"No interior do marco teórico e cultural, definido pelas coordenadas nem sempre concordantes do desenvolvimentismo, do funcional-estruturalismo, da planificação regional e da economia espacial, as cidades da região eram percebidas com uma ambigüidade que oscilava entre a esperança e a desconfiança: como acessos preferenciais de uma corrente de idéias e estilos de vida que liberaria a América Latina das amarras do tradicionalismo e do subdesenvolvimento, incorporando as grandes massas de população rural às novas pautas econômicas, sociais e políticas da vida moderna, mas, ao mesmo tempo, como parasitas monstruosos, que sugavam toda a seiva vital do interior de nossos países. Como se vê, isso enlaçava, inadvertidamente, as principais certezas da planificação e da sociologia urbana da época (cujo ideal residia no modelo de urbanização clássico europeu, com sua miríade de cidades pequenas e médias distribuídas paralelamente sobre um território homogêneo, diante do contraste entre grandes cidades e vastos descampados, típico da configuração urbana latino-americana desde a colonização) com a mais longa tradição do ensaísmo de interpretação nacional, numa linha que vai desde La cabeza de Goliat, de Ezequiel Martinez Estrada, nos anos de 1930, até Lima la horrible, de Augusto Salzar Bondy, nos anos de 1960." p. 121-122