Sistemas da memória a longo prazo

Amnésia (Condição causada por uma lesão cerebral na qual há prejuízo da memória de longo prazo)

Fatores

2. Traumatismo craniano fechado (causa mais comum)

3. Abuso crônico de álcool (síndrome de Korsakoff)

1. Acidente vascular cerebral (AVC) bilateral

Pacientes com a síndrome de Korsakoff sofrem da “síndrome amnésica”, que as suas características são:


Amnésia anterógrada: Perda acentuada na habilidade de recordar novas informações apreendidas depois do início da amnésia


Amnésia retrógrada: Dificuldade em recordar eventos que ocorreram antes do início da amnésia


A memória de curto prazo apenas é levemente prejudicada em medidas como a amplitude do dígito


Alguma capacidade de aprendizagem remanescente (ex: habilidades motoras) após o início da amnésia

Segundo, Smith e colaboradores (2013) em situações de amnésia anterógrada e retrógrada, as mesmas áreas do cérebro estão envolvidas. Obtiveram esta conclusão, ao estudar pacientes com lesão nos lobos temporais mediais

Memória declarativa vs. Memória não declarativa

A memória declarativa envolve a recordação de forma consciente de eventos e fatos. Possuindo duas formas principais:


1. A memória episódica que está relacionada com experiências pessoais ou eventos que ocorreram tanto num determinado lugar, como momento


2. A memória semântica consiste no conhecimento geral a cerca do mundo (ex: conceitos e linguagem)

A memória não declarativa, não envolve a recordação consciente. Em geral, as evidências deste tipo de memória, são observáveis através da mudança de comportamento. Esta possui várias formas:


1. Memória para habilidades (ex: tocar violino, andar de bicicleta), por vezes conhecida como memória procedural. Este tipo de memória envolve saber como desempenhar certas ações


2. Priming, isto é o processamento de um estímulo é influenciado pela apresentação anterior de um estímulo relacionado a ele (a primeira imagem atua como um prime, facilitando o processamento quando a segunda imagem for apresentada)

Segundo Binder e Desai (2011), é “o armazenamento do conhecimento que um indivíduo tem do mundo. O conteúdo da memória semântica é abstraído da experiência real e, portanto, é considerado conceitual, ou seja, generalizado e sem referência a nenhuma experiência específica”

Tulving (1972) Defendeu que os vários tipos de memórias, são muito diferentes. Foi ele que introduziu os termos “memória episódica” e “memória semântica” para se referir a essas diferenças. Segundo Tulving (2002), a memória episódica é “um sistema de memória recentemente desenvolvido, de desenvolvimento tardio e deterioração precoce orientado para o passado, mais vulnerável do que outros sistemas de memória à disfunção neural. Ela possibilita viajar mentalmente no tempo subjetivo, do presente até ao passado, permitindo assim que o indivíduo experiencie novamente as próprias experiências passadas.”

Memória episódica vs. Semântica

Segundo Vargha – Khadem e colaboradores (1997), a memória episódica depende do hipocampo enquanto que a memória semântica depende do córtex entorrinal, perirrinal e para-hipocampal.

Amnésia Retrógrada

Muitos pacientes com amnésia apresentam amnésia retrógrada muito maior para memórias episódicas do que semânticas:


Em termos gerais, na memoria episódica, há um gradiente temporal com as memórias mais antigas apresentado um menor prejuízo que as memórias mais recentes, segundo Bayley e colaboradores (2006)


Em relação a memória semântica geralmente a amnésia retrógrada é pequena, exceto para o conhecimento adquirido um pouco antes do início da amnésia, segundo Manns e colaboradores (2003)

De forma geral, as memórias episódicas dependem de uma única experiência de aprendizagem, enquanto que a maioria das memórias semânticas (ex: significados específicos de palavras) depende de várias experiências de aprendizagem. Essa oportunidade reduzida de aprendizagem para memórias episódicas comparadas com as semânticas pode explicar, pelo menos em parte, a maior amnésia retrógrada para as primeiras.

