Aluno: Não sei se essa pergunta cabe aqui, mas, enfim, encaminho. O senhor fala não só no Seminário, mas em outros veículos, a respeito da falência educacional. Um dos meus anseios nesse Seminário é preparar melhor não só para mim, mas para orientar meu filho para não cair nas armadilhas já montadas no ensino brasileiro. Ao mesmo tempo é um modelo horrível que existe no Brasil de hoje. Como fazer para que meu filho possa estar melhor preparado para não cair de plano nas armadilhas que caí? Não sei se estou sendo claro, mas sei que vários colegas do Seminário, como eu, também têm filhos. Eu encaminho a questão porque é algo que me deixa angustiado.
Ninguém pode dar o que não tem. Nós não podemos nos retirar para o plano da suprema beatitude do entendimento, então não podemos evitar a contaminação no besteirol contemporâneo, na decadência contemporânea, na sujeira contemporânea. Não podemos, não podemos em hipótese alguma. E só o que devemos fazer é confessar permanentemente esse estado de degradação. Cada vez que você confessa, Deus abre uma portinha para você, para você melhorar um pouco. Na verdade é só isto. Eu conheço pessoas que, por exemplo, proíbem os seus filhos de ver televisão, e que pretendem manter os seus filhos numa redoma de pureza; só o que elas fazem é tornar esses filhos indefesos perante este mundo. Nós não podemos fugir da experiência humana — experiência do mal, do pecado etc. —, não podemos. O próprio Cristo fala: “Não resistais ao mal” — veja que coisa importante isso aqui. Você vai se contaminar no mal e não é você que vai se limpar se mantendo dentro de uma redoma, é Deus que vai limpar você. E ele vai limpar você quando? Quando você confessar. Não estou falando necessariamente da confissão ritual, porque a confissão ritual só se o sujeito se confessar cinco, seis, sete, oito vezes por dia, mas tem um padre em casa para fazer isso; isso não é possível.
A confissão ritual é apenas a oficialização, por assim dizer, de um confissão que já foi feita por dentro — eu estou falando da confissão interior. Então é esta confissão que permite que você saia um pouquinho da miséria contemporânea [01:30], e esse pouquinho é decisivo. O importante não é estar livre dela, não é manter-se puro e intacto, porque se você tenta fazer isso as coisas pioram ainda mais. O importante é a confissão para que Deus o limpe. Se você fizer isso permanentemente, seus filhos verão o que você está fazendo: que você não é melhor do que os outros, mas está fazendo uma coisa um pouquinho melhor; e eles seguirão você. É este exemplo que você tem de dar, de que consegue perceber a miséria dos meios social e cultural não externamente, mas em você mesmo. Então, você estará continuamente limpando-se daquilo. Não com o espírito de revolta, de indignação, mas de paciência consigo mesmo: você sabe que não se irá livrar disso tudo de uma só vez, que não será puro e intacto, que não será arrebatado para a suprema beatitude do conhecimento. Você sabe que compartilha do pecado do seu tempo e o carrega dentro de si.
Por exemplo, eis um grande pecado do nosso tempo: todos aqueles que estão contra as tendências revolucionárias, malignas, contra a ambição gnóstica de dominar o mundo, todos eles, com freqüência, cedem à linguagem dessa mesma atitude e tentam expressar-se na linguagem do inimigo, porque não têm uma própria. Você só vai desenvolver uma linguagem própria se continuamente confessar a realidade para si mesmo e para Deus, criando assim uma voz própria, sem precisar adaptar-se a uma linguagem que já está corrupta e que foi feita para corromper pessoas.