Esta identidade do ritual e do jogo era reconhecida sem reservas por
Platão, que não hesitava em incluir o sagrado na categoria de jogo. "É preciso tratar com seriedade aquilo que é
sério", diz ele16. "Só Deus é digno da suprema seriedade, e o homem não passa de um joguete de Deus, e é esse o
melhor aspecto de sua natureza. Portanto, todo homem e mulher devem viver a vida de acordo com essa natureza,
jogando os jogos mais nobres, contrariando suas inclinações atuais. Pois eles consideram a guerra uma coisa séria,
embora não haja na guerra jogo ou cultura dignos desse nome17, justamente as coisas que nós consideramos mais
sérias. Portanto, todos devem esforçar-se ao máximo por viver em paz. Qual é, então, a maneira mais certa de
viver? A vida deve ser vivida como jogo, jogando certos jogos, fazendo sacrifícios, cantando e dançando, e assim o
homem poderá conquistar o favor dos deuses e defender-se de seus inimigos, triunfando no combate18."