**No caso brasileiro, as desigualdades sexuais e raciais metaforizadas tornam-se constitutivas das representações sobre a nacionalidade**. A centralidade da imagem da mulata, nos textos e subtextos que conformam nossa identidade cultural, exemplifica a natureza complexa desta operação e demonstra como, neste caso, as características nacionais que informam nossa **tradição cultual são bem menos importantes do que as relações e intermediações que estabelecem entre si**. Não é por acaso, portanto, que os estudos literários feministas no Brasil institucionalizaram-se “rápida” e “naturalmente”, que a maior parte dos estudos sobre a mulher apresente dificuldade em se reconhecer como feminista, que **os modelos teóricos vindos de fora, articulados em função de uma noção contrastada de diferença e alteridade, estejam se revelando literalmente “idéias fora do lugar” e que, finalmente, a própria imprecisão que estes estudos vem demonstrando seja um dos caminhos possíveis para o questionamento da estrutura das relações de poder no Brasil e para a formulação de uma estética e de uma política cultural democráticas em nossos países.**