Terra Sonâmbula (1992), de Mia Couto.

Contexto Histórico

Guerra Civil (1976 - 1992)

Até que, certa vez, desaguou na praia um desses marmíferos, enormão. Vinha morrer na areia. Respirava aos custos, como se puxasse o mundo nas suas costelas. A baleia moribundava, esgoniada. O povo acorreu para lhe tirar carnes, fatias e fatias de quilos. Ainda não morrera e já seus ossos brilhavam no sol. Agora, eu via o meu país como uma dessas baleias que vêm agonizar na praia. p. 14.

Guerra Anticolonial (1965 - 1975)

Síntese

Muidinga é um menino que sofreu amnésia e tinha a esperança de encontrar seus pais. Tuahir é um velho sábio que tenta resgatar toda a história do menino, lhe ensinando novamente tudo sobre o mundo. Eles estão fugindo dos conflitos da guerra civil em Moçambique.


Logo no início, enquanto os dois estão caminhando pela estrada, eles encontram um ônibus que foi queimado na região de Machimbombo. Junto a um cadáver, eles encontram um diário. Nos “Cadernos de Kindzu”, o menino conta detalhes de sua vida.


Dentre outras coisas, o garoto descreve sobre seu pai que era um pescador e sofria de sonambulismo e alcoolismo.



Além disso, Kindzu menciona sobre os problemas da falta de recursos que sua família sofria, a morte de seu pai, a relação carnal que tem com Farida e o início da guerra.


Abandonado pela mãe, Kindzu vai relatando em seu diário momentos de sua vida. Da mesma forma, ele fugiu da guerra civil no país.


Assim, vai se narrando a história dos dois, intercalada com a história do diário do menino. Os corpos encontrados foram enterrados por eles e o ônibus serviu de abrigo por um tempo a Muidinga e Tuahir.


Adiante, eles caíram numa armadilha e foram feitos prisioneiros por um velho chamado Siqueleto. No entanto, logo eles foram libertados. Por fim, Siqueleto, um dos sobreviventes de sua aldeia, se mata.



Tuahir revela a Muidinga que ele foi levado a um feiticeiro para que sua memória fosse apagada e com isso evitar muitos sofrimentos. Tuahir tem a ideia de construir um barco para seguirem a viagem pelo mar.


No último caderno de Kindzu, ele narra o momento em que encontra um ônibus queimado e sente a morte. Chegou a ver um menino com seus cadernos na mão, o filho de Farida que ele tanto procurava: Gaspar. Assim, podemos concluir que Gaspar era, na verdade, o garoto que sofreu amnésia: Muidinga.

Estrutura da narrativa

Estilo

História de Muidinga e Tuahir

História de Kindzu e Farida

Narrada em terceira pessoa (onisciente)

Narrada em primeira pessoa (Kindzu)

Realismo Fantástico

universo de mitos e lendas

injustiças e sofrimento, num país devastado pela guerra

Então ele mete o dedo no ouvido, vai enfiando mais e mais fundo até que sentem o surdo som de qualquer coisa se estourando. O velho tira o dedo e um jorro de sangue repuxa da orelha. Ele se vai definhando, até se tornar do tamanho de uma semente.

— Meu filho, os bandos tem serviço de matar. Os soldados tem serviço de não morrer. Nós
somos o chão de uns e o tapete dos outros.
— Não é mais uma razão para me juntar aos guerreiros blindados?
— Deixa a guerra, filho. A morte só ensina a matar.
p. 18.

De repente, caiu dentro do meu concho um tchóti, um desses anões que descem dos céus. A canoa se revoltinhou com o choque e eu quase me desembarquei. Olhei o anão e descreditei, duvidoso. Meu pai sempre me contava estórias desta gente que desce os infinitos, de vez em onde. p. 36

Histórias paralelas que se alternam

Espaço

Cenário de pobreza e devastação (Guerra Civil, 1976-1992)

Tempo

Indeterminado/ Duração de poucos dias

Linguagem

“seu dito, nosso feito”
“ontem, quando eu morrer”;


“palavraram”, “brincriações”, “desexistir”, “sonhambulante”

recriação da oralidade

sintaxe como elo entre oralidade e pura invenção

neologismos

resignificação de termos

metáforas ímpares

transgressões das normas gramaticais

Uma noite os bandidos atacaram a loja do indiano, roubaram os panos, queimaram o edifício. A notícia correu rápido. Ninguém dispensou nenhum sentimento pela desgraça de Valá. Ele era um de fora, nem merecia as penas. p. 32.

Década de 1980, em que a seca e a guerra civil provocam a fome em grande escala.

exuberante criatividade lexical