TAVARES, Jeferson C. Projetos para Brasília e a cultura urbanística nacional. 2004 (p.1 - 33)

Dissertação de mestrado Ori. Carlos Roberto Monteiro de Andrade EESC-USP

Objetivo: "resgatar, analisar os projetos para Brasília e identificar suas possíveis referências e matrizes urbanísticas." p.11

32 propostas identificadas e 25 analisadas

contrução de uma cultura urbanística nacional

condição dialética das posturas projetuais

INTRODUÇÃO

  1. A pesquisa

"os planos contribuem para a ilustração de um pensamento heterogêneo e peculiar da disciplina urbanística no Brasil" p.11

Método: "analisar o acervo de projetos para a Nova Capital e, assim, representar a confluência de um período fértil de realizações urbanísticas." p.12

  1. As Referências

Parte de das certezas da visão totalizante dos projetos sobre Brasília e a dúvida de de que haja certeza do "predomínio de um urbanismo estritamente racional, vinculado a uma única postura internacional" p.11

A primeira "cidade nova" desse momento idealizado, "Brasília é uma cidade nova que nasceu com uma história definida." p.12

Método: "Nossa bibliografia expõe parte dessa produção ao reunir as mais diferentes fontes a respeito desse tema. Nosso ponto-de-partida, portanto, foi um produtivo diálogo entre essas referências bibliográficas." p.12

"1. análises que se debruçam apenas sobre o plano de Lúcio Costa, de 1957; 2. análises que estudam os projetos do Concurso Nacional para o Plano Piloto da Nova Capital do brasil, 1957." p. 13

  1. A Estrutura

5 partes

PARTE I - Brasília e o Panorama Nacional

PARTE II - O Antecoro Urbanístico de Brasília

A utopia de cidades novas é a utopia de ocupação do território pelo urbanismo planejado. A prática do projeto de cidades novas promove"a fundação de cidades novas, a partir de seus mais diferentes objetivos." p.18 e em menos de 60 anos de república constroem-se inúmeras cidades. "Assim, estabeleceu-se, definitivamente, uma maneira de ocupar o território, a partir do cultivo de práticas urbanísticas." p.18

"Essa cultura urbanística nacional, em constante transformação, firmou-se gradualmente, sobretudo no século XX, se a compreendermos pelas suas autenticidades peculiaridades no transcorrer da urbanização do país. Esse momento, nos planos artístico, político, econômico e social - particularmente entre as décadas de 20 e 60 -, foi marcado pela definição da identidade nacional, igualmente peculiar. Em todos os casos essas condições - inclusive a urbanística - tiveram papel preponderante na caracterização e construção de elementos autenticamente nacionais." p.18

"busca contextualizar a nova Capital, segundo a cultura de criação de cidades ovas no Brasil, complementada pela discussão sobre a construção da identidade nacional. Evita, portanto, descrições periódicas sobre o momento da concepção de Brasília para se apoiar em argumentos analíticos sobre esse período. situa a Nova Capital num contexto autêntico e articulado comas diversas experiências artísticas, políticas, econômicas, sociais e, evidentemente, urbanísticas." p.18

"narra os principais fatos que promoveram a interiorização de Brasília e aponta suas principais matrizes urbanísticas." p.18

Interiorização da capital por diversos motivos e influências "Argumentos políticos e militares, inclusive internacionais, dividiram espaço e nacionalidade com os interesses financeiros e ideológicos." p.19 esses interesses refletiram nos projetos para a Nova Capital.

PARTE III - Concepções urbanísticas para Brasília

A influência do projeto de Brasília para a construção de um ideário no campo "esses planos proporcionaram a compreensão da predominância de algumas teorias e práticas urbanísticas que se enraizaram como elemento essencial na transformação de um país rural em um país urbano." p. 19

capítulos importantes: Capítulo I - A Ideia de Projeto ou Notas sobre um Ideário de Cidades Novas utopias que constroem cidades novas; Capítulo II - Brasília e a Formação da Identidade Nacional Utopia nacional do ideal; Capítulo IV - matrizes e Referências Urbanísticas para os Projetos da Nova Capital Influências estrangeiras p.20;21

PARTE I

Parte I Brasília e o Panorama Nacional p.23

Brasília foi primeira cidade nova a refletir a ideologia nacional á nível nacional

"Brasília pode ser considerada uma cidade nova que refletiu o pensamento de uma geração cujo plano urbanístico demonstra singularidade que a definem como um objeto bem acabado de seu tempo." p.23

"Cidade nova porque nasceu de um desejo humano, distante dos acasos, mas ligada a intenções previstas, projetadas. Trouxe a cargo, portanto, todas as intenções e utopias que a concepção de uma nova cidade pode proporcionar." p.23

ESTRUTURA

Capítulo II regata algumas notas sobre a origem e importância do conceitos "ideais" embasado no cenário nacional com enfoque direto nos projetos para Brasília.

