Dois irmãos, Adinailson e Adriano, 23 e 24 anos respectivamente, previamente hígidos, foram internados para investigação diagnóstica por apresentarem: fadiga, perda de memória, irritabilidade e alterações de humor, diminuição da libido, anorexia leve, mialgia generalizada, pirose, parestesias e paresia e, presença de linhas escuras nas gengivas. Exames laboratoriais demonstram anemia (hemoglobina de 9g/dL), hiperbilirrubinemia (bilirrubina total de 2,5mg/dL), às custas de bilirrubina indireta e elevação discreta de aminotransferases (2-3 vezes acima do limite superior da normalidade). Após uma anamnese mais detalhada obteve-se a informação de que trabalhavam em uma fábrica de reciclagem de baterias automotivas há 10 anos, sem uso adequado de equipamentos de proteção individual, levando à hipótese de intoxicação por chumbo e cádmio. Foi realizada pesquisa de pontilhado basofílico em hemácias, através de esfregaço sanguíneo periférico, o que foi positivo em ambos os pacientes. Além disso, a dosagem de chumbo sérico encontrava-se em níveis aumentados (53mcg/dL e 78mcg/dL), configurando quadro de intoxicação crônica por chumbo (saturnismo). Durante a internação, os pacientes foram medicados e evoluíram com resolução da anemia e normalização de aminotransferases. A empresa não possuía CIPA e não respeitava as normas de logística reversa de resíduos sendo realizada a notificação ao Ministério da Saúde, através do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Os pacientes foram orientados a realizar afastamento imediato e completo da exposição, e foram informados que deverão fazer monitorização regular e reavaliação periódica clínica e laboratorial. Assustados, perguntaram se o perigo era só para eles que trabalharam diretamente com as baterias ou se havia risco para suas famílias e vizinhos, pois toda a sobra de material era jogada num pequeno córrego que passava perto da fábrica. A empresa foi autuada pela Cetesb e obrigada a adotar medidas de recuperação das áreas contaminadas. Atualmente devido as manifestações neurológicas agravadas foram encaminhados para acompanhamento com neurologista que diagnosticou neuropatia periférica por intoxicação crônica. O neurologista solicitou mais informações a respeito da utilização e contato dos pacientes com solventes orgânicos.