Please enable JavaScript.
Coggle requires JavaScript to display documents.
Bases - Rocha - Análise de Discurso - Coggle Diagram
Bases - Rocha - Análise de Discurso
Introdução
As ciências passam por constantes mudanças sucessivas, nas quais ocorre a constituição de um novo paradigma e impõe novas dinâmicas. Essas mudanças demonstram irregularidades e rupturas, em vez de um movimento retilíneo e contínuo.
Nas ciências sociais, principalmente, o que é mudado é a perspectiva. Onde existem opções teóricas diversas, na qual se produz uma ruptura ou o desejo de redimensionar o objeto de estudo.
Gesto inaugural da Análise do Discurso: empreendido a partir da construção de um outro olhar sobre as práticas linguageiras e o redimensionamento do objeto de análise.
Sua trajetória passa pela consolidação necessária das opções teórico-metodológicas que vem sendo capaz de realizar, instituindo no novo espaço epistemológico produzido no âmbito dos estudo da linguagem um processo de rupturas e continuidades em relação a uma certa tradição.
Objetivo
Problematizar esses momentos de legitimação de um dado quadro teórico, ressituando-os à luz dos atuais desafios de uma perspectiva discursiva.
Metodologia
Revisão bibliográfica, principalmente as obras de referência em Análise de Conteúdo e do Discurso, de Laurence Bardin e Dominique Maingueneau.
Bardin - manual claro, concreto e operacional desse método de investigação, que pode ser utilizado por psicólogos e sociólogos, qualquer que seja a sua especialidade ou finalidade. Os autores escolheram também porque traçava um panorama do suporte teórico e de metodologias recorrentes em Análise de Conteúdo e apresentava exemplos práticos de trabalhos levados a cabo segundo a ótica sustentada por esse tipo de análise.
Antecedentes do surgimento da Análise do Discurso
Surgimento no fim de 1960, devido a insuficiências de uma análise de texto que se vinha praticando que se pautava principalmente por uma visão conteudista (característica central das práticas de leitura nos estudos em Análise de Conteúdo- AC).
2 contextos nas ciências humanas e sociais:
a) psicologia social em sua versão behaviorista - EUA, na primeira metade do séc. XX;
b) concepção de linguagem influenciada pelos esquemas informacionais de comunicação - por Roman Jakobson.
A produção de sentido se refere apenas a uma realidade dada a priori. O objetivo da AC era alcançar uma pretensa significação profunda, um sentido estável, conferido pelo locutor no próprio ato de produção do texto.
A AD propõe o entendimento de um plano discursivo que articula linguagem e sociedade, entremeadas pelo contexto ideológico. Ela quer um alargamento teórico, uma outra possibilidade, originada de um olhar diferenciado que se lança sobre as práticas linguageiras.
Objetivos da AC Análise de Conteúdo
A princípio, se define como um “conjunto de técnicas de análise das comunicações”, que aposta grandemente no rigor do método como forma de não se perder na heterogeneidade de seu objeto.
Ínicio do séc. XX: se destaca pela preocupação com recursos metodológicos que validem suas descobertas.
Trata-se de uma sistematização, da tentativa de conferir maior objetividade a uma atitude que conta com exemplos dispersos, mas variados, de pesquisa com textos.
Exemplo de AC prematura: pesquisa feita na Suécia por volta de 1640 sobre os hinos religiosos.
O objetivo, permaneceu por muito tempo, que é atingir uma significação profunda dos textos.
É um modelo duro, rígido, de corte positivista, herdeiro de um ideal preconizado pelo Iluminismo. Centra-se na crença que a neutralidade do método seria a garantia de obtenção de resultados mais precisos. Erroneamente, associavam a análise quantitativa com objetividade. Além disso, queriam afastar qualquer tipo de subjetividade que poderia invalidar a análise. O analista seria um detetive munido de instrumentos de precisão para atingir a significação profunda dos textos.
