A redução do valor externo da moeda significava, demais, um prêmio a todos os que vendiam divisas estrangeiras, istoé, aos exportadores.Para aclarar esse mecanismo, vejamos um exemplo.Suponhamos que, na situação imediatamente anterior à crise, o exportador de café estivesse vendendo a saca a 25 dólares e transformando esses dólares em 200 cruzeiros, isto é,ao câmbio de 8 cruzeiros por dólar.Desencadeada a crise, ocorreria uma redução, digamos, de 40 por cento do preço de venda da saca de café, a qual passava a ser cotada a 15 dólares.Se a economia funcionasse num regime de estabilidade cambial tal perda de 10 dólares se traduziria, pelas razões já indicadas, em uma redução equivalente dos lucros do empresário.Entretanto, como o reajustamento vinha pela taxa cambial, as conseqüências eram outras.
Admitamos que, ao deflagrar a crise, o valor do dólar subisse de 8 para 12 cruzeiros.Os 15 dólares a que o nosso empresário estava vendendo agora a saca do café já não valiam 120 cruzeiros mas sim 180.Dessa forma, a perda do em presário, que em moeda estrangeira havia sido de 40 por cento, em moeda nacional passava a ser de 10 por cento. (p. 131)
O processo de correção do desequilíbrio externo significava, em última instância,uma transferência de renda daqueles que pagavam as importações para aqueles que vendiam as exportações.Como as importações eram pagas pela coletividade em seu conjunto,os empresários exportadores estavam na realidade logrando socializar as perdas que os mecanismos econômicos tendiam a concentrar em seus lucros. (p. 131) :star:
É verdade que parte dessa transferência de renda se fazia dentro da própria classe empresarial, na sua qualidade dupla de exportadora e consumidora de artigos importados.Não obstante, a parte principal da transferência teria de realizar-se entre a grande massa de consumidores de artigos importados e os empresários exportadores. (p. 131)
Para dar-se conta do vulto dessa transferência, bastaria atentar na composição das importações brasileiras no fim do século xix e começo do xx,quando metade delas era constituída por alimentos e tecidos. (p. 131) :star:
Durante a depressão,as importações que se contraíam menos - dada a baixa elasticidade-renda de sua procura eram aquelas de produtos essenciais utilizados pela grande massa consumidora. Os produtos de consumo de importação exclusiva das classes não-assalariadas apresentavam elevada elasticídade-renda, dado seu caráter de não-essencialidade. (p. 131-132) :star: