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DESIGN CENTRADO NO HUMANO (DCH) :silhouettes: (leia o mapa em sentido…

- - - - Os estudos e aplicações do DCH são recentes e recolocam a problemática e o foco do projeto de produtos, priorizando o indivíduo, e se diferenciando assim das metodologias tradicionais praticadas e que estão presentes nas ementas das disciplinas projetuais no ensino do design.
- - - - Indivíduo como principal foco
        
        Sob o guarda-chuva do DCH, há uma ampla gama de abordagens a fim de estabelecer uma conexão com futuros usuários e compreender melhor suas ações, necessidades e preferências. Dentre essas, é possível citar o Design Empático, que conforme definido por Koskinen e Battarbee (2003, p.45) “é um entendimento de como o usuário vê, experimenta e sente um objeto, ambiente ou serviço na situação em que ele ou ela usam o mesmo”.
        
        A experiência do usuário é definida por Unger e Chandler (2012) como sendo a criação e sincronização de elementos que afetam e influenciam suas percepções e comportamentos, incluindo coisas que podem ser tocadas, escutadas e até cheiradas, indo assim além dos itens físicos.
        
        A experiência com produto, conforme Russo e Hekkert (2008), se difere da Experiência do Usuário que foca nas questões cognitivas do usuário, enquanto que a experiência com produtos relaciona-se com as experiências afetivas envolvidas na interação humano-produto seja essa instrumental, não instrumental ou mesmo não-física.
        
        Além dos referenciais teóricos muito próximos, tanto o DCH como o DCU, possuem em comum a diversidade de métodos que são utilizados pelos profissionais para se aproximarem dos indivíduos envolvidos no desenvolvimento de seus projetos. Esses métodos podem ser aplicados junto aos usuários e aos stakeholders preferencialmente em todas as etapas do processo projetual, como defende o Institute for Human Centered Design/IHCD e seu User/Expert Lab classificando o U/E primário –indivíduos diretamente envolvidos com o problema – ou secundário – aqueles secundariamente envolvidos com o problema.
        
        Dentre as diversas propostas de organização dos métodos pode ser citada a divisão utilizada pelo Institute of Design em Stanford conhecida como D.school (2016), que define cinco etapas de desenvolvimento projetual:
        ✦ Empatia
        ✦ Definição
        ✦ Ideação
        ✦ Prototipagem e Teste
        nas quais uma gama de ferramentas e métodos são propostos.
- - - - De acordo com a abordagem foi necessário considerar não apenas o usuário principal mas todos os que, de alguma forma, estão envolvidos e interferem na relação do usuário, com o produto. Os principais envolvidos com as armações infantis, são o público-alvo ou usuários, ou seja, as crianças de ambos os gêneros, com idade entre 6 e 11 anos, que usam óculos de receituário, os cuidadores (pais ou responsáveis) dessas crianças, os oftalmologistas e os atendentes de óticas.
    - - Atendentes das óticas
        
        Método
        
        Para esse grupo também foi a entrevista individual, que seguiu os mesmos procedimentos explicitados acima.
        
        Procedimentos
        
        Procedimentos adotados pelo profissional no atendimento às crianças./ A opinião dos atendentes sobre os produtos existentes./ Comportamento das crianças durante a compra./ A preferência das crianças./ A influência dos adultos acompanhantes./ Principais fatores para a decisão do produto
        
        Critério de escolha dos atendendes
        
        Para a seleção dos pesquisados foram priorizados óticas com atendimento exclusivo para o público infantil e em seguida consideradas lojas que oferecem, dentro de seu ambiente, um espaço diferenciado ao atendimento desse público. A busca e a seleção dos estabelecimentos foram realizadas por internet e por recomendação dos oftalmopediatras. Assim, foram consideradas cinco entrevistas realizadas na cidade de São Paulo sendo: uma
        ótica exclusivamente infantil, três com áreas destinadas ao atendimento de crianças e a entrevista com Miguel Giannini, considerado o ‘esteta’ ótico no Brasil, e proprietário de uma ótica homônima.
      - Oftalmopediatras
        
        Método
        
        Foi a entrevista individual, também intitulada entrevista com especialistas (ABRAS, MALONEY-KRICHMAR, PREECE, 2004 ; SURI, 2003), a mesma auxilia na descoberta de diferentes pontos de vista sobre determinado fato utilizada para obter experiências individuais detalhadas, a exemplo de escolhas pessoais e biografias(BAUER, GASKELL,2012).
        
