Na produção mercantil, tal como se tinha desenvolvido na Idade Média, não podia surgir o problema de a quem deveriam pertencer os produtos do trabalho. Geralmente, o produtor individual criava-os com matérias-primas que lhe pertencia,, produzidas regra geral por si próprio, com a ajuda dos seus próprios meios de trabalho e do seu trabalho manual ou de sua família. Não tinha necessidade de apropriar-se dos produtos, pois já eram seus pelo simples fato de ter sido ele a produzi-los. A propriedade dos produtos tinha, deste modo, por base o trabalho pessoal. Mesmo nos casos em que se utilizava a ajuda de outrem, esta era, regra geral, acessória e, além do salário, havia frequentemente outra remuneração: o aprendiz e o oficial das corporações trabalhavam mais pelo fato de aprender a ser mestres um dia do que pela alimentação e salário. Foi assim que apareceu a concentração dos meios de produção nas grandes oficinas e fábricas, e a sua transformação em meios de produção realmente sociais. Mas esses meios de produção e seus produtos sociais continuaram a ser considerados como o eram antes: meios de produção e produtos individuais. E, se até aqui o proprietário dos meios de trabalho se apropriava do produto porque, em regra, era o seu próprio produto, e a ajuda de outrem era uma exceção, agora o proprietário dos meios de trabalho continuava a apropriar-se do produto, apesar dele não ser mais o seu produto, mas exclusivamente fruto do trabalho alheio. Assim, os produtos criados agora socialmente não voltaram a ser propriedade daqueles que tinham posto realmente em marcha os meios de produção e fabricado os produtos, mas eram apropriados pelo capitalista. Os meios de produção transformaram-se em fatores sociais. No entanto, foram submetidos a uma forma de apropriação que pressupõe a produção privada individual, isto é, aquela em que cada um é dono e leva ao mercado o seu próprio produto. O modo de produção vê-se sujeito a esta forma de apropriação apesar de destruir o pressuposto sobre o qual se baseia. Nesta contradição, que confere ao novo modo de produção o seu caráter capitalista, existem já, em embrião, todos os conflitos do presente. E quanto mais o novo modo de produção dominar em todos os setores fundamentais da produção e em todos os países economicamente importantes, […] melhor se evidenciará a incompatibilidade entre a produção social e a apropriação capitalista (Engels, 1976: 79:80) :star: (p. 114-115)