Quando nós entramos no terreno das teorias históricas, sociológicas, políticas etc., então aí a coisa vira um Deus nos acuda. Em geral, nessas discussões, o que nós estamos vendo é o uso de figuras de linguagem que expressam expectativas, anseios e sentimentos de certos grupos ou pessoas, mas cuja relação com a realidade da experiência é extremamente problemática. Eu já contei para vocês o que aconteceu comigo quando estava estudando Geometria no ginásio. Um professor explicou que um ponto não media nada, mas que, somando-se vários pontos, obtinha-se uma reta. Isso me deu vinte anos de problemas; mais problemas ainda porque o professor dizia que essas noções eram intuitivas. Com intuitivas ele queria dizer “eu não sei defini-las”. Para mim, intuitivo é tudo o que está claro, patente e auto-evidente pela sua simples presença; mas o intuitivo pode, às vezes, ser usado no sentido de não racional, ou não definível. Então, aquilo era intuitivo neste sentido, quer dizer, é misterioso, o que para significa exatamente o não- intuitivo, eu não estou intuindo nada. Eu voltei a ter esta mesma experiência inúmeras e inúmeras vezes em livros de ciências naturais e ciências humanas, ou seja, rarissimamente você vê alguém que está empenhado em entender realmente o assunto do qual está falando. Isso não quer dizer que essa multidão de livros não contenha conhecimentos úteis, verdadeiros e até essenciais, mas, em primeiro lugar, como regra geral você deve considerar tudo isso como discurso poético. São figuras de linguagem para tudo quanto é lado: uma coisa quer dizer outra, que quer dizer outra, que quer dizer outra, e cujo sentido último evanesce, desaparece em névoas, e, no entanto, nós conseguimos mais ou menos nos orientar nesse mundo.