Um juiz de 75 anos vai até uma clínica para uma consulta de acompanhamento de rotina. Ele está em bom estado de saúde, toma hidroclorotiazida para HA e sofre de constipação controlada com dieta. É fisicamente ativo e segue uma dieta meticulosa à base de fibras para manter o funcionamento do intestino. Sua última colonoscopia de rotina estava normal há três meses. O paciente também foi submetido a um teste ergométrico, com resultados completamente normais há seis meses; todos os exames de sangue, incluindo a mensuração do antígeno prostático específico, estavam dentro dos limites de normalidade. O colesterol total está em 130 mg/dL. Durante essa consulta, ele é acompanhado por sua mulher, que também é paciente do médico que o atende; ela discretamente chama o médico e, em particular, lhe conta que acha que seu marido está “deprimido ou talvez tenha Alzheimer”. Ela diz que ele está se isolando cada vez mais, principalmente em ambientes com grupos de pessoas. Ao exame, pode-se constatar um senhor idoso, fisicamente em boa forma e afebril, com os seguintes sinais vitais: pulso de 68 bpm, PA de 128/72 mmHg e FR de 14 irpm. Observam-se apenas achados de cerume auricular bilateral não oclusivo e sopro cardíaco sistólico precoce bem suave de grau inferior a I/VI. Contudo, em um momento no exame, quando o médico respeitosamente pede para ele “se levantar”, o paciente olha com um ar de zombaria e diz: “Deitar?”. O médico, então, decide prosseguir o exame formal do estado mental, em virtude das preocupações da esposa. Curiosamente, o médico observa que todas as respostas visuais e espaciais desse paciente (como desenhar um pentágono, um cubo ou um relógio) são feitas com bastante habilidade. No entanto, as respostas verbais são erráticas e irregulares; por exemplo, quando pediu para que ele desenhasse um avião, ele respondeu de forma irritada e impaciente: “Desenhar um leitão!”. Esse homem aparentemente comete erros parafásicos; por exemplo, o médico pede para ele repetir as palavras: “suar, trafegar, surtir” e ele responde “soar, traficar, sortir”. Ele não parece deprimido e, por fim, interrompe o teste e diz: “Oh, doutor, pra que tudo isso?”