Você fica lamentando não ter feito isso ou aquilo ou não ter sido isso ou aquilo
Como se a sua tivesse que ser ou tivesse que ter sido uma sequência de imagens abstratas vindas de fora como se fossem checkpoints de um rally
Fez isso, então foi isso
Não, minha vida não é um rally
Eu não sigo checkpoints vindos de fora
Não sigo um arco de imagens abstratas vindas de fora
E nem devo sentir que devo alguma coisa a isso
Se introjetei isso que saia
Minha vida não será dissociada a nenhum objeto introjetado
Mas sim de dentro
Não devo sentir que devo alguma coisa a algo que não proveio de dentro de mim
Nem ficar com sensação de dívida de algo que eu não quis, como se fossem "obrigações culturais"
Tire isso de você
Isso não existe, isso foi incorporado e se fez em mim, mas nunca teve a ver comigo
Voltar, sim, pra fruir do prazer do próprio corpo
Voltar, sim, para ser eu mesmo
Voltar, sim, para viver minha própria vida
Chega de sentir que deve algo a qualquer "obrigação cultural" de qualquer tipo
Chega de achar que deve corresponder a qualquer objeto cultural introjetado provindo de fora
Chega
Que minha minha provenha de dentro a partir de agora
Somente de dentro
"Obrigações culturais" e desejos de rebanho são apenas isso: objetos introjetados
Não existe obrigação cultural, não faz sentido se dissociar para corresponder a objetos introjetados
Os objetos culturais que são introjetados no sul são diferentes dos objetos culturais introjetados no nordeste, mas são apenas isso: objetos introjetados
No fundo, ninguém é isso
Qualquer objeto introjetado atrapalha tudo, porque dissocia
Ou faz o sujeito ficar aflito por "não ter sido isso"
Ou pior faz o sujeito acreditar que "foi aquilo"
Ninguém foi ou deixou de ser nada: são apenas imagens, regras ou ideais, seres humanos não são imagens, nem regras e nem ideais
Somos seres humanos complexos e únicos, não somos imagens culturais
É tolo que acredita que deve algo a um objeto introjetado, e é tolo quem acredita que é ou foi um objeto introjetado
Seja imagem, regra ou ideal
Não se pode ser cultura
Sem o contato com o profundo intimo de si mesmo, não há vida
Pergunta para a supervisão: O analisando quer que você corresponda à mesma dissociação dele, que corresponda ao objeto que ele introjetou, que compartilhe de sua condição, como você não corresponde, ele fica no vácuo, no vácuo vem o sintoma (incômodo) que vai o curar da dissociação provocada pela introjeção de tal objeto e a posterior alienação do Eu do sujeito a este objeto introjetado
A questão da afetividade na infância foi apenas uma disputa ou uma sobreposição de objetos-regra sendo introjetados
Só isso
Se somos humanos, somos todos meio desonestos e meio débeis mentais, mas eu me cobrava não ser.
Não é possível.
Não é possível não ser humano.