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Por que (não) ensinar gramática? - Coggle Diagram

- - - - O papel da escola é ensinar língua padrão
        
        Essa tese é clara: o papel da escola é ensinar língua padrão . Podem dizer que aprender a língua padrão seja difícil, logo “não se deve ensinar ou exigir o domínio do dialeto padrão dos alunos que conhecem e usam dialetos não padrões” (POSSENTI, 1996, p. 13/PDF). Isso é um preconceito que deve ser combatido; ele subestima a capacidade dos falantes e a complexidade da língua padrão. Na verdade não se aprende a língua padrão por razões que tem a “ver em grande parte com os valores sociais dominantes e um pouco com estratégias escolares discutíveis” (POSSENTI, 1996, p. 13/PDF).
    - - Damos aula de que a quem?
        
        Para um projeto bem sucedido de ensino é necessário uma concepção clara do que seja ensino e do que seja criança. É fato que as crianças são capazes de aprender línguas, independente de sua condição material. “Se as línguas são sistemas complexos e as crianças as aprendem, de uma coisa podemos ter certeza: elas não são incapazes.” (POSSENTI, 1996, p. 18/PDF).
    - - Não há línguas fáceis ou difíceis
        
        Povos primitivos tem uma língua primitiva. “Afirmar que há línguas primitivas é um equívoco equivalente a afirmar que a Lua é um planeta, que o Sol gira ao redor dia Terra, que as estrelas estão fixas em uma abóbada.” (POSSENTI, 1996, p. 22/PDF). Hoje sabemos que todas as línguas são de estruturas de igual complexidade.
    - - Todos os que falam sabem falar
        
        Uma coisa é óbvia: os que falam uma língua o fazem porque sabem falar essa língua. Podem falar em seus dialetos, mas sabem falar. Alguns vão dizer que falam, mas falam errado. O conceito de erro é complexo. “[O] os erros que condenamos só são erros se o critério de avaliação for externo à língua ou ao dialeto, ou seja, se o critério for social.” (POSSENTI, 1996, p. 26/PDF).
    - - Não existem língua uniformes
        
        Fatos científicos: as línguas variam. “[A] variedade linguística é o reflexo da variedade social e, como em todas as sociedades existe alguma diferença de status ou de papel entre indivíduos ou grupos, estas diferenças se refletem na língua.” (POSSENTI, 1996, p. 31/PDF).
  - - - Não existem línguas imutáveis
        
        O português veio do Latim e o Latim de outras línguas. “Não há língua que permaneça uniforme. Todas as línguas mudam. Esta é uma das poucas verdades indiscutíveis em relação às línguas, sobre a qual não pode haver nenhuma dúvida.” (POSSENTI, 1996, p. 35/PDF).
      - Sabemos o que os alunos ainda não sabem?
        
        Uma receita óbvia de ensino (para alunos que já saibam escrever minimamente e não estão em alfabetização): “O que já é sabido não precisa ser ensinado.” Com um diagnóstico de leitura e escrita, sabe-se o que os alunos já sabem e, portanto, ensina-se o que eles ainda não sabem. Elege-se as prioridades para a série e deixa-se alguns problemas para depois quando o aluno estiver mais capacitado.
      - Ensinar língua ou ensinar gramática?
        
        O domínio da língua dispensa a metalinguagem técnica. Há aqui uma diferença entre saber gramática e saber a língua. “Que saber usar suas regras é uma coisa e saber explicitamente quais são as regras é outra. Que se pode falar e escrever numa língua sem saber nada "sobre" ela, por um lado, e que, por outro lado, é perfeitamente possível saber muito "sobre" uma língua sem saber dizer uma frase nessa língua em situações reais.” (POSSENTI, 1996, p. 53/PDF).
    - - Falamos mais corretamente do que pensamos
        
        “Algumas pessoas falam tudo errado.” Essa é uma fala preconceituosa. Falar diferente não é falar errado. O falante percebe alguns desvios e outros não. “Transponhamos o problema para o português: se alguém diz vô saí (sem o ditongo de "vou" e sem o "r" de "sair"), nós praticamente não percebemos que houve um "erro".
    - - Língua não se ensina, aprende-se
        
        “Como aprendemos a falar? Falando e ouvindo. Como aprenderemos a escrever? Escrevendo e lendo, e sendo corrigidos, e reescrevendo, e tendo nossos textos lidos e comentados muitas vezes, com uma frequência semelhante à frequência da fala e das correções da fala.” (POSSENTI, 1996, p. 48/PDF). Logo, leitura e escrita devem ser feitas além dos exercícios avaliativos, escrever e ler para a vida, como fazem os escritores e jornalistas.