Capítulo I faz um histórico das formas da expressão do ideal de cidade nova nas raízes das cidades novas republicanas na forma de colonização do território nacional.

Ponte de diálogo entre o ideal de uma nova capital e a cultura urbanística nacional.

CAPÍTULO I A Ideia de Projeto ou Notas sobre um Ideário de Cidades Novas p. 24

A conceituação de uma cidade nova - conceituação de um ideal de cidade com os projetos de Brasília

"A concepção de um ideal de cidade está arraigada ao de uma cidade nova planejada por representar o momento da experimentação, da possibilidade de novas soluções retomando os conhecimentos passados e os confluindo a respostas aos novos anseios. Representa campo livre para a reordenação de ideias e aplicação de experiências." p24

"Brasília foi concebida nos diferentes períodos, segundo um diálogo muito estreito com as intenções e ideologias predominantes." p.24

Utopia: "transformação do meio de do homem a partir do espaço físico" p.24

"Essa utopia, evidentemente suplantada, mobilizou esforços e legou uma capital tão peculiar quanto a cultura urbanística que a promoveu. A nova capital sintetizou um ideal de cidade, efeito da vocação nacional na construção de seu território através de cidades novas." p.24

  1. O ideal de cidade

Utopia

A cidade ideal surge no renascimento (séculos XV e XVI) com a busca do homem de construção de uma utopia.

"A renascença demonstrou-se capaz de articular um novo cenário humanista para a compreensão da função urbanística. Constituíram um campo de conhecimento e concretizam espacialmente suas teorias através da instrumentalização de algumas práticas e teorias como forma de propagação da ideia de projeto urbanístico, ou seja, da concepção preliminar de um desejo que se projetava na forma de cidade." p.25

Ideologia

"Para Leonardo Benévolo, o vínculo entre o urbanismo e as posturas políticas conduziu à busca da harmonia nos conflitos do início do século XVI, conciliando suas divergências. Apesar da relevante carga utópica e teórica das posturas neoplatônicas, o Renascimento converge essas características para a experiência prática e real condizente, essencialmente, com as questões ideológicas do período." p.25

"Essa ideologia faz-se presente nas formas e intenções dos projetos propostos. Assim, os projetos correspondem aos anseios da autoridade política através da reordenação espacial da cidade." p.25

Efetivação de um ideal

"A condição do homem em edificá-lo, sua dignidade em poder realizá-lo através de um modelo coloca em discussão a realização concreta da utopia." p.25

"É, sem dúvida, utópico por contrariar os modelos atuais, porém recíproco aos desejos coletivos representados pela técnica pelas artes." p.25

"Retomando os conceitos neoplatônicos promoveu a aplicação de regras funcionais e ordenou o território a partir de objetivos delineados pelo quadro político e estratégico." p.25

Antagonismos

O "mito da cidade ideal" conduz à utopias políticas e à cidade militar, "uma dicotomia entre o ideal urbano e os fatores políticos" p.26

  1. O projeto com construção do ideal

PARTE IV - Fontes

Acervo

V - Anexos

Renascimento

cidade nova - oportunidade e experimentação concreta

Formulação da idealização

Transpõe do território da ideia o objeto concebido

plano como forma de controle e crescimento da cidade

"A concepção de uma cidade nova parece oferecer condições em que o ideial encontra a liberdade que lhe compete, desinibido das implicações de um centro urbano já conformado capaz de direcioná-lo à dependência de circunstâncias adversas. Cabe-lhe, então, a transformação do meio natural através da técnica e da cultura, reconduzindo as formas da apropriação do espaço físico e das maneiras de sua compreensão." p. 26

projeto

regido pela condição humana - frágil e passível de alteração ao ser aplicado

"espelha as ânsias de seu período, ele incorpora as experiências passadas" p. 26

"O projeto é uma expressão do conjunto de variantes dispostas espacialmente, correspondendo aos desejos coletivos. O valor desse modelo está em reunir respostas aos diferentes interesses - muitas vezes em conflitos -, e em construir um documento, na memória dos modos de relações entre a diversidade urbanística de cada momento." p. 27