        Procedimentos
        
        Nessa pesquisa o mesmo foi realizado através das seguintes etapas: preparação dos tópicos/perguntas guias, seleção e contato dos profissionais, realização das entrevistas com gravação de áudio, transcrição da gravação e análise do conteúdo obtido. Na preparação das questões foram elencados os tópicos de interesse:
        
        As patologias mais recorrentes que implicam no uso dos óculos./ O comportamento das crianças ao passar pela consulta médica e ao receberem a notícia de que usarão óculos./ Possíveis problemas decorrentes das armações./ O grau de interferência que o profissional exerce na escolha/orientação das armações./ O conhecimento e suas sugestões sobre e para o produto.
        
        Critério de escolha do profissional
        
        O critério estabelecido para a definição dos profissionais foi que os mesmos devessem atender em hospitais e, de preferência, com especialização em oftalmologia, pressupondo disponibilidade para participar da pesquisa e colaborar com as informações, sendo então identificados profissionais pelo site do Conselho Brasileiro de Oftalmologia–CBO. As entrevistas foram realizadas com seis participantes, vinculados a quatro diferentes instituições: Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, Universidade Federal de São Paulo-UNIFESP, Hospital do Servidor Público Estadual-São Paulo e Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo HC.
      - Cuidadores
        
        Método
        
        O método adotado foi o questionário impresso que consiste em definir um conjunto de pessoas que representam um grupo e uma série de perguntas relativas à situação social, profissional ou familiar e às opiniões desse grupo (QUIVY e CAMPENHOUDT, 1998) sendo uma solução de coleta sem a necessidade da presença (e do contato) com os pesquisados.
        
        Objetivo
        
        O método objetivou coletar informações a respeito de como esses adultos observam o uso do produto pela criança no dia-a dia e nos outros contextos em que o produto está inserido, como o acompanhamento da patologia e a compra do produto.
        
        Procedimento
        
        Na etapa inicial foram definidos tópicos para serem abordados nas questões que compunham o questionário:
        A descoberta da patologia./ O início do uso./ Rotina do uso./ Relatos de situações constrangedoras enfrentadas pelas crianças./ Comportamento ao ir adquirir o produto./ Fatores que influenciam na escolha da armação./ Acidentes com o produto./ Limpeza do produto.
      - Crianças usuárias de óculos
        
        Método
        
        O primeiro método foi o Storytelling, que é considerado uma ferramenta de narrativa, utilizada em vários campos do conhecimento, da pedagogia até o marketing, e também nas referências do DCH. O Storytelling une análise e síntese (PARRISH, 2006), onde as estórias são sempre baseadas em fatos extraídos da vida tanto de experiências particulares quanto de observações. Assim, estas estórias podem ser tidas como forma de investigação a qual, além das análises possíveis, traz elementos do mundo, juntos com imaginação.
        
        O método foi realizado com 30 crianças, 15 meninas e 15 meninos, a aplicação aconteceu pelo envio de instruções por email para alguns cuidadores de crianças que usam óculos e haviam sido identificados e também com a visita em escolas. Em ambos os casos foi solicitado que as crianças escrevessem a estória sem a interferência dos adultos.
        
        Posteriormente, o conteúdo gerado foi avaliado por análise de conteúdo, e toda a informação agrupada em categorias.
        
        O segundo método aplicado com as crianças foi adaptado para o contexto da pesquisa, mas sua essência se assemelha ao método denominado prototipar para empatia, referenciado pela D.School (2016). Nesta prática é possível obter empatia do usuário através o desenvolvimento de protótipos ou criando situações específicas projetadas para ganhar empatia sem,
        necessariamente, testar uma solução. Na presente pesquisa, o método consistiu em apresentar partes da armação para as crianças com o intuito de que as mesmas fizessem a combinação que mais lhes agradasse e, posteriormente, justificassem esta preferência, de forma escrita. O intuito do método foi observar as preferências formais do produto do ponto de vista do usuário, sem a interferência encontrada no momento da escolha do produto na ótica
      - Triangulação
        
