O artista nada facilmente nas águas do Inconsciente, ou seja: com as energias que vem do fundo do Inconsciente, o artista transforma em expressões. Fazer isso. Ouvir o Inconsciente.
Compor é estar em contato com essas energias, com essa vida que me habita.
Estar sempre em relação com essas energias, não é nada "conveniente", com conforto em fazer, a relação com essas energias é intensa, talvez dolorosa, mas eu vou manter, não vou fugir do que está em mim.
E não é compor obsessivamente-compulsivamente como uma forma de defesa de manter um estado psíquico ou de proteger o próprio terreno psíquico, é compor sempre com algum tipo de processo de entrar em contato com as energias que me habitam. Nem é compor por compor também, como um fim em si mesmo. Não. Composição é um meio, um processo, de externalizar essas energias, não é um fim em sim mesmo, é um meio pra chegar até elas e o resultado não deve ser "qualquer um", deve ser a própria externalização dessas energias.
Nem é compor sempre, simplesmente por compor, é compor quando tiver algo pra sair, e deverá sair algo que deve ser levado a sério. Como vai ser isso? Não faço ideia.
E manter a técnica em dia para a execução.
Tirar de você esses confortos, gozos e conveniências da nova era. A relação com essas energias deverá, sim, ser dolorosa.
Não é uma atividade alegrinha/agradável/curiosa do Ego, não será brincadeira, nem pode ser.
Não é sobre conforto nem nada confortável de viver.
Toda relação plena com essas energias será intensa, sem aquele conforto propagado pela nova era. Intensa sempre e, em alguns momentos, dolorosa. Eu aguento. Eu suportarei.
Por mais dolorosa que seja a relação com isso, eu suportarei.
Hipoteticamente e em primeira análise, é bom ter cuidado com o Ego alegrinho, pois não é ele quem compõe, ele no máximo organiza, mas energias vem de dentro, vem do fundo e muitas vezes virá de forma dolorosa.
Não é mais sobre sobrevivência e autopreservação, há um senso de missão aqui.
O mundo precisa de indivíduos que saibam entrar em contato com energias no fundo de si e tragam isso para a superfície para externalizá-las na forma de expressões diversas, ao invés de simplesmente seguirem a ação das forças culturais, ou terem algum dos comportamentos descritos ramo anterior, mais ou menos como uma espécie de presente ao mundo. Sem romantizar aqui, sem se romantizar ou se ver daquela forma romântica.
Muitas vezes, a relação com essas energias é dolorosa, mas pode ser suportada.
Isso é uma forma de entender que não é sobre exatamente sobre mim, mas talvez sobre uma necessidade do mundo, hipoteticamente.
O músicos andam muito eclipsados, os artistas precisam sair.
É como se o mundo precisasse ter contato com o eterno (e não apenas com o banal) e alguns tipos de indivíduos podem fazê-lo