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Literatura - Coggle Diagram
Literatura
O conto da Ilha desconhecida
1.
Como fica evidente durante a leitura do conto, Saramago emprega uma pontuação muito diferente do que
normalmente encontramos em contos e romances: ele usa poucos pontos finais, separa as falas dos diálogos
por vírgulas, não usa pontos de exclamação ou de interrogação e, por fim, costuma não indicar quem está
falando. Essas características peculiares fazem com que o leitor tenha que prestar mais atenção na leitura e
raciocinar a respeito dos sentidos que o diálogo possui. Há muitos exemplos no conto: no diálogos entre o rei
e o homem, entre a mulher e o homem, entre o capitão do porto e o homem etc.
2.
2.
Em seu conto, Saramago não atribui a nenhum personagem um nome próprio. Esses sujeitos são geralmente
chamados pelas funções sociais que ocupam no mundo: rei, mulher da limpeza, capitão do porto,
marinheiros. Ao não nomear os personagens, o autor não individualiza as críticas e comentários que faz em
relação a eles; pelo contrário, a crítica é generalizada. A esse tipo de personagem que representa toda uma
classe de figuras da sociedade damos o nome de tipo social.
3.
3.
A casa do rei possui três portas: a das petições (pedidos), a dos obséquios (favores) e a das decisões. Na
porta dos pedidos, ficam enfileirados os homens miseráveis e necessitados. Eles têm que esperar por longos
dias antes de serem atendidos pela mulher da limpeza, que abre a porta e recebe os pedidos. Enquanto isso,
o rei fica na porta dos obséquios recebendo favores, recompensas, títulos, terras, soldados, influências etc.
Essa divisão já revela o caráter corrupto do rei, que não se importa com sua população, estando mais
interessado em aumentar seu poder; enquanto isso, a fila da porta dos pedidos aumenta. Geralmente, o rei só
atende os pedidos quando a população começa a reclamar em excesso, fato que pode manchar a imagem do
monarca.
4.
Ao receber um pedido, a mulher da limpeza transmite a palavra para uma série de ajudantes e ministros, uma
verdadeira pirâmide burocrática que atrasa a comunicação das falas para o rei. Saramago, aqui, critica a
lentidão que certos tipos de organizações burocráticas podem promover, fato que reforça a tomada de
decisões e, consequentemente, amplia a desigualdade social. Além disso, o fato de a mulher da limpeza ser o
ponto mais baixo dessa hierarquia de poder indica que Saramago quis fazer um pequeno apontamento crítico
a respeito do machismo estrutural ligado à constituição do poder do rei. A opressão sofrida pela mulher
também ocorre quando o rei vai assinar seu cartão de visitas para entregar ao homem: o regente usa a
mulher de mesa, humilhando-a. É essa cena e a coragem do protagonista que fazem com que ela sai pela
porta das decisões.
5.
Durante a leitura, percebemos que o homem não estava de fato indo em busca de uma ilha desconhecida
real, geográfica. Pelo contrário, sua busca é existencial. Há duas metáforas importantes que justificam essas
interpretação:
1a metáfora ⇒ na página 34, a mulher da limpeza associa a imagem do barco a um corpo (“as velas são os
músculos do barco);
2a metáfora ⇒ nas páginas 40 e 41, tanto o protagonista quanto o filósofo do rei indica que “todo homem é
uma ilha”.
Unindo essas duas metáforas, concluímos que viver é navegar (barco) em busca de si (ilha
desconhecida). Estamos em constante busca de quem somos no mundo, tentando dar sentido às nossas
existências. No fim do conto, o homem e a mulher, agora apaixonados, dão o nome da caravela de A Ilha
Desconhecida.
Manoel Bandeira