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Bases - Gonzalez cap. 1
Diferentes Abordagens para a Pesquisa Qualitativa; Fundamentos Epistemológicos
Desafios atuais na definição da pesquisa qualitativa: breve histórico sobre o uso do termo
O uso do termo qualitativo não coincide, em seu sentido semântico, com a complexa realidade que se pretende abranger em sua definição.
O qualitativo, como conceito alternativo às formas de quantificação que tem predominado no desenvolvimento das ciências sociais e, de forma particular, na psicologia, constitui via de acesso a dimensões do objeto inacessível a uso que em nossa ciência se tem feito do quantitativo.
História
Desde finais do séc. XIX tem havido ações isoladas de pesquisa qualitativa nos EUA, onde surgiu associada a uma perspectiva sociológica.
Mas, foi no princípio do séc. XX que a pesquisa qualitativa se sistematizou, a partir dos trabalhos de campo de Malinowski, Bateson, Mead, Benedict e outros, que foram fontes importantes para o desenvolvimento do modelo etnográfico.
A etnografia aparece então como importante tradição qualitativa a partir da pesquisa antropológica.
Nas décadas de 20 e 30 desenvolveu-se a Escola de Chicago no campo da sociologia, apoiada no método da observação participante.
No início, a pesquisa etnográfica, apesar da mudança representada pela consideração da presença do pesquisador no campo, continuou colocando no centro da pesquisa a preocupação com a objetividade e a neutralidade, atributos essenciais da epistemologia positivista que dominava o cenário das ciências sociais.
como resultado, a pesquisa etnográfica manteve sua ênfase na fidelidade do dados obtidos no momento empírico.
Todavia, a própria complexidade e vitalidade que a presença do pesquisador no campo transmitiu ao estudo levaram a reflexões e construções teóricas contraditórias aos princípios gerais adotados por esses autores.
As construções do sujeito diante de situações pouco estruturadas produzem uma informação qualitativamente diferente da produzida pelas respostas a perguntas fechadas, cujo sentido para quem as responde está influenciado pela cosmovisão do investigador que as constrói. Essa última tendência tem predominado no desenvolvimento de instrumentos objetivos em psicologia.
Denzin e Lincoln reconhecem 5 períodos essenciais:
1.
Período tradicional:
influenciado pelo paradigma científico positivista, por sua busca da objetividade, da validade e da confiabilidade do conhecimento obtido.
Período Modernista:
vai desde os anos do pós-guerra até a década de 70 e ainda hj se observa sua influência em algumas pesquisas. Muitos dos trabalhos tentam formalizar os métodos qualitativos.
3.
Período da Indiferenciação de Gêneros:
localiza-se entre os anos 70 e 86. Os pesquisadores procuram uma complementação mútua de paradigmas, métodos e estratégias para aplicar em suas pesquisas. As estratégias vão desde a
grounded theory
ao estudo de caso, os métodos biográficos e a pesquisa clínica.
Período de crises de representação:
a partir da década de 80 produz-se uma profunda ruptura, com trabalhos que se apoiam em pesquisas mais reflexivas e chamam a atenção para os problemas de gênero, raça e classes sociais. Esse período questionou muito do que se fazia e provocou inúmeros debates acerca da antropologia e dos métodos de investigação social.
Período da dupla crise
: Foi resultado de uma crise de representação e de legitimação dos pesquisadores qualitativos diante do mundo da ciência social. A
crise de representação
está definida pelo fato de que o pesquisador social pode captar diretamente a experiência vivida, que pode levar à substituição do conhecimento pelo discurso, o que causaria o fim da epistemologia. A
crise de legitimação
tem a ver com o processo de repensar as formas de legitimidade do conhecimento produzido, o que leva a uma reflexão profunda sobre o significado dos termos validade, confiabilidade e generalização, entre outros.
Antecedentes da Pesquisa Qualitativa em Psicologia; resistência e contradições.
Para melhor ou para pior e, às vezes, por razões estranhas, a psicologia moderna é essencialmente a psicologia americana.
O quarto presidente da APA, descreveu a nova psicologia como uma ciência quantitativa em rápido avanço.
O grande desenvolvimento profissional que a psicologia alcançou nos EUA forçou a geração de técnicas para os diferentes ramos da prática profissional.
A psicologia se desenvolveu como um recurso para combater a aristocracia americana e conduziu a um fortalecimento do social sobre o individual.
Nessa época se desenvolveu uma obsessão pelo controle, que constituiu um dos antecedentes essenciais do comportamentalismo.
O desenvolvimento do comportamentalismo levou a uma visão naturalista da psicologia, que se manifesta até hoje na construção do pensamento psicológico.
O comportamentalismo se desenvolveu fiel á imagem de ciência característica do positivismo de Comte.
Partindo desse modelo positivista foram desenvolvidas as duas tradições que tem dominado a pesquisa psicológica a partir de um ponto de vista metodológico:
Pesquisa Correlacional -
correlações estatísticas significativas que se obtêm entre as variáveis estudadas em grupos significativos de pessoas.
Pesquisa de Manipulação
- o modelo hipotético dedutivo, centrado na operacionalização de variáveis, constitui a base de ambos os tipos de pesquisa, os quais tem atuado como modelos ideais de objetividade e cientificidade na ciência psicológica.
O desenvolvimento da psicologia a partir de uma concepção naturalista não foi patrimônio exclusivo do comportamentalismo americano; também surgiu com força em uma corrente europeia igualmente paradigmática e influente:
a psicanálise
Freud deixou claro que sua construção teórica estava comprometida com a evolução de suas próprias ideias, um dos pontos fortes de sua produção, que se enfraquece em seu valor epistemológico quando não consegue afastar-se de uma definição naturalista de seu objeto.
A epistemologia freudiana nos reporta a uma forma de produção qualitativa do conhecimento, em que se destaca seu caráter interpretativo, singular e em permanente desenvolvimento, assim como o papel do sujeito como produtor do conhecimento.
Os humanistas superaram alguns aspectos importantes do reducionismo biologista freudiano e deram maior força ao sujeito individual, reconhecendo sua capacidade para produzir projetos e participar ativamente na regulação voluntária do comportamento.
Para Vygotsky e Rubinstein o social, compreendido como processo cultural, era essencial para a constituição da psique, e eles deram os primeiros passos na superação da dicotomia entre o externo e o interno e entre o social e o individual, premissas essenciais para o desenvolvimento de um conceito de subjetividade.