        Com a finalização de cada um dos métodos acima foram obtidos resultados prévios, para a etapa final e objetivando definir as diretrizes para os projetos de óculos infantis, todas as informações foram sistematizadas através de triangulação. Dentre os tipos de triangulação existentes foi adotada, a denominada triangulação metodológica que é definida como a utilização de mais de dois métodos para estudar o mesmo fenômeno sob investigação; este tipo é amplamente utilizado nas ciências sociais no momento da coleta de dados (HUSSEIN, 2009). A triangulação metodológica pode, portanto, ser concebida como o uso de diferentes tipos de métodos para responder a diferentes questões decorrentes de uma única teoria (RISJORD, MOLONEY e DUNBAR, 2001).
  - - - Esta pesquisa foi realizada com pacientes dos ambulatórios da Retina e Mácula da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP.
    - - Primeira Fase - Conversas Informais guiadas por entrevistas
        semiestruturadas
        
        Após revisão de literatura e levantamento com profissionais da área da saúde, o diagnóstico inicial foi baseado em conversas informais com 25 pacientes com 60 anos ou mais, escolhidos aleatoriamente, por um período de 2 meses. Esta etapa buscou reconhecer e entender as demandas de pacientes com o problema da autoadministração de medicamentos e elencar pré-requisitos para o desenvolvimento de futuras soluções. Este tipo de abordagem faz parte de métodos de observação e estratégias de campo de pesquisa qualitativa, e devem ser conduzidas com naturalidade. As questões devem ser introduzidas de modo fácil sem ser intrusivo e previsível, e o pesquisador/observador deve ser disciplinado e não interferir e inferir nos significados presentes na fala dos participantes (PATTON,2001).
        
        A pesquisa utilizou uma lista de assuntos a serem abordados, ligados ao indivíduo, seu tratamento no ambulatório e questões específicas ao dia a dia para lidar com o problema da administração de medicamentos.
      - Segunda Fase - Metodologia Operacional do design
        
        Com as informações obtidas na etapa anterior, foi criada e desenvolvida uma solução de projeto para o problema verificado da autoadministração de medicamentos, utilizando a metodologia operacional do design (MUNARI, 2008; BAXTER, 2005). Após a definição da ideia do produto foi realizado um workshop com U/E para delinear as soluções de projeto (EIKHAUG et al., 2010; FLETCHER, 2016).
        
        O evento foi realizado com dez participantes, sendoos mesmos cegos ou com baixa visão, na seção “Olhos para Cidadania - Design Assistivo e Inclusão Social” do 35º SIMASP/SP. Ao final deste workshop, foi definido junto aos U/E quais seriam as características físicas do protótipo. Foi solicitado ao usuário que diferenciasse diferentes cartões com cores, para elencar as de mais fácil distinção. Para avaliar as texturas e compreender quais foram os padrões que geraram maior interesse do usuário, foram utilizados quatro pré-requisitos: agradabilidade, conforto, distinção rápida e gosto, segundo os critérios de Kurosu e Kashimura (1995) e Connell et al., (1997).
        
        As cores escolhidas e aplicadas ao produto foram as que obtiveram maior número de acertos, e as texturas que foram melhor avaliadas nos pré-requisitos previamente estipulados foram selecionadas para serem aplicadas ao protótipo.
      - Terceira Fase - Entrevistas Estruturadas e Narrativas
        
        Após criada uma solução, foi desenvolvido e distribuído um protótipo para 10 pacientes que o utilizaram por um mês. O uso foi avaliado em dois encontros por meio de entrevista estruturada com perguntas abertas com base em métodos da pesquisa social e qualitativa que se apresentarem como importantes ferramentas para gerar conteúdo, abrir espaço para narrativas, apresentar conceitos, e/ou avaliar o uso de um objeto (PATTON, 2001; BAUER e GASKELL, 2010). O resultado destas entrevistas, foi transcrito e avaliado utilizando três tipos de análise: de conteúdo, técnica utilizada para contabilizar a frequência impressões, opiniões e palavras colocadas pelo narrador (BARDIN, 2011 ; BAUER e GASKELL, 2010) de uso, ou análise da tarefa (BAXTER, 2005), que faz uma leitura das facilidades e complexidades do objeto e das interações deste com seu usuário e de discurso, para organizar, interpretar e avaliar o conteúdo transcrito (BAUER e GASKELL, 2010).