Atuação Profissional em EAD e Estrutura Metodológica
Unidade III - Ferramentas síncronas e assíncronas de aprendizagem em AVA
Nesta unidade, a intenção principal é falar sobre as ferramentas que permitem a proximidade dos alunos; ferramentas e formas de ações pedagógicas mais favoráveis em ambientes virtuais que buscam aprendizagem colaborativa e construtiva
Mediação pedagógica para construir conhecimento complexo
Estamos muito acostumados com a ideia de que cabe ao professor apresentar problemas e ajudar os alunos durante o processo de aprendizagem, mas esse papel também pode estar com os alunos ou outros participantes de um evento social ou educativo
No caso da sala de aula virtual ou presencial, segundo Collins, Brown e Newman (1989), a mediação pedagógica pode envolver a exploração para avaliações, comparações, julgamentos; a síntese para combinar, compor, mudar, construir, reorganizar, sugerir; e a reanálise par examinar e debater com exemplos, com o objetivo de mostrar soluções para problemas propostos
A partir dessa perspectiva, o professor tem função fundamental, pois é ele quem possui os objetivos de aprendizagem com foco em desenvolvimentos específicos
A aprendizagem com foco no desenvolvimento da cognição faz uso de estratégias de ensino como scaffolding (andaimes), para que capacidades cognitivas mais complexas possam ser desenvolvidas pelos indivíduos
Scaffolding (andaimes) é um termo ainda utilizado por muitos educadores como metáfora para explicar um modo eficiente de ajudar os alunos a desenvolverem habilidades cognitivas específicas. As atividades ou situações que envolvem os aprendizes são vistas como facilitadoras/orientadoras do desenvolvimento cognitivo. O ambiente deve permitir uma interação muito grande do aprendiz com o objeto de estudo, de forma a estimulá-lo e desafiá-lo, mas, ao mesmo tempo, deve permitir que novas situações criadas possam ser adaptadas às estruturas cognitivas existentes, propiciando desenvolvimento.
Garrison e Anderson (2003) falam sobre presenças de ensino. Para eles, parece ficar claro que a função do professor no ambiente online deva ser a de estimular o aluno para aprender e também a de gerenciar o ambiente para tornar possível a aprendizagem
Atividades e ferramentas em AVA (síncronas e assíncronas)
Há muitos detalhes no discurso de um professor ou interlocutor que podem ou não desencadear avanços de aprendizagem
No ambiente de EaD, geralmente, a mediação pode ocorrer por meio tanto do material escrito e disponibilizado no ambiente de aprendizagem quanto por meio de ferramentas divididas em duas categorias: síncronas e assíncronas
A comunicação síncrona é realizada em tempo real, exigindo participação simultânea de todos os envolvidos como nos chats e videoconferências
A comunicação assíncrona é realizada em tempos diferentes, prescindindo a participação simultânea (em tempo real) dos envolvidos
Exemplos
E-mails
Fóruns de discussão
Na modalidade EaD, a interação também pode ocorrer entre máquina e indivíduo ou, melhor dizendo, entre a possibilidade criada anteriormente por um profissional, fazendo com que o indivíduo interaja, usando os conteúdos disponibilizados pelas máquinas, por meio de filmes, de textos orais ou escritos, imagens e sons
Por exemplo, temos ambientes a distância em que os professores elaboram os materiais instrucionais e planejam as estratégias de ensino e aprendizagem com os tutores (presenciais e a distância), encarregados de auxiliar os alunos em suas atividades e tarefas, orientando-os em suas dúvidas
Essas interações são desencadeadas por meio de plataformas como: TelEduc, AulaNet, Amadeus, Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment (MOODLE), e-Proinfo, Learning Space, WebCT, entre outras, possibilitando a utilização de recursos tecnológicos e pedagógicos para o ensino e aprendizagem de conteúdo específicos
Esses recursos permitem o desenvolvimento de metodologias educacionais que utilizam canais de interação web e visam oferecer o suporte necessário para a realização de tarefas
O TelEduc é um ambiente de educação a distância pelo qual se pode realizar cursos através da Internet. Está sendo desenvolvido conjuntamente pelo Núcleo de Informática Aplicada à Educação e pelo Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas
MOODLE é o acrônimo de "Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment", um software livre, de apoio à aprendizagem, executado num ambiente virtual
O Edu Web/AulaNet é um software Learning Management System (LSM), cuja ferramenta foi desenvolvida no Laboratório de Engenharia de Software (LES) do Departamento de Informática da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), em 1997
Chats, tarefas individuais, fóruns e avaliação processual
Chats
O chat, como ambiente de conversação online, possibilita comunicação, em tempo real, entre todos os interlocutores que façam parte de um grupo e que estejam conectados ao mesmo tempo pela internet
Pode ser particularmente apropriado para abordagens de aprendizado colaborativo e coletivo
Como afirma Jonassen (1999, p. 200): “grande parte do que aprendemos não ocorre no isolamento, mas em contexto de trabalhos em grupos ou, melhor ainda, se através de uma equipe de trabalho”
Para o autor, o diálogo e a colaboração são fatores fundamentais para que uma aprendizagem significativa aconteça, portanto, a ferramenta é um apoio fundamental para aproximar as pessoas, podendo gerar construção conjunta de conhecimento de forma mais imediata
Os chats podem ser normalmente utilizados para organizar o grupo, e propor trabalho em conjunto; por isso, surgem como um ambiente adequado para propiciar a interação entre os participantes e o professor, para a discussão de assuntos pertinentes ao curso, para troca de experiências relacionadas aos temas vivenciados ou, até mesmo, pode ser usado para fomentar a sensação de presença social para simples troca de informações
Além disso, o chat, como outras ferramentas do meio digital, permite que seja criado um registro automático das interações dos participantes. Com isso, as transcrições são imediatas, possibilitando a armazenagem de arquivos de dados brutos reais. Alunos que não podem participar de um encontro podem ler as interações registradas.
