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Psico II - Leonor - A Soberania da Clínica - Coggle Diagram
Psico II - Leonor - A Soberania da Clínica
Introdução
A atuação na clínica tem se pautado pelo estabelecimento de diagnósticos.
Nesse sentido, os manuais de classificação DSM e CID são amplamente utilizados.
Há ainda no campo psi a atuação da psicanálise que, embora estabeleça diagnóstico, toma como partida o sujeito e sua forma de posicionamento no mundo.
A psiquiatria tem como herança a mensuração e a classificação para um diagnóstico baseado nos fenômenos observáveis
A psicanálise é uma teoria que se sustenta a partir do conceito de inconsciente e que apresenta um diagnóstico que não poderá ser dado exclusivamente pelos sintomas e sim em referência à estrutura clínica do sujeito
As Concepções Psiquiátricas e o Diagnóstico em Psiquiatria
Psiquiatria Clássica
Foi a psiquiatria clássica que influenciou diretamente a constituição das entidades clínicas, que vem sendo utilizadas, modificadas e incluídas nos manuais de classificação.
A psiquiatria foi a primeira disciplina científica a isolar a psique e localizar o mental como objeto de estudo e cuidados.
A resposta que a psiquiatria oferece situa-se na mensuração e classificação da sanidade mental e sua terapêutica se refere preferencialmente à medicação dos desvios observados.
Contudo, ela tenta fazer o sujeito entrar no discurso da ciência pela ótica da clínica médica e, portanto, das patologias do mental.
A psiquiatria utiliza-se das classificações psicopatológicas para a definição do diagnóstico, por preocupar-se com o estabelecimento de conhecimentos sistemáticos sobre as alterações psicopatológicas
Os manuais de classificação são constituídos a partir da Psicopatologia, a qual, não é um campo da psiquiatria, mas uma ciência autônoma.
"A Psicopatologia em acepção mais ampla pode ser definida como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano." Dalgalarrondo 2008
Psiquiatria Biológica
A psiquiatria biológica alcançou posição de destaque , pois foi a partir dela que esse campo de conhecimento pode legitimar-se como saber médico, buscando a objetividade e a cientificidade construída e validada na medicina.
Atualmente a psicofarmacologia influencia e legitima a psiquiatria biológica fundada nas neurociências e na medicina somática.
O surgimento do diagnóstico psiquiátrico ocorre por intermédio dos psicofármacos, o que é considerado um problema, uma vez que a leitura dos transtornos psíquicos sob a ótica de função e disfunção toma "o medicamento como seu operador estratégico por excelência".
A psiquiatria biológica chega a ser chamada de psiquiatria remedicalizada, sendo que a clínica passa a ser organizada pelos efeitos que podem ser obtidos por meio da medicação.
A psiquiatria assume uma posição que reduz o sujeito aos sintomas e o tratamento às substâncias que modifiquem o funcionamento do organismo.
A moderna psiquiatria biológica eliminou completamente a presença da experiência subjetiva do doente no acontecimento da enfermidade.
A história da existência do sujeito nas suas complexas relações com o espaço social em que ele se inscreve deixa de ter qq relevância para a leitura do que ocorre na profundidade do organismo, em particular, no funcionamento do sistema nervoso, sempre considerado a partir dos desequilíbrios neuro-hormonais.
Essa perspectiva biológica tende a não priorizar a fala do sujeito, mas a descrição dos fenômenos de forma objetiva, perdendo a experiência subjetiva na vivência da enfermidade.
3 diferentes papéis do diagnóstico em psiquiatria (Zarifian)
a. servir como uma forma de consenso entre os profissionais, possibilitando a comunicação dos mesmos sobre o caso;
b. ser utilizado não como um diagnóstico preciso, mas para apontar algumas semelhanças entre os "doentes", a fim de estabelecer uma homogeneidade para fins de pesquisa
c. como diagnóstico próprio do profissional quando não há a necessidade de comunicação e esse não se utiliza dos sistemas de convenção para estabelecer o diagnóstico.
O diagnóstico possibilita definir a gravidade do estado, estabelecer a direção do tratamento, decidir pela psicoterapia ou farmacologia, avaliar os riscos, dentre outras opções. (Kammerer e Wartel)
Os limites diagnósticos psiquiátrico não estão definidos apenas em termos de certo relativismo subjetivo, que considera cada pessoa uma realidade inatingível e única; estão na realidade limitados também pelo grau de subjetividade do construto diagnóstico que é uma "criação" humana (Santos)
As Concepções Psicanalíticas e o Diagnóstico em Psicanálise
O diagnóstico em psicanálise traz outra perspectiva em relação ao diagnóstico médico.