Demência semântica: É uma condição que envolve uma lesão nos lobos temporais anteriores e na qual há uma perda generalizada na memória semântica, no entanto a memória episódica e o funcionamento executivo estão razoavelmente intactos nos estágios iniciais. Importante referir, que pacientes com esta condição diferem de forma ampla nos sintomas e padrão de lesão cerebral. Sendo a demência semântica, o inverso da amnésia (dissociação dupla), em relação a forma como a memória semântica e episódica, são afetadas

Independência da memória episódica e da memória semântica

Kan e colaboradores (2009) Apresentaram evidências que mostraram que as memórias episódicas e semânticas podem ser interdependentes no seu funcionamento, em relação a aprendizagem.
Também constataram que a memória semântica pode reforçar a aprendizagem em uma tarefa de memória episódica

Greenberg e colaboradores (2009) Identificaram que a memória episódica pode facilitar a recuperação em uma tarefa de memória semântica

Burianova e colaboradores (2010) Comparam padrões de ativação cerebral durante a recuperação de memórias episódicas e semânticas. A mesma rede neural estava associada à recuperação desses dois tipos de memórias declarativas

Semantização da memória episódica Consiste na ideia de que aquilo que no início era uma memória episódica com o passar do tempo poderá vir a transformar-se em memórias semânticas. Esta mudança, é muitas vezes conhecida como a semantização da memória episódica e indica que não há uma separação clara entre as memórias episódica e semântica

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Script: Forma de esquema contendo informações sobre uma sequência de eventos

Priming percetual: Forma de priming na qual as apresentações repetidas de um estímulo facilitam o seu processamento percetual

Esquema: Pacote organizado de informações sobre o mundo, eventos ou pessoas, armazenado na memória de longo prazo

Priming conceitual: Forma de priming na qual há o procedimento facilitado do significado do estímulo

Déficits específicos da categoria Transtornos causados por lesão cerebral em que a memória semântica é perturbada para certas categorias semânticas

Supressão da repetição: Achado de que a repetição do estímulo leva à atividade cerebral recebida, com um desempenho melhorado por meio do priming

Modelo radial: Este modelo faz com que os raios (spokes) facilitem as nossas interações percetuais e motoras com o mundo à nossa volta. Enquanto isso, o centro (hub) fornece a coerência conceitual e integração do processamento sensório e motor

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Como assinalaram Schacter e Addis (2007, p. 773), “a memória episódica é [...] um processo fundamentalmente construtivo, em vez de reprodutivo, tem tendência a vários tipos de erros e ilusões”

Pesquisas demonstraram como a natureza construtiva da memória episódica leva as pessoas a recordarem histórias de forma distorcida e as testemunhas oculares a produzirem memórias distorcidas dos crimes

Usamos a memória episódica para recordar eventos passados que vivenciamos

O sistema de memória episódica é bastante propício ao erro, segundo Schacter e Addis (2007; 2012) devido a três razões, a primeira é que seria necessária uma grande quantidade de processamento para produzir um registo semipermanente de cada experiência. Segunda, geralmente queremos ter acesso ao cerne ou à essência de nossas experiências passadas, com os detalhes triviais omitidos. Terceira, e talvez a mais importante, Schacter e Addis (2007) argumentaram que usamos nosso sistema de memória episódica para imaginar possíveis eventos e cenários, o que é útil quando fazemos planos para o futuro. Imaginar o futuro só é possível porque a memória episódica é flexível e construtiva

O sucesso da recordação livre envolve a formação de associações

A tendência a recordar a essência do que experimentamos aumenta durante a infância

Em essência, recordação envolve o acesso a mais informações do que familiaridade

O nosso foco crescente em recordar a essência com o avanço da idade pode produzir erros na memória

Há grande apoio empírico para a noção de que a memória de reconhecimento depende de processos separados de familiaridade e recordação. Algumas evidências provêm de estudos de neuroimagem cerebral, porém os achados mais convincentes provêm de estudos de pacientes com lesão cerebral. Alguns pacientes têm a familiaridade relativamente intacta, mas recordação prejudicada, enquanto outros pacientes exibem o padrão oposto

