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“Meu Sonho É Ser Compreendido” - Coggle Diagram
“Meu Sonho É Ser Compreendido”
Relação médico-paciente
A assistência médica é guiada por uma anamnese adequada e um exame físico dirigido, os quais norteiam a elaboração de hipóteses diagnósticas e planos terapêuticos.
A comunicação é peça-chave nesse
processo.
Falhas de comunicação aumentam as chances de diagnósticos equivocados, erros de preenchimento de prontuário por problemas de compreensão na anamnese, constrangimentos, não adesão ao tratamento, sofrimento e
insatisfação do usuário
a comunidade surda ainda representa importante parcela da população brasileira que enfrenta inúmeras barreiras na acessibilidade à saúde.
Estima-se que 9,7 milhões de brasileiros apresentem algum tipo de deficiência, sendo 22,1% com caráter severo – isto é, indivíduos que NÃO ouvem ou com BAIXA audição, ainda que usem aparelhos auditivos.
Decreto nº 5.626 de 2005
este garante à pessoa com deficiência um ambiente preventivo, curativo e reabilitador,
porém
o Sistema Único de Saúde (SUS) apresenta muitos obstáculos
para o atendimento de pessoas com deficiência auditiva
também
determina a obrigatoriedade do ensino da Língua Brasileira
de Sinais (Libras) Para o curso de Medicina e os demais cursos de educação superior e profissional, a disciplina deve ser ofertada de forma eletiva.
a atenção básica é a principal porta de entrada para o SUS, é necessário investigar se os profissionais de saúde estão preparados para acolher o surdo nas suas múltiplas necessidades, respeitando sua autonomia e seu direito à promoção da saúde.
Trabalhos científicos
Alguns buscaram descrever a perspectiva dos médicos, outros, as percepções de indivíduos com surdez.
Estudos de revisão reuniram trabalhos para
fomentar discussões quanto aos obstáculos e às dificuldades enfrentados no atendimento.
entretanto
nenhum estudo abordou as percepções sobre a temática sob a perspectiva de médicos, surdos e graduandos de Medicina, todos atores em um sistema de saúde do mesmo município.
Metodo
A amostra foi por conveniência, não probabilística, sendo composta por três grupos no total de 181 participantes:
profissionais
médicos (n = 46)
critérios
atuar profissionalmente na
cidade de Maringá, no Paraná, independentemente do nível de atenção, serviço ou convênio (SUS, plano assistencial ou privado)
indivíduos surdos (n = 81)
critérios
apresentar deficiência auditiva congênita, caracterizada por surdez parcial ou total desde o nascimento; e residir em Maringá.
graduandos de Medicina da quinta e sexta séries (n =
54)
critérios
estar devidamente matriculado na quinta ou sexta série do curso de Medicina de uma determinada instituição de ensino superior da mesma cidade e, portanto, atuantes em campos de estágio curricular do internato.
A coleta foi realizada entre junho e outubro de 2018. Utilizaram-se dois instrumentos semiestruturados, elaborados pelos próprios autores, com base na literatura pertinente, constituído por duas seções.
para médicos e internos
Questões sobre presença de acompanhante,
sentimento durante a consulta, conhecimento de Libras, dificuldades na assistência aos surdos e estratégias de comunicação não verbal e Libras como ferramenta facilitadora para um atendimento de qualidade.
para surdos,
questões sobre conhecimento de Libras, necessidade de
acompanhante, resistência à procura de atendimento por medo de incompreensão, dificuldades no atendimento, estratégias
de comunicação utilizadas na consulta com o médico/interno, sentimento em consulta com profissional que desconhece Libras
e propostas para aprimoramento da atenção à saúde dos surdos.
Os participantes eram
usuários exclusivos de Libras ou bilíngues intermodais, estes também chamados “surdos português-sinalizados”, uma vez que sabem Libras e
também são falantes do português.