Freud aponta que ao contrário da medicina, a psicanálise não pode prever um tempo para o tratamento e nem para o diagnóstico, uma vez que prioriza a fala e a escuta do sujeito, e é a partir daí que o diagnóstico será estabelecido e o tratamento orientado.
Ao diagnosticar qq sujeito, estamos classificando-o e colocando-o em determinado grupo, já que todo diagnóstico implica em uma comparação com outros sujeitos que tenham "sintomas" semelhantes.
O diagnóstico traz como consequência a perda da singularidade do mesmo e estabelece as classes que apontam grupos de exclusão.
Miller nos diz que a demanda para a clínica psicanalítica é individual, ou seja, parte do próprio sujeito, enquanto a demanda da psiquiatria provém do contexto social.
A psicanálise trata pela exceção, considerando cada caso, em sua singularidade, como caso único.
As entrevistas preliminares consistem em permitir que o sujeito fale tudo que lhe venha à mente, uma vez que é a partir da sua fala que o psicanalista estabelece o diagnóstico da estrutura clínica, que orientará o tratamento.
A posição do analista na transferência, implicado na escuta que faz, é fundamental para a construção do diagnóstico.
No diagnóstico em psicanálise, consideramos que a "doença" ocupa um sentido para o sujeito, que está afastado de sua consciência, mas inserido
na trama de seu desejo.
O Fenômeno e a Estrutura
Embora o fenômeno esteja relacionado à clínica psiquiátrica, o mesmo não é contraditório ao diagnóstico psicanalítico.
É a partir dos fenômenos que podemos ter acesso à estrutura do sujeito
A psicanálise, entretanto, não se utiliza desses fenômenos para classificar o sujeito, mas parte dos mesmos como instrumentos de auxílio no estabelecimento do diagnóstico estrutural
os fenômenos na clínica psicanalítica não indicam o estabelecimento de um diagnóstico fenomenológico, mas permitem a compreensão da constituição da estrutura clínica, assim como de sua função na subjetividade e de sua dinâmica
Por sua vez, a psicanálise não estabelece diagnóstico fenomenológico, mas preocupa-se com o diagnóstico estrutural, sendo esse aspecto o que indica a grande diferença entre a clinica psiquiátrica e a clínica psicanalítica
O psicanalista, assim, deve estar atento aos fenômenos, já que esses auxiliam na compreensão da forma como o sujeito vivenciou a travessia do complexo de Édipo, ponto essencial em que se localiza a formação da estrutura clínica do sujeito.
Cabe, pois, ao psicanalista oferecer a possibilidade de o sujeito mostrar-se enquanto tal, abrindo-lhe a oportunidade de falar, assim como de ser escutado enquanto outro.
Para tal, deve-se preocupar não só com o presente e com os fenômenos que se apresentam nesse tempo, mas possibilitar ao sujeito a percepção de seu passado e de seu futuro.
Um sujeito para Além da Psiquiatria e da Psicanálise
Compreendemos então que o diagnóstico estrutural, diferentemente do diagnóstico fenomenológico, coordena-se a uma nomeação que ao invés de inserir o sujeito em um grupo, marca sua singularidade.
Diagnosticar na psicanálise deve ter como objetivo tocar um modo singular de gozo, operação que não faz grupo nem classe
O texto trouxe um caso clínico de um jovem agressivo que tinha vários diagnósticos: esquizofrenia hebefrênica, esquizofrenia paranoide, retardo mental leve, epilepsia. Além disso tinha hipertensão, diabetes mellitus e obesidade mórbida.
Foi expulso de diversas instituições psiquiátricas, sempre por causa das agressões.
De saída, os diagnósticos excluíam o sujeito, privilegiando a dimensão sintomática, sem, no entanto, possibilitar alguma via de tratamento.
Partindo da prática clínica para fomentar a discussão sobre o diagnóstico em saúde mental, seja ele psiquiátrico ou psicanalítico, podemos nos perguntar: Em que o diagnóstico ajudou na condução do tratamento?
A entrada da escuta psicanalítica favoreceu o acolhimento do sujeito mesmo diante de sua precariedade simbólica e de sua tendência agressiva.
Para além da querela diagnóstica, foi o lugar conferido a esse sujeito que possibilitou as operações clínicas permitindo uma passagem da condição do intratável para o tratável.
O pedido de uma supervisão clínica por parte da analista, envolvendo toda a equipe do serviço, esvaziou sua posição de saber sobre o caso e a ênfase exclusiva no diagnóstico, seja ele fenomenológico ou estrutural.
Ocupando essa posição, a analista consentiu com o não saber, permitindo que toda a equipe pudesse saber não saber.
para além do diagnóstico, é a direção do tratamento, estabelecido sob transferência, e a construção do caso clínico que possibilitam o aparecimento do sujeito no que ele tem de mais singular.