Entrevistas narrativas: um importante recurso
em pesquisa qualitativa

As entrevistas narrativas se caracterizam como ferramentas não estruturadas, visando a profundidade, de aspectos específicos, a partir das quais emergem histórias de vida, tanto do entrevistado como as entrecruzadas no contexto situacional. (p.2)

Tendo como base a ideia de reconstruir acontecimentos sociais a partir do ponto de vista dos informantes, influência do entrevistador nas narrativas deve ser mínima. (p.2)

contar e escutar histórias (p.2)

Importante característica colaborativa, uma vez que a história emerge a partir da interação, da troca, do diálogo entre entrevistador e participantes (p .2)

[ NARRATIVA X DESCRIÇÃO] a narrativa implica uma posição de participação assumida pelo escritor em face da vida e dos problemas da sociedade. Nesse sentido, há engajamento entre os interlocutores. A descrição, por seu lado, se relaciona a uma posição de observação, de desvelamentos do fato per si, sem necessariamente, provocar interfaces entre o fato e os sujeitos a ele pertencente, na conjuntura do discurso. (p.2)

nas narrativas o autor não informa sobre sua experiência, mas conta sobre ela, tendo com isso a oportunidade de pensar algo que ainda não havia pensado. (p.2)

Tendo em vista que os processos macros são formados por ações individuais, a partir da técnica de entrevistas narrativas pode-se evidenciar aspectos desconhecidos ou nebulosos da realidade social a partir de discursos individuais. (p.2)

Assim uma das funções da entrevista narrativa é contribuir com a construção histórica da realidade e a partir do relato de fatos do passado, promover o futuro, pois no passado há também o potencial de projetar o futuro. (p.3)

As narrativas, dessa forma, são consideradas representações ou interpretações do mundo e, portanto, não estão abertas a comprovação e não podem ser julgadas como verdadeiras ou falsas, pois expressam a verdade de um ponto de vista em determinado tempo, espaço e contexto sóciohistórico. Não se tem acesso direto às experiências dos outros, se lida com representações dessas experiências ao interpretá-las a partir da interação estabelecida. (p.3)

As entrevistas narrativas são formas de gerar histórias. (p.3)

As questões exmanentes referem-se às questões da pesquisa ou de interesse do pesquisador que surgem a partir da sua aproximação com o tema do estudo, ao elaborar a revisão de literatura e aprofundamento no tema a ser pesquisado (exploração do campo). Essas questões devem ser transformadas em imanentes, sendo essa tarefa crucial no processo de investigação, que deve ao mesmo tempo ancorar questões exmanentes na narração, sempre
utilizando a linguagem do informante. As questões imanentes são temas e tópicos trazidos pelo informante, elas podem ou não coincidir com as questões exmanentes. (p.3)

informar ao entrevistado/a sobre o eixo de investigação e os procedimentos da entrevista (p.3)

CRITÉRIOS DE ELABORAÇÃO DO TÓPICO CENTRAL DA ENTREVISTA (P.3)

1) Necessita fazer parte da experiência do informante, para garantir o seu interesse e uma narração rica em detalhes.

2) Deve ser de significância pessoal e social, ou comunitária.

3) O interesse e o investimento do informante no tópico não devem ser mencionados, para evitar que se tomem posições ou se assumam papéis já desde o início.

4) Deve ser suficientemente amplo para permitir ao informante desenvolver uma história longa que, a partir de situações iniciais, passando por acontecimentos passados, leve à situação atual.

5) Evitar formulações indexadas, ou seja, não referir datas, nomes ou lugares, os quais devem ser trazidos somente pelo informante, como parte de sua estrutura relevante.

FORMA DE ANÁLISE DA ENTREVISTA NARRATIVA (P.4)

1) Após a transcrição separa-se o material indexado
do não indexado:

O primeiro corresponde ao conteúdo racional, científico, concreto de quem faz o que, quando, onde e porque, ou seja, é ordenado (consequentemente é de ordem consensual, coletiva) (p.4)

O segundo, o material não indexado vai além dos acontecimentos e expressam valores, juízos, refere-se à sabedoria de vida e, portanto, é subjetivo. (p.4)

2) Na etapa seguinte, utilizando o conteúdo indexado, ordenam-se os acontecimentos para cada indivíduo o que é denominado de trajetórias.

3) O próximo passo consiste em investigar as dimensões não indexadas do texto.

4) Em seguida, agrupam-se e comparam-se as trajetórias individuais.

5) O último passo é comparar e estabelecer semelhanças existentes entre os casos individuais permitindo assim a identificação de trajetórias coletivas.

Para analisar o material recomenda-se reduzir o texto gradativamente, operando-se com condensação de sentido e generalização, divide-se o conteúdo em três colunas, na primeira fica a transcrição, na segunda coluna a primeira redução e na terceira apenas as palavras-chave. Então, desenvolvem-se categorias, primeiramente para cada uma das entrevistas narrativas, posteriormente são ordenadas em um sistema coerente para todas as entrevistas
realizadas na pesquisa, sendo o produto final a interpretação conjunta dos aspectos relevantes tanto aos informantes como ao pesquisador.
(p.4)

A compreensão como principal ação da pesquisa qualitativa (p.5)

busca ativa e atenta por novos interlocutores e observações em campo, com o objetivo de articular e enriquecer as informações coletadas, uma vez que o objeto da investigação é sempre um objeto construído (p.5)

As interferências com perguntas pontuais para eventuais esclarecimentos, mais direcionadas ao foco do conteúdo pesquisado, são realizadas após o término da gravação. Isto porque a captura em profundidade exige do entrevistador um aprender a ouvir tanto as falas quanto as pausas, silêncios, ritmos e o próprio cenário que vai se configurando no decorrer de uma história que ali é contada. (p.5)

"Ouvir em profundidade" (p.5)