CONFORMAÇÃO ÓSSEA E RETRAÇÕES
A fisiopatologia do pé equinovaro supinado é descrita cinético-funcionalmente pela adução-supinação do antepé, equinismo e varismo do retropé e cavo plantar acentuado. A natureza destas alterações esqueléticas é originada em razão da conformação óssea dos metatarsos, calcâneo, navicular, cuboide e tálus. Inicialmente, a elevação da cabeça dos metatarsianos culmina em uma face plantar voltada para medial - em supino. Tal particularidade é somada a adução do antepé, favorecendo o desvio medial do membro e o desvio lateral do calcâneo, responsável pela deformidade em varo deste osso. Portanto, em razão desta configuração morfológica congênita, ocorrem retrações de elementos mediais, protagonizados pelos ligamentos deltoide e calcâneo-navicular, bem como o encurtamento de tibial posterior, flexor longo do hálux e flexor longo dos dedos. Similarmente, em virtude da supinação ocorrem retrações da fáscia plantar e dos músculos flexor curto dos dedos e os abdutores do hálux e do quinto dedo. Outros aspectos a serem observados consistem na flexão plantar do pé, redirecionando o tálus em relação ao calcâneo, caracterizando o equino. Em vista disso, as principais repercussões consistem no encurtamento do tendão de Aquiles e da cápsula das articulações tibiotársica e subtalar.
Em contrapartida, enquanto os elementos mediais, plantares e posteriores estão retraídos, os elementos laterais encontram-se distendidos.
RETRAÇÕES E AMPLITUDE DE MOVIMENTO
No pé torto congênito, estão reduzidas as amplitudes de movimento de eversão, dorsiflexão e abdução. No tocante à eversão e abdução, a restrição de ADM ocorre em virtude da retração da cápsula da articulação subtalar, que limita os movimentos artrocinemáticos e osteocinemáticos. Similarmente, a combinação de retração articular da tibiotársica, encurtamento do tendão de Aquiles e a deformidade em equino são responsáveis pela diminuição da dorsiflexão.
Ademais, a fraqueza dos músculos distais igualmente contribuem para a diminuição de ADM ativa.
FRAQUEZA MUSCULAR E EQUINOVARO SUPINADO
Os grupos musculares dos dorsiflexores, flexores plantares, eversores e inversores possuem redução de força muscular no PTC. No tocante ao grupo dos inversores, além da restrição articular, tal aspecto pode ser justificado pelo encurtamento muscular, que diminui a força gerada em virtude da aproximação demasiada das fibras de actina e miosina na fibra, gerando menos pontes cruzadas e consequentemente, menos força. Em contrapartida, os músculos eversores também apresentam diminuição de força, ao passo que a formação de pontes cruzadas é prejudicada em virtude do afastamento excessivo dos filamentos de actina e miosina. Os flexores plantares representam o grupo muscular com maior acometimento, visto que além de encurtado, músculos como o gastrognêmio são hipotróficos.
REPERCUSSÕES FUNCIONAIS E MARCHA
A adução do antepé pode provocar uma rotação interna da tíbia e gerar mecanismos biomecânicos compensatórios que podem provocar disfunções nas articulações do quadril e joelho. Dentre eles, estão o aumento da flexão e da rotação externa de quadril, também para compensar a fraqueza de músculos flexores plantares. Os padrões incorretos de marcha constituem os principais pilares do atraso no desenvolvimento motor nas crianças com PTC. Além disso, pode-se observar redução do comprimento do passo e da velocidade da marcha e diminuição da capacidade funcional, muitas vezes pela falta de participação de atividades esportivas e restrição social.