Geralmente, há mais ativação hipocampal durante a imaginação de eventos futuros do que ao recordar eventos passados

Uma lesão hipocampal deve prejudicar mais a recordação do que a familiaridade e lesão no lobo temporal medial tem prejuízo menos significativo na familiaridade, mas prejuízo maior na recordação (Skinner & Fernandes, 2007)

Evidências de neuroimagem indicam que a ativação hipocampal em geral está associada à imaginação de eventos futuros. Entretanto, isso não demonstra que o hipocampo esteja necessariamente envolvido nessa imaginação

Diana e colaboradores (2007) forneceram uma explicação teórica das áreas cerebrais envolvidas na memória de reconhecimento em seu modelo de ligação entre o item e o contexto: 1 - O córtex perirrinal recebe informação sobre itens específicos (a informação “o que” necessária para os julgamentos de familiaridade); 2- O córtex para-hipocampal recebe informação sobre o contexto (a informação “onde” que é útil para os julgamentos de recordação); 3- O hipocampo recebe as informações sobre o quê e onde (ambas de grande importância para a memória episódica) e as une para formar associações entre o item e o contexto que permitem a recordação

A memória episódica baseia-se fortemente em processos construtivos

Dunn (2008) defendeu que os achados podiam ser explicados por um processo único a partir da força da memória. A maior parte das evidências apoia explicações de processo duplo

Nosso conhecimento geral organizado sobre o mundo está armazenado na memória semântica. Muitas informações como essas se encontram na forma de conceitos, que são representações mentais de categorias (p. ex., de objetos) armazenadas na memória semântica

Dentro do procedimento de lembrar/saber, recordação e familiaridade realmente envolvem processos diferentes? Os céticos argumentaram que a única diferença real é que traços fortes de memória dão origem a julgamentos de recordação e traços fracos a julgamentos de familiaridade

Os conceitos são organizados em hierarquias. Rosch e colaboradores (1976) defenderam que há três níveis dessas hierarquias: categorias superordenadas (p. ex., peças de mobília) no topo, categorias de nível básico (p. ex., cadeira) na área intermediária e categorias subordinadas (p. ex., poltrona) na base da hierarquia

Uma forma eficaz de distinguir entre recordação e familiaridade é o procedimento de lembrar/saber

Em geral lidamos com objetos no nível básico intermediário

Familiaridade é o processo de reconhecimento de um item com base na força de sua memória percebida, mas sem a recuperação de algum detalhe específico sobre o episódio estudado

As categorias de nível básico apresentam o melhor equilíbrio entre informação e distinção

Recordação é o processo de reconhecimento de um item com base na recuperação de detalhes contextuais específicos

O facto de que, em geral, as pessoas preferem categorizar no nível básico não significa necessariamente que elas categorizam mais rápido nesse nível

A memória de reconhecimento pode envolver recordação ou familiaridade (Diana e colaboradores, 2007)

A categorização no nível básico é geralmente mais informativa do que no nível superordenado e, portanto, requer processamento mais detalhado (Close & Pothos, 2012)

Há três formas básicas de teste de recordação: recordação livre (lista de itens em qualquer ordem na ausência de indícios específicos), recordação serial (lista de itens na ordem em que eles foram apresentados) e recordação com pistas (lista de itens em resposta a pistas)

A maioria dos teóricos até muito recentemente presumia que as representações dos conceitos apresentam as seguintes características: • São de natureza abstrata e, assim, são separadas dos processos de input (sensório) e output (motor). • São estáveis já que um indivíduo usa a mesma representação de um conceito em diferentes ocasiões. • Pessoas diferentes geralmente têm representações muito similares de determinado conceito

Reconhecimento e recordação são os dois principais tipos de teste de memória episódica