Aos depoimentos
relatados neste artigo, foram atribuídas as letras I, M e S seguidas do número correspondente ao entrevistado para internos, médicos e surdos,
respectivamente.
Realizou-se uma análise descritiva das variáveis quantitativas com
distribuições percentuais para variáveis categóricas e medida de tendência central e dispersão para variáveis numéricas.
Os dados obtidos das
questões dissertativas foram analisados e organizados em três corpus textuais baseados nas seguintes questões
Corpus dois:
Como você, interno de medicina, se sentiu perante
o paciente surdo durante o atendimento?
Corpus três:
Como você, paciente, se sentiu ao ser atendido por
um profissional com dificuldades de comunicação em Libras?
Corpus um
: Como você, profissional médico, se sentiu perante o paciente surdo durante o atendimento?
o material resultante foi submetido à análise
lexicográfica com auxílio do software Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRaMuTeQ, em que se utilizou a modalidade de análise de similitude.
Utilizou-se a declaração Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (Strobe) para revisão final do manuscrito.
Este estudo seguiu todos os preceitos éticos de acordo com a
Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 88254718.6.0000.5539).
Resultado
Do total de pessoas surdas, 56,7%(46) eram do sexo feminino. O nível de escolaridade apresentado por 48,1% (39) foi ensino médio completo, sendo o restante com nível superior.
Em relação à modalidade de serviço de saúde, 43,2% (35) mencionaram convênios, 39,5% (32) citaram o SUS e 17,3% (14) afirmaram que não possuem convênio de saúde e buscam atendimento particular.
Dentre todos os entrevistados,
97,5% (79) possuíam conhecimento de Libras, dos quais 80,2% (81) tinham conhecimento avançado da língua.
“núcleo de medicina”
46% (46) eram médicos e os demais acadêmicos, sendo 53,7% (29) da quinta série de Medicina e 38,9% (21) do sexta, e 7,4% (quatro) não responderam
A maioria, 76% (76), do núcleo de medicina afirmou já ter atendido
um paciente com surdez parcial grave ou total, sendo 56,5% (43) médicos e 43,5% (33) internos.
dificuldades
Para 58,7% (37) dos médicos e 51,2% (22) dos internos, a maior dificuldade relatada foi explicar informações sobre a doença, como plano terapêutico e esclarecimentos gerais.
Em relação à dificuldade de compreender o outro, 33,3% (21) dos médicos e 34,9% (15) dos internos referiram dificuldades em compreender o paciente.
e 38,1% (37) dos surdos afirmaram que têm dificuldade para compreender o profissional médico/interno
principais falas
Corpus dois
É mais difícil criar uma relação médico-paciente devido essa
barreira linguística. A comunicação acontece com maior frequência com o acompanhante e há obstáculos para passar e
receber informações do paciente. Há uma certa insegurança se foi passado exatamente o que queria se dizer
Corpus três
Na perspectiva dos surdos, o núcleo central entender está relacionado fortemente aos núcleos difícil e preocupado, mostrando que o paciente se sente incompreendido durante a consulta médica.
Corpus um
Desconfortável, insatisfeito por não conseguir toda a informação pretendida, por não conseguir entender completamente a história da doença contada pelo paciente e desconforto em solicitar as medidas para realização do exame
Estratégia mais utilizada
A presença de um acompanhante foi o recurso mais utilizado entre os entrevistados, correspondendo a 36,3% (33) para os médicos, 28,2% (20) para internos e 30% (24) para os surdos.
A escrita foi mais utilizada entre os profissionais – 19,8% (18) dos médicos e 19,7% (14) dos internos – do que pelos surdos, 16,3% (13).
A Libras foi usada quase nove vezes mais
pelos surdos do que por médicos e duas vezes mais pelos internos.
A mímica foi mais utilizada pelos profissionais.
Sugestões
É necessário que médicos, enfermeiros e demais profissionais saibam o básico de Libras. Em situações de emergência, não há tempo para escrever ou para não conseguir se comunicar.
