"Como figura edipiana, a Mula-Marmela, pela sua hybris, alcança um lugar acima do homem, ao livrar o vilarejo, onde habita, de todo tipo de miasma; entende-se aqui, o marido e o enteado como representações da mácula. Por outro lado, agindo assim, colocando-se acima do homem, torna-se ela uma miasma, que, como em Édipo, deve ser expiado, inscrevendo-se, a partir de então, como ápolis, que, lançada para fora da coletividade, encarna a figura do excluído." p. 106
"É a dicção lírico-contemplativa seguida da reflexão que leva o texto a se abrir a um mundo mais amplo em termos sociais e metafísicos, a que se referia Rosenfeld. Há, assim, uma projeção do discurso para um adiante, um tempo futuro em que os habitantes do vilarejo e nós leitores, assim como os gregos clássicos, experimentamos o prazer causado pela emoção artística que, em uma palavra, chama-se catarse." p. 109
"Perfaz-se, desta maneira, a tríade rosiana, levando-nos a concluir que, assim como as gerações Labdácidas, também a família de Marmela encarna a figura mítica do coxo com sua dualidade. Se por um lado, ser coxo se adiante às outras formas de locomoção, por rolar em todas as gerações ao mesmo tempo, por outro, ao transgredir as limitações a que está submetido o andar reto, ele avança claudicante para cair no final..." p. 117