Atuação de profissionais de psicologia na política de Assistência Social
Relação com a escuta
o contato da população brasileira com a psicologia, devido a legislação do SUAS, que prevê o psicólogo como parte da equipe mínima, tem se dado muitas vezes mais por meio do CRAS e da política de Assistência Social do que pela própria Saúde.
gerando um responsabilidade enorme a esses profissionais, no que concerne à mudança dos paradigmas da profissão: de liberal para servidor público e comprometido com pressupostos de igualdade e condições mais dignas.
levando a possibilidade de resoluções de problemas que não envolvam apenas dilemas pessoais, mas questões sociais mais genéricas, a realidade nacional, regional e local, com todas as limitações, que a psicologia (Matin- Baró, 1997)
Os desafios que os profissionais enfrentam
por exemplo no CRAS → condições e precariedade do trabalho, mudanças de concepções e programas com mudanças de gestão política, controle do trabalho, intervenção de poderes políticos, dificuldades sobre o fazer, ausência de formação específica, dentre tantos outros
Característica e método que é muito aplicado pela maioria dos profissionais de psicologia
Pesquisas e relatos de trabalhadores destacam o ouvir (suposta competência que psicólogos devem desenvolver em sua formação) como um dos elementos centrais para o desenvolvimento do PAIF
Assistência Social como uma política pública de garantia de direitos, bastaria o ouvir para garanti-los?
Mesmo que uma escuta qualificada possa ser de grande ajuda no desenvolvimento do papel do profissional dentro da politica de assistência social
os psicólogos que trabalham em CRAS, não recaírem em uma escuta passiva, indiferente e individualizante das demandas apresentadas pela população atendida
mas compreender que por trás de relatos particulares e de subjetividades estão questões sociais, mais complexas que medeiam tais relatos e até mesmo a formação da subjetividade.
garantia de direitos não seja alcançada apenas na passividade do ouvir ou do falar. Ela implica em ação e não apenas linguagem.
Mas qual o tipo de ação deve ser executada no exercício profissional na Assistência Social?
o psicólogo deve levar em consideração a experiência acumulada por outros profissionais da área, especialmente os de serviço social.
deve-se levar em consideração que escuta-ação e garantia de direitos são os polos do fazer (princípio de atuação).
Há de se refletir também como a própria organização social e a padronização da experiência na sociedade capitalista (im)possibilitam a escuta-ação e garantia de direitos.
O público que estes profissionais atendem abordam
a pobreza; a desigualdade; a injustiça; o acesso à cultura e informações e tantas outras contradições da realidade latino-americana e brasileira, acabam por favorecer a formação de determinados tipos de subjetividade, que ajudam a manter o mundo como está.
A construção do conceito de sofrimento ético-político
As Artimanhas da Exclusão – Análise psicossocial e ética da desigualdade social, de Bader Sawaia, 1999, onde primeira vez nessa obra, foi veiculada no meio acadêmico a definição do termo sofrimento ético-político.
Uma de suas conclusões na tese foi que: “O sentimento não é a forma embrionária da consciência, é seu elemento constitutivo” (p. 298).
o conceito de sofrimento ético-político foi criado na interface entre subjetividade e sociedade.
A concepção marxista de compreensão da sociedade é constitutiva do mesmo, concepção que a autora sintetiza na categoria dialética exclusão/inclusão para reforçar a ideia de que o sofrimento ético-político situa-se em uma sociedade conflituosa, especificamente na vivência dos sujeitos no processo de luta de classes.
o sofrimento demarcado não é um sofrimento de ordem individual, proveniente de desajustamentos e desadaptações, mas um tipo de sofrimento determinado exclusivamente pela situação social da pessoa, impedindo-a de lutar contra os cerceamentos sociais.
o sofrimento ético-político constitui uma categoria de análise da dialética inclusão/exclusão social.
Em síntese, é a “a vivência particular das questões sociais dominantes em cada época histórica ... Sofrimento que surge da situação de ser tratado como inferior, subalterno, sem valor, apêndice inútil da sociedade” (Sawaia, 1999, p. 56).
Nesse sentido, Sawaia (2006, p. 81) aponta: “O homem submete-se à servidão porque é triste, amedrontado e supersticioso, fatores que anulam sua potência de vida, deixando-o vulnerável à tirania do outro, em quem ele deposita a esperança e a felicidade.”
Sawaia destaca a relação entre sofrimento ético-político e autonomia, destacando a dimensão ética dos afetos.
ressalta que se trata de um sofrimento vinculado às relações com a sociedade, nas quais, mediante as afecções, o corpo vivencia um abaixamento de potência proveniente da passividade, da servidão ou
heteronomia frente a situações de exclusão engendrada pela desigualdade social