Fazer curso de Libras, participar de palestra sobre surdez e contratar um intérprete. Associação de Surdos da minha cidade tem dois intérpretes, é pouco mesmo. Prefeitura não contrata mais.
Apenas 16 indivíduos do núcleo de medicina, dez internos (62,5%) e seis médicos (37,5%), afirmaram ter algum conhecimento em Libras.
Sobre o momento ideal
para que a capacitação para assistência ao surdo fosse incentivada durante a formação acadêmica.
35 sujeitos do núcleo de medicina, 22 internos (63%) e 13 médicos (37%13), posicionaram-se a favor da inclusão curricular da disciplina de Libras, enquanto 29 optaram pelo modo extracurricular
(62% (18) dos internos e 38% (11) dos médicos).
O restante acredita que
o aprendizado deveria ocorrer durante o treinamento na vida profissional por iniciativa própria ou outros.
A média de idade é de 31,8 (±10,1) anos, prevalecendo o sexo feminino com 56% (56). Os profissionais médicos atendem pelo SUS
(35%), por convênio (30%) e/ou atendimento particular (38%). O tempo médio de atuação dos médicos é de 13,8 (±9,7) anos
Em relação ao atendimento desses participantes,
Seis indivíduos do núcleo de medicina, sendo quatro (66,7%) internos e dois (33,3%) médicos, mencionaram que sentem desconfortáveis e inseguros quanto ao atendimento prestado;
49 indivíduos, 24 internos (49%) e 25 médicos (51,0%) médicos, afirmaram que, apesar do desconforto, mantiveram-se seguros quanto ao atendimento;
22 indivíduos do núcleo de medicina, sendo seis internos (27,2%) e 16 (72,7%) médicos, referiram que se sentem
confortáveis e satisfeitos em relação ao atendimento;
23 indivíduos(23%) não responderam à questão.
Discursão
opinião dos participantes surdos
sobre o atendimento, infere-se que alguns profissionais não detêm a real consciência das fragilidades da assistência ofertada
"Sinto-me angustiada, magoada e triste por não haver
comunicação comigo. Preocupada se o médico entendeu mesmo o que estou sentindo e se vou melhorar. Existe uma barreira de
comunicação, com pouco entendimento. Gostaria de ser tratada como os outros"
A interação médico-paciente é constituída de processos psicossociais complexos e utiliza ferramentas verbais e não verbais para que ocorra uma troca de informações entre o médico e paciente
IMPORTANTE
Essa interação não se relaciona apenas com a satisfação durante a consulta, mas pode interferir no diagnóstico e na adesão ao plano terapêutico.
O médico, como prestador de serviços na área da saúde, deve zelar não apenas por sua competência técnica, mas também pelo conhecimento aprofundado e pelas habilidades que favoreçam o estabelecimento de
processos de comunicação e relações de caráter interpessoal.
Como verificado neste estudo, a barreira linguística na relação médico-paciente pode gerar frustração e insegurança.
A assistência à pessoa surda se insere no mesmo modelo assistencial geral utilizado pelos demais cidadãos, baseada nos princípios de Integralidade, equidade e universalidade, como previsto na Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 8.080/90.
Assim, é de responsabilidade da atenção básica o desenvolvimento de práticas de cuidado à saúde direcionadas para os indivíduos que apresentem algum tipo de deficiência.
ACOMPANHANTES
contar com a presença de um acompanhante e
delegar a ele a missão de garantir a comunicação entre médico e paciente merece importantes questionamentos.
