A gênese dessa grande população livre negra e mulata se deu,fundamentalmente, pela dinâmica do tráfico transatlântico de escravos acoplada à dinâmica da alforria. A escravização dos africanos,seu transporte para o Brasil,as atividades que aqui desempenharam como escravos (em
geral, nas tarefas rurais e urbanas que não exigiam qualificação), a recomposição dos laços familiares e culturais,a produção de descendentes, que em uma ou mais geração, certamente obteriam a liberdade via
manumissão: todos esses movimentos e outros mais podem ser tidos
como parte de um processo institucional em larga escala de transformação de status, tal como propuseram Patterson e Kopytoff
Luiz Felipe de Alencastro denomina de a “invenção do mulato” Segundo ele, as práticas de favorecimento dos mulatos na América portuguesa podem ser observadas em
medidas como: emprego mais freqüente desse grupo em trabalhos qualificados, uso militar em tropas auxiliares, e sobretudo, privilegiamento
no ato da manumissão. A esse quadro, Alencastro contrapõe a situação
na África portuguesa, onde os mulatos foram desde cedo equiparados
aos negros. Em seus termos,....
houve no Brasil um processo específico que transformou a miscigenação — simples resultado demográfico de uma relação de dominação e de exploração
— na mestiçagem,processo social complexo dando lugar a uma sociedade plurirracial O fato de esse processo ter se estratificado e, eventualmente, ter sido
ideologizado, e até sensualizado, não se resolve na ocultação de sua violência
intrínseca, parte consubstancial da sociedade brasileira: em última instância,
há mulatos no Brasil e não há mulatos em Angola porque aqui havia a opressão sistêmica do escravismo colonial,e lá não
Como há muito é consenso na historiografia brasileira, a partir do
século XVIII. com o impacto da mineração,houve grande diversificação
na economia colonial. Antes de mais nada, pelo aparecimento de uma
produção ativa voltada ao abastecimento do mercado interno, como a
pecuária no Rio Grande do Sul e no vale do São Francisco, ou a produção de mantimentos na própria capitania de Minas, em São Paulo e no
Rio de Janeiro.
O surgimento de vários núcleos urbanos em Minas
Gerais, e mesmo o crescimento de antigas cidades como Rio de Janeiro
e Salvador, também ativaram. a economia interna. A produção de
tabaco, no Recôncavo Baiano, foi outra atividade que recebeu impulso,
pois se tratava de uma mercadoria central para a aquisição de cativos na
Costa da Mina, especialmente valorizados nas zonas mineradoras.
O que importa para esta análise é o fato de todas essas atividades
— rurais e urbanas — terem se baseado na escravidão,com uma estrutura de posse dos escravos que os distribuía por diferentes faixas de
riqueza, sem concentrá-los apenas nas mãos dos senhores mais capitalizados ou mesmo dos proprietários brancos. A América portuguesa, portanto, combinava com essas diferentes operações econômicas o leque das formas de exploração do trabalho escravo presentes no
Novo Mundo: a mineração e a escravidão urbana da América espanhola, as plantations escravistas do Caribe, a produção de mantimentos da região de Chesapeake.
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