Please enable JavaScript.
Coggle requires JavaScript to display documents.
Bauman: diálogo da segurança e do efêmero Leandro Karnal, Bauman,…
Bauman: diálogo da segurança e do efêmero
Leandro Karnal
"A modernidade líquida em que vivemos traz consigo uma misteriosa fragilidade dos laços humanos, um amor líquido"
Zygmunt Bauman
1. AS VIVÊNCIAS DE BAUMAN
Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo, acompanhou diversos períodos históricos (e mudanças sociais) ao longo de sua vida. Desde o holocausto até a passagem de uma sociedade de produção para uma sociedade de consumo (ainda no século XX). Bauman só veio a falecer em 2017, aos 91 anos.
Aos seus 70 anos, inicia uma profunda análise a respeito dos textos de Freud, no qual introduz novas ideias a partir daquelas já desenvolvidas pelo autor.
Freud faz uso do termo "sentimento oceânico", sentimento que significaria algo como a sensação do ser um com o mundo externo, o "meu eu diluído no todo". Logo perdermos nossa individualidade para integrar o todo? Como superar tal divisão? A cultura pode ser considerada dessa maneira como ato repressivo?
Bauman, ao introduzir novas ideias ao texto de Freud, afirma que o que nos frustra é uma característica de nossa atual sociedade, o
consumo
.
"Eu só sou eu se eu consumir"
Marx em Manuscritos Filosóficos Econômicos constrói a ideia de que antes de se entender como ser humano o homem precisa se entender como trabalhador, pois é por meio deste que o homem se humaniza, sendo o homem produto do trabalho. Em nossa sociedade atual, trabalhamos com a finalidade de obtermos dinheiro para o consumo de bens e é através do consumo que acabamos por ser humanizados.
A pós-modernidade acaba por afastar aqueles que não se inserem na lógica do consumo. Quem está fora da cadeia de consumo perde sua humanidade!
O não-consumidor é o não-ser.
2. O QUE É A PÓS-MODERNIDADE?
É onde, segundo Bauman, podemos perceber:
A efemeridade das relações.
Tempos líquidos
de relacionamentos líquidos.
O colapso da razão e a ascensão da manipulação dos signos (sentidos).
Falência das meta-narrativas amplas.
Abandono do objetivo científico geral.
Surgimento do simulacro.
Presta-se mais atenção no fato do que na vivência.
Quantas vezes podemos perceber em shows que ao invés de todos observarem o que acontece no palco com seus próprios olhos observam através das câmeras de seus smartphones, pois não querem perder (já perdendo) nenhum segundo de gravação daquele momento incrível?
Bauman era um ferrenho crítico da pós-modernidade,
os tempos líquidos
, como o próprio gostava de chamar.
As lojas tornaram-se nossas farmácias onde buscamos por nossa cura. O ato de comprar nos proporciona o almejado bem estar.
Vivemos correndo atrás... Mas do que? Não há mais planejamento de vida.
3. INTERNET E REDES SOCIAIS
A Internet não eliminou as distâncias, mas recriou o
tribalismo
.
Existem duas maneiras de se
impedir o acesso a verdade:
Censurando.
Através do excesso de informações. Será que a noticia que eu li ontem era fake news?
Romper relações sempre foi um evento traumático em nossas vidas, mas na Internet é fácil como apertar um botão (literalmente).
O contato virtual acaba por ser a maneira como eu me protejo dos riscos do contato real.
O que pode ser considerado fruto da covardia de não se enfrentar a diversidade de ideias, opiniões e crenças que não são iguais a minha.
A volta ao útero:
redes sociais criam nossa zona de conforto.
4. O MEDO ATUAL
O medo é algo biológico, não uma invenção da sociedade.
Bauman define os medos atuais como medos plasma, aqueles que não possuem forma, são medos imprecisos.
Entretanto existe um medo atual bem definido, aqui não falo do medo de perder nossa tão estimada liberdade, mas do medo de ficar sem acesso. Aquele medo de ficar de fora.
Não possuímos medo de perder nossa liberdade, mas de perder
a segurança
.
O grande sonho humano é segurança!
Mas qual o problema deste medo?
Abro mão de minha liberdade para fugir dele. Um exemplo: eu aceito viver atrás das grades de minha casa.
Perde-se humanidade e autonomia pelo medo.
Viver com medo é ser escravo.
Mundo líquido:
o aumento do medo é o aumento da fragilidade.
5. SEGURANÇA E LIBERDADE
Para se ter uma vida digna é necessário liberdade e segurança.
Entretanto a humanidade ainda não encontrou o equilíbrio.
Constantemente abrimos mão de um para desfrutar do outro. Existe a escolha atual: ou a minha segurança, ou a minha liberdade.
Quero fazer um passeio as 23h da noite. Posso escolher minha liberdade e abrir mão de minha segurança fazendo tal passeio, ou escolher minha segurança e abrir mão de minha liberdade e ficar em casa.
Muita segurança e pouca liberdade resulta em
escravidão
.
Muita liberdade e pouca segurança resulta em
caos
.
6. RETROTOPIA
Impede que eu sonhe com o futuro e faz com que eu idealize o passado que não volta.
Só podemos vence-la através da
superação do medo
, assim saindo dessa "caverna (retrotopica) platônica".