"Numa cidade nova, essa peculiaridade aflora com maior preponderância. O projeto torna-se o primeiro e único elemento concreto de sua concepção. O ato humano de construção é antecipado pela elaboração de seu desígnio. Torna-se, enfim, no principal instrumento para a sua concretização, pois a ele cabe sua ideação e representação." p. 27

perspectiva (desenho)

previsão dos desejos idealizados

pontos chave

reunir sistematicamente os principais elementos para a concretização de um ideal de cidade

tratados

"Esse instrumento tornou-se eficaz na idealização de um pensamento urbano e atribuiu à cidade autonomia para o seu desenvolvimento." p. 27

arquitetura e cidade tem relevância central nas proposições em busca do ideal: "Assim se propagaram cidades e intervenções urbanas com o objetivo de demarcar interesses políticos dos governantes, religiosos da igreja, ideológicos da sociedade e militares para a defesa de suas terras." p. 27

  1. O ideal de cidade na América

3.1 Cidade Nova no Brasil-Colônia

Colonização: oportunidade de explorar experimentos renascentistas; "pensamento europeu predominante no planejamento de algumas dessas cidades e o diálogo entre a produção europeia e a condição exploratória aqui instituída." p.28

"o ideal de cidade refletiu o espírito local do colonizador" p. 28

"A cidade nova, portanto, ilustrava o ideal predominante prolongando seus ecos ao longo da conformação do território brasileiro. As funções específicas das cidades permaneceram num campo restrito da defesa militar, da exploração dos recursos naturais e da viabilidade de circulação dos produtos, de modo que a coroa sempre tivesse retorno favorável no controle territorial. Talvez seja esse o motivo da quase inoperância de iniciativas particulares bem sucedidas na colonização, todas as suas formas ou se vinculam diretamente às ordens da coroa ou a elas estão atreladas através de modos distintos de ocupação de terras cedidas por ela." p.28

tipos:

Capitanias: exportação de mercadorias; ocupação local a fim de controlar partes do território; exploração dos recursos naturais

Cidades reais: Controle de terras; efetivação da presença do governo português

junto a leitos de rios para facilitar o transporte

"A concomitância dos fatos revela a possibilidade dessa concretização, reforçada pela consequência sempre presente em fazer do urbanismo um reflexo das condições políticas e sociais predominantes. Assim como na Europa, no Brasil colonial as cidades novas espelharam o sistema político e econômico, deixando transparecer nos ideais de cidades, na sua essência, o conflito entre o empreendimento real e a utopia ideal." p. 28

circulação de produtos e mercadorias, proteção do território, exploração dos meios naturais, intensificação da imagem do poder e a necessidade de assentamento no novo território - diálogo entre as referências internacionais e as condições exóticas do Novo Continente - necessidade de construir uma nova realidade - princípios humanistas, políticos e religiosos - essência de um meio artificial, estando sempre por se construir

3.2 Cidade Nova no Brasil-República

"necessidade, sempre presente, da construção do novo" espírito nacional p.29

Brasília reforça o espírito nacional, propaga um ideal de cidade, sobretudo quanto os vínculos com a tradição americana empreendedora

"Num paralelo preciso e conclusivo de nossas raízes, Pedrosa defende a criação de uma Nova Capital Federal, ex novo, segundo o espírito empreendedor arraigado ao nosso passado. Espírito responsável pela completa construção de um continente a partir do ideal de uma civilização urbana que correspondesse aos desejos humanos coletivos. Enfim, ao se construir uma Nova Capital, dificilmente poderia se idealizar algo distante da representação de uma civilização artificial, totalmente construída. Não havia fugas ou outras oportunidades. Por assim dizer, Brasília seria a continuação de uma aventura na conformação espacial desse povoamento." p. 29

continente novo construído artificialmente - nova civilização - naturalização da "invasão" de conceitos estrangeiros (incluindo aniquilação das culturas locais): ocupação do território (séculos XIX e XX) segue os moldes coloniais e mantém as iniciativas de construção de novas cidades como forma de domínio do território.

"[...] a constituição de uma cultura urbana, e posteriormente uma cultura urbanística, aponta para dissidências pacíficas desse processo, dando continuidade nas formas de colonização do território segundo empreendimentos estatais ou privados, conforme objetivos e produtos muito bem especificados." p. 29

"Sem abdicar das possíveis referências internacionais, nossos profissionais optaram em incorporá-las a um temário e a um repertório nacional, ajudando a construir a cultura urbanística." p. 30

"A diversidade de planos e projetos urbanos ao longo do período republicano prescreve a rápida assimilação dos conceitos urbanísticos em promover uma nação atualizada, que em cerca de 50 anos inverteria sua peculiaridade de estado rural para se tonar urbana." p. 30