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Culpa da vítima: um modelo para perpetuar a impunidade nos acidentes do…
Culpa da vítima: um modelo para perpetuar
a impunidade nos acidentes do trabalho.
Contexto
Taxa de mortalidade por acidentes de trabalho
• Brasil está acima da média dos países da América Latina, com uma taxa de 13,5/100 mil, feito em 2000.
• Ásia – 23.1/100 mil, segundo o último levantamento da OIT, que tomou como base os dados do ano de 1994.
• África que é de 21/100 mil, segundo o último levantamento da OIT, que tomou como base os dados do ano de 1994.
Predomina no Brasil e no mundo, a compreensão de que o acidente é um evento simples, com origens em uma ou poucas causas, encadeadas de modo linear e determinístico.
No Brasil, o modelo explicativo monocausal centrado na culpa da vítima vem se mantendo intocável no meio técnico – industrial , em meios acadêmicos mais conserva d o res e em organismos oficiais.
Teoria
Reason classifica duas concepções de acidentes como sendo “da engenharia” e a “organizacional”
A concepção da engenharia enfatiza a quantificação da probabilidade de eventos ou aspectos associados, e as falhas de concepção ensejando o surgimento de propostas de sistemas de gestão de segurança e da saúde no trabalho e de melhoria das interfaces de troca de informações.
Na concepção organizacional, Reason considera que o erro é muito mais consequência do que causa e que suas origens estariam em condições latentes, incubadas na história do sistema.
A gestão da segurança e da saúde passa a recomendar medidas proativas e a busca de reformas contínuas do sistema, como por exemplo, as estratégias de qualidade.
Na visão de Perrow sempre haverá interações de natureza inesperada, complexas, incompreensíveis em tempo real para os operadores e capazes de desencadear, de modo irreversível, o processo acidental.
Hollnagel cita dois outros modelos de gestão do erro
Gestão do desvio de desempenho
Destaca a ideia de desvio, que teria origens em causas manifestas e latentes a ser geridas, tanto pela busca de sinais ou avisos de sua existência, quanto pela sua supressão.
O acidente é compreendido principalmente como sinal de disfunção no sistema sociotécnico.
Gestão da variabilidade de desempenhos
Adota como um de seus principais pilares de sustentação o conceito de variação, apresentado de modo muito próximo dessa visão, apesar da ênfase que dá ao fato de que a definição de variações deve basear-se na noção de trabalho real, e não em normas, regras ou prescrições.
A variabilidade do trabalho tanto pode ser negativa como positiva. No caso de sistemas sociotécnicos abertos que alcançaram bons desempenhos em termos de segurança e confiabilidade, essa variabilidade mostra-se associada, sobretudo, aos componentes humanos, sendo fortemente influenciada pela compreensão dinâmica da atividade em todos os seus momentos.
Essa forma de pensar o trabalho leva a compreender o acidente como indicador da ruptura da compreensão da atividade, do compromisso cognitivo usado pelos operadores na gestão da atividade.
Abordagem do fator humano na Saúde e Segurança
Neboit descreve quatro enfoques
Unicausalidade ou monocausalidade
Acidentes são provocados por uma causa unica e singular
Multicausalidade
O surgimento da multicausalidade representou rompimento com a visão reducionista acerca de acidentes, e serviu de base para o surgimento das compreensões sistêmicas e da confiabilidade humana que alargaram o perímetro da compreensão desses fenômenos.
Sistêmica
A visão sistêmica estaria representada, sobre t u d o, por contribuições que romperam com a noção de Ergonomia de Posto de Trabalho introduzindo ideias como as de Confiabilidade e Ergonomia de Sistema.
Confiabilidade humana.
O enfoque da confiabilidade humana centra-se no estudo da evolução tecnológica e organizacional, explorando aspectos como os da mediação simbólica e da complexidade, e também do modo como as ciências humanas abordam o acidente.
Modelo psicoorganizacional(Llory)
Ressalta-se a necessidade de explorar tanto aspectos conjunturais, ditos sincrônicos, como aqueles construídos ao longo da história de vida das pessoas e da organização, ditos diacrônicos.
Pesquisa
Grupo 1 de acidentes
Ocorrem em situações de risco evidente, cujos fatores de risco estão presentes de modo habitual no processo de trabalho e que podem ser facilmente identificados por meio de simples inspeção.
52,0% dos 71 casos estudados podem ser enquadrados como pertencentes a acidentes do Grupo 1.
Grupo 2 de acidentes
Necessitam de conjunção de fatores que não ocorrem de modo habitual e de técnicas mais apuradas para investigação de causas, como entrevistas aos operadores, observação das atividades de trabalho etc.
25,5% dos 71 casos estudados podem ser enquadrados como pertencentes a acidentes do Grupo 2.
22,5% dos casos não permitiram uma classificação
Acidentes por setor
Produtos alimentícios e de bebidas, com 16,9% dos casos estudados
Setor da construção civil, com 15,5% dos casos estudados
Setor de fabricação de papel e celulose, que responde por 11,2%.
Dados
Dos 71 casos investigados, quarenta, ou seja, 56,3% foram atribuídos a atos inseguros cometidos pelos trabalhadores.
17 casos (24,0%) foram atribuídos a atos inseguros cometidos pelos trabalhadores e seus mentores.
A falta de segurança ou condição insegura de trabalho responde por 11 casos, representando 15,5%.
A concepção de acidente utilizada pelas organizações pode ser considerada como “centrada na pessoa”, gestão do erro, paradigma tradicional ou burocrático da saúde e segurança no trabalho.
Aspectos não abordados nessas análises
Atividade que estava sendo desenvolvida, aí incluída as noções de prescrições, objetivos, recursos disponibilizados, os aspectos temporais, sua variabilidade normal e incidental etc;
Influências do contexto externo ao sistema, como urgência de pedidos de fornecedores, exigências de legislação etc.;
Variações do estado psíquico dos trabalhadores, inclusive aquelas referentes a aspectos da gestão da atividade, como a ansiedade decorrente de dificuldades na resolução de problemas etc.