"O médico não sabe conversar e tem medo de se comunicar com surdos. Às vezes, não tem paciência para conversar devagar"
"Levo meus familiares como intérpretes, porque tenho medo de fazer o tratamento de forma inadequada. Os médicos deveriam aprender Libras e respeitar os surdos"
"Algumas vezes procuro ajuda médica sem acompanhante, mas me sinto insegura porque não consigo entender nem os exames solicitados, nem a conduta a ser seguida. O doutor fala muito difícil. Na presença do acompanhante me sinto mais segura"
Por outro lado, o acompanhante configura-se como um indivíduo que fragiliza a relação médico-paciente, principalmente quando envolve assuntos íntimos ou particulares
"Extremamente constrangido, pois tenho que expor meus
problemas a uma pessoa que não é da área da saúde. E como fica a ética e o sigilo"
"Muitas vezes, o acompanhante não tem ética e fico com medo por não receber as informações direto do médico. Em doenças como Aids, seria melhor receber a notícia direto do médico"
Uma das grandes premissas do atendimento humanizado e integral em saúde é a relação direta, sem atravessadores, entre profissional e paciente.
Código de Ética Médica
“é vedado ao médico deixar de garantir ao paciente
o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo”
A leitura labial como estratégia de comunicação foi mais apontada pelos participantes surdos do que entre internos e médicos.
Além de exigir muita concentração, a leitura labial pode ser prejudicada significativamente pela presença de bigode, sotaque, mudanças de posição ou uso de máscaras
A língua escrita pode ser identificada como uma barreira ao acesso dos surdos ao serviço de saúde, pois normalmente apresentam dificuldade com a língua portuguesa, uma língua secundária para eles, podendo gerar
constrangimentos
essa estratégia mostra-se menos eficaz, aumentando a possibilidade de erros de interpretação do caso.
Em relação ao emprego de mímica durante as consultas, a estratégia foi muito mais utilizada por parte dos profissionais, talvez pelo fato de que os movimentos gestuais e as expressões faciais são passíveis
de interpretação amplamente variável, podendo resultar em equívocos de compreensão, não sendo preferíveis por surdos
É unânime entre os estudos, incluindo o presente, que a Libras ocupa a última posição entre as estratégias utilizadas pelos profissionais, reforçando que a inclusão dela na graduação médica é recente e rara.
Conclusão
Este estudo explorou a interação médico-paciente por meio das perspectivas de profissionais médicos, estudantes e surdos, todos dentro da mesma realidade em termos de assistência à saúde.
Profissionais Médicos
parecem não perceber integralmente as consequências da má comunicação para os indivíduos surdos, portando-se mais distantes da dimensão dessa problemática e acreditando em
desfechos positivos por meio de ferramentas comuns a quaisquer dificuldades de comunicação.
Internos
mostraram-se mais sensíveis ao sofrimento dos surdos, externalizando certa insegurança e preocupação com o atendimento e a satisfação desses indivíduos.
Surdos
foi possível constatar a
complexidade do cenário de atendimento e as implicações negativas sobre a relação médico-paciente e sobre o bem-estar do indivíduo.
MINHA COMPREENSÃO
Como estudante de Medicina, podemos fazer valer ainda mais o Decreto N 5.626. Buscando aprender Libras, disseminando a importância desta disciplina para formação, profissionalismo, etc.
há necessidade de explorar este tema, podendo ampliar a pesquisa cientifica inserindo no processo de trabalho e levando mais a frente.
este foi meu principal fator de escolha desta eletiva. É de suma importância compreender nossos pacientes para realizar um diagnóstico mais coeso e traçar um tratamento mais correto.
não podemos ficar só com o que aprendemos na eletiva, necessitamos de aperfeiçoamento e pratica. para assim ter mais segurança quando nos depararmos com um surdo. seja no consultório ou em qualquer outro ambiente.
Como há pouco estudo sobre este tema, podemos concluir que ainda podemos contribuir muito mais com a disseminação da língua Libras
levar nosso conhecimento para fora da faculdade. Interagindo com colégios entre outras entidades, repassando todo nosso entendimento e conhecimento sobre libras.
passar para sociedade comum a importância de nos comunicarmos devidamente com a comunidade surda.