O conhecimento de si mesmo não tem auto-imagem porque ele não acaba mais. Você é um centro percipiente e agente, por assim dizer, um interlocutor de Deus e está aberto para uma dimensão infinita; você não tem mais figura.
Aluno: Assim é dito que, antes de analisar-se a si mesmo com minúcia psicoterapêutica, por assim dizer, é mais importante a confissão propriamente dita, a pergunta sincera de si para si, na base do “você conta um pedacinho e o observador onisciente descortina o resto”. Pois bem, qual a diferença prática entre a confissão e a real análise, isto é, a auto-análise psicoterapêutica?
Olavo: A auto-análise psicoterapêutica pode ser um elemento prévio da verdadeira confissão. A verdadeira confissão pressupõe o ouvinte onisciente e, portanto, você sabe que o que está dizendo é fragmento. É ele que vai completar a sua imagem, porque você só tem unidade diante de Deus. As unidades que nós vamos tendo durante a nossa vida são fragmentos. Aliás, tudo o que nós conhecemos nesse mundo são fragmentos e, no entanto, temos o senso da unidade do real e o senso da nossa própria unidade. Se você somar tudo o que você conhece a respeito de si mesmo não comporá uma unidade nem uma forma substancial. Esta forma não é um elemento do conhecimento, é um elemento da realidade, e você apreende a forma substancial só como círculo de latência, não como forma substancial inteira. Estar aberto para a apreensão dessas formas substanciais é a mesma coisa que estar se abrindo para a sua própria forma substancial, que só Deus conhece, e que você vai conhecendo à medida que esse confronto com o observador onisciente abra a sua alma. Tudo o que você puder aprender em Psicologia pode ser útil para isso. Nada é perdido, não despreze nenhum tipo de conhecimento, nunca! Mesmo tudo o que comentei aqui sobre a Ciência, eu não desprezo nada, acho isso tudo de certa maneira maravilhoso. Por mais burro que seja, eu não me recuso a obter esses conhecimentos, ao contrário, eu os busco. Hugo de São Vítor diz que, quando era moleque, tinha a mania de anotar tudo o que diziam para ele e tudo o que ele via – milhões de coisas e de detalhes insignificantes. Ele mesmo estranhava tanta coisa, mas descobriu mais tarde que tudo era útil. Quaisquer conhecimentos obtidos ao longo do caminho podem ajudar. Não desprezem nada, sobretudo não façam como Al Ghazali, que diferencia certas formas inferiores ou superiores de conhecimento. Quem é superior ou inferior é você e o que você faz com esses conhecimentos.
Quando nós falamos, por exemplo, da modalidade de conhecimento científico proposta por Bacon, ela só é inferior se comparada com outra que a abrange e que não a desmente, senão não seria inferior. O que é superior, por definição, contém e abrange. Não estou contrastando dois modos, eu só estou colocando um dentro do outro. Estou dizendo que todo o conhecimento dito científico só adquire sentido se colocado dentro da Ontologia Geral. Não estou dizendo: “em vez de fazer ciência temos de fazer ontologia geral. Aqui existe um modo que é A ontologia geral e ali existe outro, que é Ciência”. Não! É tudo a mesma coisa. Agora, se você tentar seguir o tal do conhecimento científico isoladamente e proclamar que ele, por si mesmo, é o articulador do conjunto, você está muito doido.