Todas as suposições teóricas principais da abordagem tradicional são incorretas. Na vida cotidiana, é raro processarmos os conceitos isoladamente. Ao contrário, processamos os conceitos em vários contextos diferentes, e o processamento é influenciado pelo contexto ou pelo ambiente atual

Permastore refere-se a memórias estáveis de muito longo prazo. Os seus conteúdos são constituídos sobretudo por informações muito bem aprendidas em primeiro lugar

As representações de um conceito variam entre as situações, dependendo dos objetivos atuais do indivíduo e das principais características da situação

A maioria das memórias episódicas exibe esquecimento substancial com o passar do tempo

Barsalou (p. ex., 2009, 2012) apresentou a teoria da simulação situada. Segundo essa teoria, sistemas percetuais e motores ou de ação em geral estão envolvidos no processamento dos conceitos

O processamento conceitual pode envolver o sistema percetual (Wu e Barsalou, 2009)

O processamento do conceito pode ter uma qualidade percetual ou imaginária sobre ele

Outra forma de avaliar o processamento de conceitos é pelo uso de neuroimagem

Wang e colaboradores (2010) realizaram uma metanálise de estudos de neuroimagem focando conceitos concretos (referentes a objetos que podemos ver ou ouvir). O processamento de conceitos concretos foi associado à ativação em regiões do cérebro (p. ex., giro fusiforme, cingulado posterior, giro para-hipocampal) que fazem parte do sistema percetual e também estão envolvidas no imaginário

Boa parte de nosso conhecimento de conceitos abstratos é relativamente concreta e envolve propriedades percetuais

Conceitos abstratos emocionalmente positivos (p. ex., paz) estimulam tendências de abordagem, enquanto conceitos emocionalmente negativos (p. ex., hostilidade) estimulam tendências de esquiva. Em vários estudos, as pessoas responderam de forma mais rápida a estímulos positivos com um movimento de abordagem, mas aos negativos com um movimento de esquiva (Pecher et al., 2011)

O sistema motor está associado ao processamento de palavras de ação

Envolvimento do sistema motor no processamento de verbos de ação. Como concluíram Shebani e Pulvermüller, os achados indicam “um locus motor genuíno do significado semântico”

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Memória procederam: Responsável por adquirir habilidades cognitivas ou perceto-motoras através da exposição repetida ou através de regras constantes. Independente da consciência e é medida pelo desempenho. Isso significa que a memória (muito associada com a aprendizagem) é capaz de entrar no “piloto-automático”

Priming: Considerado um efeito que ocorre no momento de receção de estímulos que afetam a perceção, o julgamento e/ou comportamento dos sujeitos, mesmo que eles não se lembrem do estímulo ou nem percebam sua influência

Há evidências de que o priming e a aprendizagem de habilidades normalmente envolvem áreas diferentes do cérebro e de que o priming perceptual abarca diferentes áreas em comparação ao priming conceitual

A memória declarativa está envolvida quando as instruções dizem explicitamente aos participantes para recordarem informações já apresentadas, enquanto a memória não declarativa está envolvida quando ocorre o contrário

Um problema final com a distinção entre memória declarativa e não declarativa é que ela está fundamentada no conhecimento e na consciência, nenhum dos quais está claramente compreendido

Três modos básicos de processamento

Codificação lenta de associações rígidas. Envolve a memória procedural, a memória semântica e o condicionamento clássico e depende dos gânglios basais e do cerebelo

Codificação rápida de itens isolados ou unitarizados (formados em uma unidade única). Envolve familiaridade em memória de reconhecimento e priming e depende do giro para-hipocampal

Codificação rápida de associações flexíveis. Envolve a memória episódica e de- pende do hipocampo

Dew e Cabeza (2011) sugeriram um modelo teórico no qual a ênfase é colocada na ligação dos processos às regiões cerebrais. Cinco áreas do cérebro são identificadas, variando em três dimensões:

Representação do estímulo: item ou relacional

Nível de intenção: controlada versus automática

Processo cognitivo: guiado perceptual ou conceitualmente