No transcorrer de um ano, um crescimento de 1% parece muito pouco, quase imperceptível, e as pessoas podem ter a impressão, a olho nu, de uma estagnação completa,de uma reprodução do passado quase idêntica de um ano para o outro. O crescimento pode parecer, assim, uma noção relativamente abstrata, pura construção matemática e estatística.Contudo, no horizonte de uma geração — ou seja, em torno de trinta anos —,que para os nossos olhos constitui uma escala de tempo bastante significativa para avaliar as mudanças em curso numa determinada sociedade,esse mesmo crescimento corresponde à expansão de mais de um terço, uma transformação substancial. (p. 92)
A lei do “crescimento acumulado” é de natureza idêntica à lei chamada de “retornos acumulados”, segundo a qual uma taxa de retorno anual de alguns pontos percentuais,acumulada ao longo de várias décadas,conduz automaticamente a uma expansão muito forte do capital inicial — contanto que os retornos sejam sempre reinvestidos ou ao menos que a parte consumida pelo detentor do capital não seja grande demais em comparação com a taxa de crescimento do país. (p. 94)
A tese central deste livro é precisamente que uma diferença que parece pequena entre a taxa de retorno (ou remuneração) do capital e a taxa de crescimento pode produzir,no longo prazo, efeitos muito potentes e desestabilizadores para a estrutura e a dinâmica da desigualdade numa sociedade.Tudo decorre, de certa maneira, da lei do crescimento e do retorno acumulado, e, portanto, é aconselhável que nos familiarizemos com essas noções. (p. 94)
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