É importante considerar que o chat pedagógico tem características particulares e, por essa razão, a ação de mediação é fundamental. O professor tem o papel explícito de interferir e provocar avanços que não ocorreriam sem a intervenção do professor.
Estudos como os de Gervai (2004) revelam que é preciso:
• Propor um tema para a discussão;
• Preparar previamente os alunos para o encontro.
Os mediadores/professores devem:
• Aproveitar as interações para explorar observações;
• Buscar aprofundamento para esclarecimento;
• Identificar áreas comuns para proposta de entendimento e (co)construção;
• Evitar que os alunos fiquem somente trocando informações ou conversando.
Estudos de Collins et al. (2003) apontam que, para o chat ser proveitoso do ponto de vista educacional, é necessária uma preparação meticulosa. Para que a ferramenta possa ser mediadora de aprendizagem, é necessário evitar digressões, manter uma pequena variedade de tópicos e, portanto, um foco mais definido no tema programado para a discussão.
Tarefas individuais com “devolutivas” do professor
Vários AVA apoiam-se em trabalhos de produção individual com mediação automática. Os ambientes podem oferecer a possibilidade de correção automática das tarefas feitas individualmente pelos alunos.
Neste caso, é o professor que pesquisa, seleciona e elabora a atividade e a resposta. Há mais distância entre professor e aluno, haja vista a impossibilidade de diálogo, mas pode ser interessante para otimizar tempo, no caso de atividades mais mecânicas.
Outra possibilidade é a de o aluno receber avaliações/devolutivas dos professores sobre as suas tarefas, caso que pode gerar mais interação e mais possibilidade de construção de conhecimento. No entanto, é preciso prestar atenção para:
• A maneira como o professor expressa suas ideias;
• Como posiciona seu aluno interlocutor;
• O resultado dessas ações.
O professor mediador deve modalizar sua linguagem, além de sempre começar por apontar os aspectos positivos antes dos negativos. Este parece ser um caminho para dar continuidade à interação e à aprendizagem.
As pesquisas de Gervai (2007) mostram que o professor que faz perguntas aos alunos, geralmente, recebe respostas de todos, no entanto, o professor que faz boas avaliações sobre ações específicas e aponta para algum dado ausente gera oportunidade de participação diferenciada, podendo aumentar a autoestima do aluno, reafirmando a sua relação com ele.
Os dados dos estudos revelam que os alunos respondem mais quando são levados a interagir com perguntas específicas.
O mesmo acontece com quem demonstra não ter entendido a atividade. O professor pode dar a resposta a ele ou levá-lo a reestruturar o seu trabalho. Os estudos de Gervai (2007) mostram que os alunos, quando recebem perguntas que os ajudam a repensar a atividade, dão retornos de qualidade, bem diferentes do trabalho feito inicialmente. Portanto, é preciso fazer o aluno voltar ao material didático e repensar a sua atividade a partir de perguntas orientadoras.
É de fundamental importância ser seletivo e fazer perguntas pertinentes
Assim sendo, é preciso:
• Avaliar aspectos positivos antes de falar sobre algum aspecto negativo;
• Avaliar ações específicas do aluno;
• Avaliar e convidar o aluno a participar da interação;
• Dar atenção especial às atividades com problemas.
Autoavaliação
Autoavaliação é a efetuada pelo próprio aluno. Ela é recomendada, por conveniência pedagógica, em certos casos, como forma de responsabilizar o aluno por seu próprio processo de aprendizagem ou de avaliar algum aspecto do curso ou da aula que só ele pode conhecer ou perceber.
Para o aluno realizar a autoavaliação, o professor pode apresentar algumas perguntas ou algum tipo de roteiro orientador que incite a reflexão do estudante sobre o processo de ensino-aprendizagem
A partir da autoavaliação, o aluno pode desenvolver a capacidade de autoquestionamento e pode refletir sobre sua aprendizagem
A autoavaliação pode ajudar desde que realizada com certa regularidade ao longo do curso, e não apenas no final do ano ou do semestre
Fóruns
Um fórum de discussão (em inglês, bulletin board) é um espaço web dinâmico que permite a comunicação entre diferentes pessoas. O fórum de discussão é composto geralmente por diferentes fios de discussão (o termo “fio de discussão” é às vezes substituído por assunto de discussão, post, thread ou tópico) que correspondem, cada um, a um intercâmbio sobre um assunto específico.
A primeira mensagem de um thread define a discussão, e as mensagens seguintes (situadas geralmente abaixo) procuram respondê-la.
Os participantes de um fórum deveriam tentar responder e participar com propósitos de interação, mas as pesquisas mostram que, no caso de espaços educacionais, isso geralmente não acontece.
Por isso, em espaços educacionais construtivos, os alunos precisam ser preparados para a participação, sendo crucial, portanto, a intervenção do professor.
As pesquisas de Gervai (2007) revelam que é preciso ocorrer:
• Mediações que orientem (esclarecem dúvidas) e gerenciem o trabalho no fórum;
• Mediações que avaliem;
• Mediações com propostas de questões para reflexão sobre um determinado assunto;
• Mediações que incentivem a interação entre os alunos para promover mais interação;
• Mediações para a solução de conflitos.
Assim, entendemos que o professor precisa ter objetivos pedagógicos claros e fazer perguntas específicas para promover um salto qualitativo com relação à aprendizagem do aluno. A agilidade, a objetividade e o poder de síntese parecem ser condições fundamentais para fazer uma mediação que incentive a participação dos alunos, a integração entre eles e o trabalho mútuo.
Precisamos aprender a lidar com um tempo não linear e multifacetado, pois o do professor pode não ser o mesmo de seu aluno. Assim, as contribuições dos alunos podem ocorrer em momentos diferentes e o professor precisa estar atento. É preciso ter uma conduta de entradas constantes nos fóruns para que os debates sejam desenvolvidos e relacionados aos objetivos das atividades propostas, com sínteses constantes das contribuições, aproveitando-as para fazer as negociações de sentidos e as construções de conceitos, sem deixar de levar em consideração os alunos e suas experiências de vida.
Os fóruns exigem uma capacidade técnico-operacional do professor muito desenvolvida, pois o professor tem de orientar a todos e, a cada um, ao mesmo tempo, devendo escrever sua mensagem cuidadosamente, compondo-a com apoios teóricos coerentes e claros.
É preciso:
• identificar áreas de acordo/desacordo;
• procurar chegar ao consenso/entendimento;
• encorajar, reconhecer ou reforçar as contribuições dos alunos;
• estabelecer o “clima” para a aprendizagem;
• engajar os participantes, incitar a discussão;
• avaliar a eficácia do processo.
Avaliação processual
Na modalidade a distância, de acordo com Garcia Aretio (1999), podemos lançar mão de vários recursos, tais como:
• Avaliação presencial – provas ou trabalhos feitos em local e tempo definidos, em que todos os alunos serão avaliados ao mesmo tempo.
• Avaliação a distância – é realizada em local e tempo livre para o aluno, com data limite para a entrega da prova ou trabalho.
• Avaliação mista – com avaliação ocorrendo durante todo o curso a distância e no final é feita uma prova/trabalho presencial.
O primeiro tipo de avaliação tem como vantagem, a garantia de que seja o próprio aluno matriculado no curso que está sendo avaliado
O segundo tipo tem a vantagem de respeitar o ritmo de estudo do aluno, que poderá escolher o dia de ser avaliado em função da sua preparação
Vários cursos utilizam avaliação mista, com avaliação ocorrendo durante todo o curso a distância, por meio de entrega de atividades e participação em fóruns, e no final, é feita uma prova/trabalho presencial
Acreditamos ser fundamental uma avaliação processual, formativa e contínua, pois vemos o formato com alto potencial para indicar como a prática dos alunos está acontecendo, nos permitindo, como educadores, examinar a aprendizagem ao longo das atividades realizadas
Consideramos a avaliação contínua a melhor opção, corroborando com a opinião de Belloni e outros (2007, p.14) quando afirmam que a avaliação é “[…] um instrumento fundamental para conhecer, compreender, aperfeiçoar e orientar as ações de indivíduos ou grupos. É uma forma de olhar o passado e o presente, sempre com vistas ao futuro”.
Partimos do pressuposto que as avaliações não apenas servem para classificação dos alunos, mas também como mecanismo de detecção das dificuldades ou problemas de aprendizado. E nessa perspectiva, o papel do tutor ou do professor se torna de suma importância, enquanto mediador no processo de aprendizagem.
Anderson et al. (2001) sustentam que é preciso que os alunos tenham a oportunidade de problematizar os conteúdos de um curso. Nesse sentido, a mediação do professor ganha força. Os alunos precisam ser provocados e convidados a refletir sobre os novos conhecimentos para poderem fazer as relações entre o novo conhecimento e o anterior, para que as diferenças fiquem claras e, até, para que sejam percebidas, a fim de que o novo conhecimento não seja, simplesmente, compreendido por meio da pura associação de pontos relacionados às velhas concepções
É fundamental que o aluno saiba sobre os critérios de avaliação. Muitos alunos estão acostumados com as avaliações que seguem o modelo de avaliação classificatória, seletiva, autoritária e punitiva, como a praticada na pedagogia tradicional. Então, é preciso deixar bem claro como o processo de avaliação deverá acontecer.