A explicitação de um ponto de vista, qualquer que seja, desvirtua os rumos da análise, isto é, a ideologia é vista como o descaminho da descoberta científica.
O texto se configura tão-somente como uma estratégia de encobrimento de uma “significação profunda” que se deseja recuperar.
O uso de técnicas precisas e objetivos são para garantir o descobrimento do verdadeiro significado.
Objetivos: ultrapassagem da incerteza e o enriquecimento da leitura.
Sob as diretrizes da ciência, seria possível apreender a realidade oculta: uma verdade a ser recuperada por intermédio dela. Ou seja, aqueles que não estavam munidos da ciência, seriam incapazes de fazer essa leitura.
A concepção de linguagem em rigor reproduz inequivocamente um projeto de representação de um real pré-construído.
Opções Metodológicas em AC
Exemplo clássico e constante em Bardin: a análise da simbologia do automóvel: examinar as respostas a um inquérito que explora as relações psicológicas que o indivíduo mantém com o automóvel”.
São elaboradas 2 perguntas, questões abertas, cujas respostas são submetidas à análise:
a) A que é, geralmente, comparado um automóvel?
b) Se o seu automóvel lhe pudesse falar, o que é que ele diria?
O texto das respostas dadas pelos entrevistados às perguntas formuladas consistiria em uma superfície a ser construída pelo pesquisador, da qual emergiria qualidades psicológicas do entrevistado em relação ao automóvel. Com isso, vemos que a linguagem seria apenas um veículo de transmissão de uma mensagem subjacente.
Para os idealizadores da pesquisa, a pergunta importa menos do que as respostas. O que importa é ter acesso à relação psicológica do indivíduo com o carro.
O modo de apresentação das perguntas contribui para um apagamento do pesquisador como co-participante da situação de entrevista.
Há o privilégio da ideia do pesquisador como observador imparcial, em detrimento daquela segundo a qual ele seria o responsável por produzir uma intervenção sobre o mundo.
Os mecanismos de funcionamento de uma pesquisa em AC encenam uma busca ou descoberta dos resultados, e não a construção de uma análise, que se depreende da não-problematização da pergunta norteadora do inquérito ao ideal de rigor metodológico pretensamente atingido por intermédio das estratégias de apagamento da presença do pesquisador.
Leitura flutuante:
primeira leitura dos pesquisadores do material dos textos produzidos pelos informantes, faz parte do procedimento de análise das respostas.
A partir dessa leitura, o pesquisador pode transformar suas intuições em hipóteses a serem validadas ou não pelas etapas consecutivas. Das hipóteses formuladas, é possível extrair critérios de classificação dos resultados obtidos em categorias de significação.
Ocorre uma não-explicitação da trajetória teórica escolhida para a abordagem de conceitos que sustentam o trabalho de análise realizado, ou mesmo de um apagamento dos conceitos que emergem no referido trabalho.
Pêcheux: o tratamento das práticas linguageiras só poderia emergir por intermédio da construção de um objeto de investigação (o discurso) e de um aporte teórico-conceitual.
O Contraponto de uma Abordagem Discursiva
Usando como exemplo a pesquisa do automóvel, o objetivo da pesquisa seria “examinar as respostas a um inquérito que explora as relações psicológicas que o indivíduo mantém com o automóvel”. Tem-se uma concepção de mundo e um pouco do âmbito psicológico.
Esse objetivo distancia-se da AD, pois o interesse não pode residir nas relações psicológicas de um indivíduo em face de um objeto qualquer, porque a AD não compartilha com a AC do mesmo conteúdo, do mesmo horizonte teórico.
A abordagem discursiva não pode negligenciar a espessura que entremeia a relação entre o texto e seu entorno, visando predominantemente ao debate do modo como a enunciação é capaz de inter-relacionar uma organização textual e um lugar social determinado.
Sobre a pergunta de pesquisa, a AD, afirma que deve ser problematizado. Ela passa necessariamente pelo descolamento de duas ordens da realidade: a realidade da pesquisa conduzida e a dos saberes produzidos durante o inquérito.
