Terceiro Espírito do Capitalismo
Na atual sociedade pós-industrial, por sua vez, o controle açambarcou os corpos em sua totalidade, abrangendo todos os tempos e espaços das diversas atividades vitais. As novas relações de poder penetram no dia a dia dos indivíduos e atravessam as interações sociais. (...) O “espírito empresarial” triunfou e está em todos os lugares, inclusive no gerenciamento dos corpos e das subjetividades daqueles que trabalham. Na sociedade contemporânea, de alguma maneira, nada parece poder fugir ao controle; algo que pode soar paradoxal, mas que revela como o impulso por liberdade e por espontaneidade foi capturado. (FERREIRA JORGE, 2014)
A lógica deste novo regime de poder é aberta e contínua, inspirada no paradigma digital. O novo espírito do capitalismo é globalizado e pós-industrial, marcado pela ascensão das multinacionais, pela quebra de barreiras geográficas e por um desenvolvimento sem precedentes das tecnologias, particularmente dos meios de comunicação e informação. Destacam-se, ainda, o poder do capital financeiro e a acentuada desregulamentação do mercado. (FERREIRA JORGE, 2014)
Neste quadro, saem de cena as organizações piramidais e burocráticas, enquanto surgem novas formas de administração baseadas num modelo em rede, dinâmico, horizontal e flexível. Os centros de comando rígidos e centralizados são dissolvidos e os cargos ganham novos contornos. As terminologias empresariais se metamorforizam e, numa espécie de eufemismo, as funções são relativizadas e ganham um menor peso, dissociando a ideia de uma simples e “engessada” prestação de serviços hierarquizada, passando a acompanhar os ritmos característicos da sociedade atual. O contingente dos assalariados, em consequência, não é mais composto por “funcionários”, mas por “colaboradores”.2 Os profissionais deixam de ser meros empregados, com funções, obrigações, direitos e deveres sempre bem delimitados ou restritos; graças às ideologias e às práticas de gestão empresarial implementadas neste terceiro espírito do capitalismo, esses sujeitos passam a se sentir mais autônomos nos ambientes corporativos da atualidade. Esse sentimento de liberdade, que costuma ser comemorado pelos analistas do presente, entretanto, é contraditório, já que hoje o tempo de trabalho se tornou incomensurável em sua “imaterialidade”, sendo capaz de penetrar em todas as esferas da vida. (FERREIRA JORGE, 2014)
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