Em 1996, a criação da Usina Hidrelétrica Serra da Mesa inundou uma área de cerrado na cidade de Minacu, em Goiás. A inundação criou cerca de 300 pequenas ilhas nas partes mais altas do terreno. Muitas espécies de lagartos desapareceram delas, provavelmente porque não havia comida suficiente para suas necessidades energéticas,mas uma espécie de lagarto menor, Gymnodactylus amarali, que se alimenta de insetos, continuou presente em algumas das ilhas. Os cupins maiores, antes consumidos apenas por répteis grandes, agora passaram a ficar "disponíveis" para esses animais menores. Só que havia um grande problema. As cabeças pequenas dos lagartos, de apenas um centímetro de largura, eram quase do mesmo tamanho dos cupins. Para eles, comer esses insetos era um desafio tão grande quanto um gato comer um esquilo.
Cabeças maiores: Para determinar se os lagartos realmente haviam evoluído, alguns animais foram capturados em cinco das ilhas que surgiram no meio da represa da hidrelétrica pela equipe da bióloga brasileira Mariana Eloy de Amorim, da Universidade de Brasília (UnB). Em seguida, foram comparados com lagartos que viviam em cinco áreas em volta da represa - zonas que não estavam isoladas. As espécies de lagartos estudadas vivem em ilhas criadas por uma represa na Serra da Mesa, no Estado de Goiás. Os investigadores mediram o tamanho da cabeça dos lagartos e, depois de sacrificá-los, abriram seus estômagos para ver o que haviam comido.
Os resultados foram surpreendentes. Apesar de apenas 15 anos terem se passado desde a criação da represa, os lagartos que viviam nas ilhas tinham cabeças 4% maiores que seus vizinhos. Esses 4% podem não parecer uma mudança significativa, mas foram suficientes para que os lagartos agora pudessem consumir os cupins.
Mas por que o corpo todo não cresceu? O motivo é que os corpos maiores demandam mais energia para se manter. Assim, esses répteis perderiam a vantagem potencial de ter mais alimento disponível se tivessem que consumir mais comida, explicou Janet Hoole, professora de biologia da Keele University, na Inglaterra. Uma das coisas mais interessantes é que os lagartos de todas as cinco ilhas estudadas desenvolveram cabeças maiores, ainda que estivessem isolados uns dos outros. Para Hoole, "isso sugere que aumentar o tamanho da cabeça, sem crescer o tamanho do corpo, é a forma mais eficiente de aproveitar a oportunidade de uma dieta mais variada que a usual para essa espécie".