Procura evitar a mera busca de uma realidade subjacente a determinadas produções de linguagem, ciente de que toda atividade de pesquisa é interferência do pesquisador em uma dada realidade.
O pesquisador, em um dado campo de análise, é co-construtor dos sentidos produzidos que se alteram o lugar em que ele se situa e sua postura de interlocutor em uma determinada situação de pesquisa.
Outro ponto importante é a identificação dos pressupostos teóricos. Na AD não basta explicitar possíveis imagens às quais seriam remetidos os automóveis; é preciso que simultaneamente ao interesse pelas referidas imagens discursivas construídas, haja um desejo de ancorá-las sócio-historicamente.
Distância decorre da dupla espessura do sujeito: pelo viés do materialismo histórico, a presença do ideológico; pelo recurso à psicanálise, a evidência incontornável do incontornável.
AD: afastamento da ideia de um sujeito que pudesse fazer escolhas, pois o que interessa ao novo campo de saberes constituído é a descrição das vozes que ressoam, atravessam e abalam a ilusão de unidade que se apresenta os enunciados, denunciando as falácias de uma ótica que priorize o ideal cartesiano de um sujeito de razão.
AD: a linguagem não é o reflexo de algo que lhe é exterior. Toda produção de linguagem não possui uma motivação outra, constituindo-se como produto do encontro entre um eu e um outro, segundo formas de interação situadas historicamente.
A pergunta de pesquisa deve explicitar seu desejo de intervir ou não, em uma determinada produção de realidade.
As respostas obtidas seriam a mera expressão do modo como o problema de pesquisa se formulou: não podendo descolar-se das situações de enunciação em que se produzem, os enunciados se constituem como o lugar por excelência de embates que nos levam à produção de imagens discursivas de diferentes ordens, sendo o discurso o palco em que tais embates são encenados.
Como fazer Ciência sob a Perspectiva Discursiva?
AC: a ciência prática se pretende neutra no plano de significado do teto, na tentativa de alcançar diretamente o que haveria por trás do que se diz. Pesquisador e objeto de análise tem uma relação de distanciamento, mediada por uma abordagem metodológica que garantiria a neutralidade desejada. A metodologia assume lugar de destaque, em busca dessa neutralidade. Ocorre o apagamento das implicações do pesquisador.
O surgimento da AD vem como uma reorientação teórica da relação entre o linguístico e o extralinguístico e também como uma mudança da postura do observador em face do objeto de pesquisa.
A linguagem, para a AD, não pode apenas representar algo já dado. Ela é parte de uma construção social que rompe com a ilusão de naturalidade entre os limites do linguístico e do extralinguístico. Ela não dissocia da interação social.
Pêcheux: formula a necessidade de perceber o ideológico como elemento constituinte da realidade linguística. Seu método pretende transformar a natureza das relações entre o linguístico e o social.
AD consolidou-se a partir de 1960, retirando a marginalidade dos estudos linguísticos o discursivo, entendendo-o como espaço de articulação entre linguagem e sociedade.
O linguista tem o papel de construir saberes sobre o real, a partir do entendimento da linguagem como forma de intervenção. Isso exige o diálogo com outras perspectivas e configura uma iniciativa interdisciplinar.
“A que insuficiências uma perspectiva discursiva procurou responder?” 1a pergunta/resposta: problematização de uma concepção de linguagem que se afasta da ótica meramente representacional segundo a qual a produção da realidade se dá em um momento anterior ao da produção das práticas linguageiras.
“Em que sentido as práticas da Análise de Conteúdo contribuíram para as reflexões desenvolvidas por uma abordagem discursiva”. 2a pergunta/resposta: os caminhos pelos quais optamos em uma perspectiva discursiva têm indicado que o pesquisador não descobre nenhuma dimensão oculta do real, mas participa de uma intervenção sobre o social.