Dentro de um programa de desenvolvimentismo, a Política Externa Independente (PEI) – nome pelo qual ficou conhecida a política externa dos governos de Jânio Quadros e João Goulart – tinha como princípio básico uma atuação independente frente à bipolaridade EUA-URSS existente na época, ou seja, não tomando partido quanto ao apoio das superpotências (EUA-URSS), visando proporcionar ao Brasil os benefícios de uma ampliação do comércio internacional. Livre do engessamento provocado pelas restrições ideológicas, o Brasil poderia manter relações comerciais não somente com os países do bloco capitalista, mas também com aqueles que adotavam o regime socialista. Essa nova atitude era defendida como um caminho para o desenvolvimento econômico e social. Segundo San Tiago Dantas, chanceler do período parlamentarista do governo João Goulart, “a instabilidade das instituições democráticas no hemisfério [...] tem origem no subdesenvolvimento econômico [...] Se quisermos acautelar a democracia americana dos riscos políticos que a ameaçam, nossas atenções terão de concentrar-se em medidas de promoção do desenvolvimento e da emancipação econômica e social”.[2] É importante notar que o comunismo, assim como qualquer regime autoritário, era condenado pela chancelaria brasileira durante o período, embora esta se manifestasse contrária a intervenções. Defendiam-se as instituições democráticas e a promoção do desenvolvimento como forma de consolidá-las e evitar, desta forma, o avanço da ideologia comunista.
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Pouco antes de sua renúncia, o presidente Jânio Quadros escreveu um artigo para a revista Foreign Affairs expondo e justificando a nova política externa que adotara.[3] A ideia do desenvolvimentismo, ou seja, a adoção de uma política exterior que pudesse fomentar o desenvolvimento econômico do país, já havia sido afirmada no governo de Juscelino Kubitschek e exemplificada na OPA (Operação Pan-americana). Sua importância como um dos princípios e pilares de sustentação da PEI é patente na afirmação de Quadros no referido artigo: “(...) nossa situação econômica coincide com o dever de formar uma frente unida na batalha contra o subdesenvolvimento e todas as formas de opressão”. Essa posição justificava a aproximação com os países do bloco soviético, na medida em que o comércio com esses países pudesse favorecer a balança comercial brasileira. Dentre os exemplos dessa aproximação, são notáveis o anúncio do restabelecimento de relações diplomáticas com a URSS e a visita do vice-presidente João Goulart à China de Mao Tse-Tung.
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Outro princípio fundamental da Política Externa Independente era o da não-intervenção e apoio ao direito de auto-determinação dos povos. Um de seus corolários foi o posicionamento favorável à emancipação de territórios não-autônomos, independentemente de vinculação ideológica, que só se manifestou titubeante no caso da independência de Angola devido aos tradicionais laços de amizade entre Brasil e Portugal.[4] O exemplo em que se teve a oportunidade mais notável de colocar em prática esse princípio foi a questão de Cuba, objeto da VIII Reunião de Ministros das Relações Exteriores da OEA (Organização dos Estados Americanos) em 1962, a Conferência de Punta del Este. A posição defendida pelo Brasil nos discursos foi a de não excluir Cuba da OEA; o chanceler brasileiro San Tiago Dantas argumentava que afastá-la do sistema interamericano e do bloco ocidental produziria efeito contrário ao desejado, aproximando-a decisivamente da URSS.[5] A solução sugerida pela delegação brasileira era um estatuto de obrigações negativas, em que Cuba se comprometesse a não participar de alianças com bloco soviético e não estimular a subversão na América, uma espécie de “finlandização”. O Brasil se absteve de votar em relação à exclusão de Cuba da OEA e votou favoravelmente à exclusão desse mesmo país da Junta Interamericana de Defesa.
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