Aluno: Foi depois de atender a quase todas as necessidades da vida e assegurada as coisas que contribuem para o conforto e a recreação que começou-se a buscar o conhecimento.
Olavo: Aristóteles de fato diz isso, mas, note bem, essa coisa tem mais gravidade do que está dado no texto. Podemos pegar essa frase e aplicar o exercício de meditação.
Pode-se interpretar isso no sentido imediato de que é preciso atender algumas necessidades básicas para que se tenha algum lazer, algum tempo livre, mas pode-se entender isso também como uma coisa mais profunda. Por exemplo, se você pega uma comunidade onde a luta pela vida é demasiado intensa, as pessoas vivem sob o terror da fome, o terror da miséria, o terror da morte etc., isso evidentemente não favorece o desenvolvimento de uma atitude mais serena e mais superior, necessária para buscar o conhecimento. Quer dizer que há um certo impedimento que não é causado pela pobreza em si ou pela luta pela vida em si, mas que é causado pelo medo.
Então, não é só atender a necessidade econômica imediata, mas é necessário um certo recuo, por exemplo, perante a natureza. Você pensa que índio adora a natureza, está se sentindo muito bem ali? Pelo contrário, eles estão aterrorizados com aquilo. O estado de terror perante a natureza não permite a atividade filosófica, ou seja, somente depois de você estar protegido dentro de um recinto urbano é que você tem uma certa distância, e é somente essa proteção que possibilita o surgimento do contraste natureza-sociedade.
Tem ainda um terceiro elemento: o indivíduo precisa ter alcançado um certo domínio sobre a situação material e econômica para que desenvolva a confiança na capacidade de organização racional, isso quer dizer que, se em nossa vida estamos sempre a mercê de situações imprevisíveis e não conseguimos a constância de produzir os mesmos resultados pelo mesmo procedimento racional, não seremos também capazes de obter uma confiança em nossa capacidade racional. Você precisa adquirir essa confiança também.
Tudo isso e muito mais do que isso está subentendido nessa frase de Aristóteles, então nunca compreendam essa frase no sentido apenas vulgar. Porque senão o sujeito vai ler e vai pensar: “Ah, então primeiro eu preciso ganhar dinheiro para depois me dedicar à atividade filosófica.” Se você fizer isso, muito provavelmente você não vai ganhar dinheiro nenhum e muito menos será filósofo. [04:10] Isso porque dominar uma situação econômica não significa ter dinheiro, significa dominá-la interiormente, psicologicamente, não permitindo que ela te afete mais. Então, o que importa não é ter o dinheiro, mas a confiança nos próprios meios de ganhar dinheiro. É não ter mais medo da miséria, não ter mais medo da pobreza. Para chegar a isso é preciso que você atravesse, pelo menos imaginativamente, pelas duas situações: ser muito pobre para só depois ser rico. Eu, há muito tempo, já perdi o medo disso porque eu sei como é que se faz, eu sei me virar na sociedade. Eu só vou ganhar o dinheiro suficiente para me manter, e que não me tomem todo o tempo, evidentemente.
Lembro um vez que eu perdi o emprego no Rio de Janeiro e fiquei na miséria total, ferrou tudo. Eu fiz o seguinte: peguei mulher e filho, mandei-os para casa de meu cunhado e pedi que me dessem seis meses para levantar a situação e trazê-los de volta. Não levei seis, mas três meses apenas, porque eu não tenho mais medo. Se você for esperar para ficar rico primeiro para perder o medo, pode demorar mais tempo e você pode ficar com mais medo ainda.
Portanto, o que interessa é o fator subjetivo e não a quantidade de dinheiro que você tem. O que precisamos adquirir é uma compreensão da sociedade humana e uma compreensão pessoal suficiente para acalmar nossos terrores econômicos, porque o terror econômico impede o indivíduo de raciocinar, mas acontece que pode-se ter terror econômico sendo um milionário: esses sujeitos que quando a bolsa entra em queda eles se matam. Eu digo: “Mas você não sabe fazer di