O STF reconheceu a existência de inúmeras mulheres grávidas e mães de crianças que estavam cumprindo prisão preventiva em situação degradante, privadas de cuidados médicos prénatais
e pós-parto. Além disso, não havia berçários e creches para seus filhos.Também se reconheceu a existência, no Poder Judiciário, de uma “cultura do
encarceramento”, que significa a imposição exagerada e irrazoável de prisões provisórias a mulheres pobres e vulneráveis, em decorrência de excessos na interpretação e aplicação da
lei penal e processual penal, mesmo diante da existência de outras soluções, de caráter humanitário, abrigadas no ordenamento jurídico vigente.A Corte admitiu que o Estado brasileiro não tem condições de garantir cuidados mínimos
relativos à maternidade, até mesmo às mulheres que não estão em situação prisional.Diversos documentos internacionais preveem que devem ser adotadas alternativas penais ao
encarceramento, principalmente para as hipóteses em que ainda não haja decisão condenatória transitada em julgado. É o caso, por exemplo, das Regras de Bangkok.
Os cuidados com a mulher presa não se direcionam apenas a ela, mas igualmente aos seus filhos, os quais sofrem injustamente as consequências da prisão, em flagrante contrariedade
ao art. 227 da Constituição, cujo teor determina que se dê prioridade absoluta à concretização dos direitos das crianças e adolescentes.
Diante da existência desse quadro, deve-se dar estrito cumprimento do Estatuto da Primeira Infância (Lei 13.257/2016), em especial da nova redação por ele conferida ao art. 318, IV e V, do CPP, que prevê:Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:IV - gestante;V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. Os critérios para a substituição de que tratam esses incisos devem ser os seguintes: REGRA. Em regra, deve ser concedida prisão domiciliar para todas as mulheres presas que sejam: a) gestantes; b) puérperas; c) mães de crianças (menores de 12 anos); d) mães de pessoas com deficiência. EXCEÇÕES: Não deve ser autorizada a prisão domiciliar se:1) a mulher tiver praticado crime mediante violência ou grave ameaça;2) a mulher tiver praticado crime contra seus descendentes (filhos e/ou netos);3) em outras situações excepcionalíssimas, as quais deverão ser devidamente fundamentadas pelos juízes que denegarem o benefício. Obs1: o raciocínio acima explicado vale também para adolescentes que tenham praticado atos infracionais. Obs2: a regra e as exceções acima explicadas também valem para a reincidente. O simples fato de que a mulher ser reincidente não faz com que ela perca o direito à prisão domiciliar.STF. 2ª Turma. HC 143641/SP. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/2/2018 (Info 891).
Cabe reclamação caso algum juiz ou Tribunal descumpra essa decisão do STF no HC coletivo?
NÃO. O STF, com o objetivo de se proteger do grande número de reclamações que receberia, afirmou expressamente que, “nas hipóteses de descumprimento da presente decisão, a ferramenta a ser utilizada
é o recurso, e não a reclamação”