Em busca do desenvolvimento: do alinhamento incondicional à política externa independente.Terminada a II Guerra Mundial, deposto Vargas e eleito Presidente o general Eurico Gaspar Dutra (1946-51), era grande a expectativa dos governantes brasileiros quanto à continuidade da cooperação econômica dos EUA em relação ao Brasil. Não se deram conta de que, o que consideravam ser a “relação especial” com o grande país do Norte, não tinha esse caráter para Washington. O papel do Brasil passou a ser secundário na estratégia norte-americana para a segurança hemisférica.19 O surgimento da guerra fria, com a bipolaridade norte-americano-soviética, reduziu a margem de manobra externa brasileira. Afinal, o continente americano não era região problemática para os EUA, pois aqui o comunismo não se apresentava como elemento ameaçador.O Governo Dutra, convencido de haver essa relação especial, promoveu um alinhamento de sua política externa, em relação aos EUA, nas questões políticas multilaterais, de segurança hemisférica ou de doutrina ideológica.20 O Rio de Janeiro sediou, em 1947, a Conferência Interamericana para a Manutenção da Paz e da Segurança do continente, que resultou na assinatura, com a presença do presidente Truman, do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), instrumento de coesão hemisférica em torno dos EUA, na Guerra Fria. O TIAR foi assinado em 2 de setembro e, já no mês seguinte, o anticomunismo do Governo Dutra levou ao rompimento das relações diplomáticas com a URSS e à cassação do registro eleitoral do Partido Comunista do Brasil. No plano econômico, o Brasil seguiu o modelo de desenvolvimento basicamente liberal, implementando a chamada “diplomacia do liberalismo econômico”. Esse modelo foi, porém, pragmático, “de caráter funcional para o desenvolvimento brasileiro”, sendo “muito pouco liberal” em suas manifestações práticas.
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Demonstra-o a atuação brasileira na Conferência de Havana, realizada entre novembro de 1947 e março de 1948, e da qual resultou a carta instituindo uma organização internacional do comércio. Nessa ocasião, o Brasil defendeu, precocemente, um “tratamento especial” para os países em desenvolvimento e da adoção de regras multilaterais de comércio com dispositivos flexíveis para “fomentar e auxiliar o desenvolvimento industrial assim como o desenvolvimento econômico geral”.21 Embora não se confirmasse a “relação especial” com os EUA, durante o Governo Dutra manteve-se a ilusão na nunca prometida ajuda norte-americana para o desenvolvimento brasileiro. O único resultado concreto foi a constituição de “comissões conjuntas” para discutir os "problemas econômicos”: a “Comissão Técnica Mista Brasil-Estados Unidos” (1947-8) conhecida como “Missão Abbink” e, depois, a “Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para o Desenvolvimento Econômico” (1950-3). Em ambos os casos, os representantes brasileiros pleiteavam discutir projetos de desenvolvimento industrial, para os quais se requeria “ajuda governamental” - dinheiro do Tesouro dos EUA -, enquanto, na perspectiva dos norte-americanos, a cooperação econômica deveria se limitar à criação de “condições favoráveis” para o ingresso de capitais privados.22
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