorreu tentativa de um golpe de Estado, de caráter fascista, contra Getúlio Vargas. Esse fato, bem como a ascensão, no ano seguinte, de Oswaldo Aranha, um simpatizante dos EUA, ao cargo de Chanceler, representaram verdadeiro turning point da diplomacia brasileira, que passou a ter uma linha definida de aproximação com os EUA.15 Foi, porém, uma aproximação negociada, pois ao Brasil se apresentavam alternativas, pelo menos no plano comercial. Em meados da década de 1930, havia outras oportunidades de comércio externo, com o surgimento de novos mercados potenciais para os produtos brasileiros.
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O Brasil reformulou, “com senso muito pragmático”, sua política de comércio exterior, aproveitando-se das rivalidades dos blocos antagônicos em formação, para elevar seu poder de barganha nas negociações externas. O país manteve as práticas de comércio liberal dos EUA, “forçando-os, contudo, a agir em razão das condições de competição provocadas” e, ainda, incrementou o intercâmbio com a Alemanha e a Itália, por meio de mecanismos de comércio compensado.16 A busca do desenvolvimento econômico tornou-se, durante a década de 1930, a preocupação central do Estado brasileiro e, para alcançá-lo, a industrialização era o “objetivo síntese”.
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Da indústria se esperava “o aumento da riqueza, o provimento de meios de segurança, a abertura de negócios para a burguesia nacional, a expansão do emprego para as massas urbanas e a modernização da sociedade como um todo”.17 Para tanto, era necessário instalar uma usina siderúrgica de grande porte, que poucos países tinham à época. Em 1940, após Washington tomar conhecimento de oferta da empresa alemã Krupp para a construção desse tipo de usina no Brasil, Vargas obteve o financiamento norte-americano, através do Eximbank, para a construção da Usina Siderúrgica de Volta Redonda, empresa estatal. No ano anterior, os EUA, por meio de acordos de crédito e cooperação econômica, haviam concedido outro empréstimo ao Brasil, de US$ 40 milhões.
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Para os EUA, o Brasil tinha importância política e estratégica. Sem o apoio brasileiro e já tendo contra si a resistência argentina, Washington não conseguiria estabelecer um sistema pan-americano que lhe garantisse apoio do hemisfério para se posicionar frente ao expansionismo japonês e alemão. Ademais, as matériasprimas brasileiras eram importantes para as necessidades da indústria bélica norteamericana, bem como a posição do Nordeste brasileiro constituía verdadeiro “tram-polim” aéreo e ponto mais curto e seguro também para a travessia marítima, rumo ao teatro de operações no Norte da África. O desencadear da II Guerra Mundial comprometeu o delicado equilíbrio que o Brasil mantinha entre os Estados Unidos e a Alemanha. Em 1942, na Conferência dos Chanceleres Americanos, no Rio de Janeiro, Vargas apoiou a demanda norteamericana de busca de solidariedade continental. O Rio de Janeiro acatou, em 28 de janeiro desse ano, a recomendação da Conferência para que os Governos americanos rompessem relações diplomáticas e comerciais com a Alemanha, a Itália e o Japão. O Brasil declarou estado de beligerância com a Alemanha e Itália, em 21 de agosto de 1942, devido ao torpedeamento de cinco navios mercantes seus, por submarinos alemães. No ano seguinte, em janeiro, o presidente Roosevelt, em escala na sua viagem de retorno de Casablanca, encontrou-se com Vargas em Natal,
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